Micro Cosmo
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22/05/95

< Um terreno Baldio >


Imagine um grande prédio de escritórios. Um edifício de dezenas de andares com centenas de salas comerciais, situado no centro de um terreno utilizado como estacionamento. O estacionamento é enorme, suficiente para abrigar os veículos dos funcionários e visitantes. Do terraço do último andar você olha em volta e vê um imenso terreno plano, com centenas de automóveis alinhados um ao lado do outro em fileiras regulares. As fileiras se dispõem harmoniosamente, deixando entre elas espaço suficiente para os veículos circularem. Tudo muito ordenado, muito arrumado, muito prático. Então você repara melhor e percebe que não há nada disciplinando as fileiras, vias de acesso e vagas para veículos além de algumas linhas amarelas que se destacam claramente sobre o asfalto negro e delimitam as vagas. São elas que transformaram aquele simples terreno asfaltado em um estacionamento, um local onde os carros podem circular e estacionar ordenadamente. O terreno é o mesmo. Mas sem as linhas não passa de um terreno baldio e seria impossível organizar nele um estacionamento.

Quando saem da fábrica, os discos que irão armazenar nossos arquivos nada mais são que discos de um material qualquer com as superfícies recobertas por uma camada magnetizável. Neles, nada foi gravado ainda. A discos assim chamamos de “virgens”. Nesse estado são como o terreno do estacionamento sem as linhas amarelas. Da mesma forma que o terreno pode conter um certo número de carros, os discos podem armazenar um certo número de bytes. Mas, assim como é necessário desenhar as linhas amarelas no terreno para saber onde estacionar os veículos, é preciso marcar nas superfícies magnéticas dos discos os locais onde irão se localizar suas trilhas e setores. A isso chama-se “formatar” o disco.

A formatação é um processo análogo à marcação das linhas no terreno do estacionamento: consiste em marcar, na superfície do disco, as diversas trilhas e subdividi-las em setores. Porém, como se trata de um meio magnético, as marcações serão feitas igualmente por processos magnéticos. Ao se formatar um disco virgem, a cabeça magnética irá se deslocar sobre a superfície do disco, percorrendo cada uma das trilhas e gravando nelas as marcas magnéticas que delimitam cada setor da mesma maneira que as linhas amarelas delimitam as vagas do estacionamento.

Em princípio, a coisa é muito simples. E, nas primeiras versões do DOS, era de fato muito simples: você introduzia o disco no drive, comandava FORMAT e o disquete era formatado (a primeira versão do DOS não suportava discos rígidos, portanto o comando FORMAT somente se aplicava a disquetes, os únicos discos magnéticos existentes). E não fazia diferença se o disco era virgem ou houvesse sido previamente formatado: ao receber o comando, o sistema agia rigorosamente da mesma forma.

Mas acontece que, originalmente, o comando FORMAT era tremendamente destrutivo. Porque, além de gravar no disco as marcas que delimitam os setores, ele gravava um novo setor de boot e os setores da FAT e diretório raiz (indicando que todas as entradas estavam vagas), além de “limpar” o conteúdo de todos os demais setores do disco. Ou seja: toda e qualquer informação previamente gravada seria perdida. Em um disco virgem, evidentemente, isso não fazia a menor diferença. Mas nada impedia que um disco previamente formatado e contendo arquivos fosse submetido a uma nova formatação. Na verdade, esse sempre foi um procedimento rotineiro para remover informações previamente gravadas em um disquete antes de usá-lo para outro fim qualquer. Mas acontece que, dependendo do que estivesse gravado no disco, o resultado poderia ser absolutamente desastroso (se eu ganhasse um mísero centavo cada vez que se formatou por engano um disco flexível ou rígido contendo informações importantes e dados insubstituíveis foram perdidos eu seria um homem muito, muito rico). Por essa razão o comando FORMAT evoluiu com as novas versões do sistema operacional.

Pois a partir da semana que vem, vamos começar a destrinchá-lo em todos os seus detalhes.

B. Piropo