Micro Cosmo
Volte
07/08/95

< Formatação Física >


Talvez a mais importante diferença entre discos rígidos e flexíveis seja a maneira como eles são formatados. Pois quando se trata de discos flexíveis, formatar é formatar e temos conversado: o sistema operacional grava na superfície magnética as marcas que limitam cada setor de cada trilha e depois, em setores predeterminados, grava as informações que servem para gerenciar os arquivos, como tabela de alocação de arquivos, diretórios, setor de boot e coisas que tais. Quando se trata de discos rígidos tudo se passa mais ou menos da mesma forma, porém em duas fases distintas. Pois há dois tipos completamente diferentes de formatação de discos rígidos: a formatação física e a formatação lógica, duas operações independentes. Tão independentes que são separadas por uma terceira, chamada “particionamento”. Mas não se assuste que a coisa é mais simples do que parece e logo estará devidamente destrinchada.

A formatação física, também conhecida por “formatação em baixo nível”, consiste em gravar na superfície magnética do disco rígido as informações necessárias para subdividi-lo em trilhas e setores, ou seja: as marcas no início e final de cada setor e os intervalos entre trilhas e setores. E nada mais. Ou seja: ela não se preocupa com nada que diga respeito aos dados que serão gravados no disco - quem vai se preocupar com esses detalhes é a formatação lógica, ou de “alto nível”. Em outras palavras, para a formatação física não existe o conceito de arquivos: tudo o que ela “sabe” é que o disco é subdividido em setores onde podem ser gravados um determinado número de bytes (sempre 512, como sabemos). E agora uma boa nova: se seu disco é IDE, EIDE ou SCSI, como é mais que provável, você não precisa se preocupar com a formatação física. Ela é feita na fábrica e se você tentar executá-la o disco simplesmente se recusará a aceitá-la (o que é bom, pois se você conseguir formatar fisicamente um disco IDE, EIDE ou SCSI, provavelmente irá danificá-lo seriamente ou até mesmo inutilizá-lo permanentemente; portanto, a não ser que você tenha certeza que seu disco rígido é MFM ou RLL, jamais tente formatá-lo físicamente).

Quantas faces, trilhas e setores tem seu disco rígido? Você só vai precisar dessas informações uma única vez: ao instalá-lo no micro, quando será preciso informar, através de um procedimento denominado “setup” que um dia discutiremos, o tipo do disco e suas características físicas. Daí para a frente elas nunca mais irão lhe interessar. E pior: por estranho que pareça, no caso dos discos IDE ou EIDE, as informações fornecidas ao micro são tão falsas e mentirosas quanto as juras de amor de galã de gafieira. Esquisito, pois não? Mas é verdade. E embora não seja indispensável conhecer as razões disso, vamos discuti-las só para aumentar nossa cultura micreira.

Imagine uma pizza. Ainda na fôrma, mas já dividida em fatias. Agora, trace duas circunferências imaginárias, ambas com o centro coincidindo com o centro da pizza, uma próxima a ele, outra próxima à periferia. As circunferências representam duas trilhas. As linhas que separam as fatias representam os limites dos setores. Agora preste atenção no tamanho dos setores, quer dizer, no comprimento do “pedaço” da circunferência que corresponde a cada setor. E repare: os setores da trilha mais interna, traçados sobre uma circunferência menor, são muito menores que os setores da trilha mais externa. E como cada setor tem sempre 512 bytes, das duas uma: ou os bytes dos setores das trilhas de dentro ficam demasiadamente espremidos, ou sobra espaço nos das trilhas de fora. E como todos os setores têm que ter total confiabilidade, a conclusão só pode ser uma: há um enorme esperdício de espaço nas trilhas externas.

Agora, enquanto come a pizza, imagine uma forma de resolver esse problema. Fácil, não? Basta fazer todos os setores com o mesmo comprimento, suficiente para gravar os 512 bytes com confiabilidade, para que toda a área do disco seja bem aproveitada. Só há um inconveniente: com setores de mesmo comprimento, as trilhas externas, que correspondem às circunferências mais longas, conterão mais setores que as internas. Portanto as trilhas terão um número diferente de setores dependendo de sua posição em relação ao centro do disco: quanto mais próximas, menos setores. A esse recurso, que aumentou a capacidade dos discos eliminando o desperdício, denominou-se “multiple zone recording”, ou gravação em múltiplas zonas.

O problema é que os micros só “entendem” discos com o mesmo número de setores por trilha, ou seja, não são capazes de acessar discos cujas trilhas comportem diferentes números de setores. Mas não há dificuldade intransponível, especialmente no caso dos discos modernos, que incorporam a eletrônica de controle: basta incluir nos chips que controlam o acesso aos setores as informações necessárias para “traduzir” a posição do setor e da trilha. Ou seja: a máquina manda, por exemplo, ler o conteúdo do vigésimo setor da centésima trilha da face um. Os circuitos de controle “enganam” a máquina, traduzindo isso para a localização real do setor, movimentam a cabeça de leitura/gravação para lá, lêem a informação, a transferem para a memória como se estivesse na posição solicitada e tudo segue na santa paz. E como o que interessa são os dados, e não sua localização, a máquina prossegue sua faina sem problemas e todos são felizes para sempre.

Pois é isso. Semana que vem discutiremos as partições e seus mistérios.

B. Piropo