Sítio do Piropo

B. Piropo

< Mulher de Hoje >
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06/1993

< Um Pouco de História >


Hoje, microcomputadores são quase tão comuns como qualquer outro eletrodoméstico. Mas você já parou para pensar como tudo isso começou?

Pois é uma história interessante. Os primeiros computadores eram cheios de válvulas. Você se lembra das válvulas? Pareciam lâmpadas e moravam dentro dos antigos rádios e televisores. Acendiam e esquentavam. E, sobretudo, como as lâmpadas, "queimavam" com uma desagradável regularidade e precisavam ser trocadas. Se isso era uma chateação no rádio e TV, com uma dúzia delas, imagine em um computador, com dezenas de milhares. Por isso essas máquinas eram imensos trambolhos eletrônicos. Ocupavam salas inteiras e com uma desagradável freqüência tinham que ser desligadas para trocar uma válvula queimada. Eram raras e caríssimas.

Foi então que, em 1948, dois engenheiros americanos inventaram um negócio genial chamado transístor: fazia o mesmo que a válvula, mas era menor, não esquentava, consumia pouca energia e, sobretudo, não "queimava" freqüentemente. E reduziram brutalmente o porte dos computadores, que passaram a ser do tamanho de um armário. Mas um armário grande, nada parecido com os micros de hoje.

Para que o tamanho e o custo diminuíssem ainda mais foi preciso esperar até 1959, quando os técnicos da Texas Instrument, uma grande companhia americana do ramo da eletrônica, descobriram como "combinar" mais de um transístor em um só componente. Essa pequena jóia foi batizada de "circuito integrado". Se um dia você espiar dentro de seu computador, vai encontrar um monte deles: pequenos objetos de formato retangular, cheios de "perninhas" ou contatos soldados em uma grande placa esverdeada. O primeiro continha apenas seis transistores. Os modernos podem conter milhões (sem exagero: o Pentium, o novo microprocessador da Intel, é um circuito integrado do tamanho de um biscoito "cream cracker" que abriga mais de três milhões de transistores).

Agora, para chegar aos computadores modernos, só faltava uma coisa: dotar os circuitos integrados de alguma "inteligência". Mas não se iluda: um computador é tão burro como qualquer geladeira. É que a palavra inteligência aqui tem um sentido particular: significa apenas a propriedade de efetuar algumas operações em uma certa seqüência. A isso se chama "programar" o circuito, ou seja, "embutir" nele um conjunto de instruções. Um circuito integrado capaz de fazer isso chama-se "microprocessador" e é o coração dos microcomputadores modernos.

O primeiro deles foi produzido em 1971 pela Intel, uma empresa americana especializada em circuitos integrados. O mais interessante nisso tudo é que ela não tinha a menor idéia da revolução que estava iniciando: seu objetivo foi apenas simplificar as coisas. Pois acontece que tinha recebido de uma indústria japonesa de máquinas de calcular a encomenda de desenvolver doze circuitos integrados diferentes, e achou que seria mais barato integrá-los em um só, programável, capaz de executar todas as funções dos doze encomendados.

Pronto: o caminho estava aberto para a produção dos computadores pessoais. Pois, agora que já havia microprocessadores, bastava usar um deles como "Unidade Central de Processamento" do computador. Com um microprocessador para gerenciar as tarefas principais e mais algumas dezenas de circuitos integrados auxiliares para fazer o restante, poder-se-ia fabricar um microcomputador. E não faltou quem o fizesse.

O primeiro era pouco mais que um brinquedo: chamava-se Altair e não tinha nem teclado nem vídeo. Foi produzido em 1975 e pouco fazia além de piscar luzes em um painel em uma seqüência programada. Mas logo depois, em 1976, apareceu o primeiro micro digno do nome: o Apple I, da Apple Computers, que hoje fabrica os micros da linha MacIntosh. Depois surgiram outros, inclusive o popular TRS-80 da Radio Shack.

Essas máquinas, para os padrões de hoje, eram rudimentares. Mas abriram um enorme mercado. Que acabou por chamar a atenção da IBM, então a empresa líder na fabricação de computadores de grande porte. Que não brinca em serviço: se era para entrar no mercado de micros pessoais, então que fosse em grande estilo. E assim foi feito.

Em agosto de 1981, há pouco mais de dez anos, portanto, a IBM concebeu a máquina que iria revolucionar o mercado mundial de computadores pessoais: o IBM PC. Hoje em dia, um desses micros é um item de colecionador. E pode ser considerado uma máquina limitadíssima. Mas era um portento para os padrões da época. Fabricados nas instalações industriais da IBM em Boca Raton, na Flórida (hoje transformadas em um centro de pesquisas), os primeiros PC venderam mais que bolinho quente. E, como resultado de um erro de avaliação da IBM, proliferaram como coelhos.

Porque erro de avaliação? Fácil: naqueles tempos pioneiros, ninguém poderia prever o sucesso dos micros pessoais. Muito menos a IBM, que resolveu não arriscar em um caro projeto que poderia não dar certo. Por isso, ao invés de desenvolver um sistema proprietário, resolveu fabricar seu micro usando componentes disponíveis no mercado. Que funcionou muito bem, mas não poderia ser patenteado, já que qualquer um poderia comprar os mesmos componentes e montar um micro inteiramente compatível (ou seja, que rodasse os mesmos programas que os ótimos e caros PC da IBM). Esses micros "IBM compatíveis" foram chamados "clones". E, por serem baratos, foram os verdadeiros responsáveis pela enorme disseminação da informática pessoal.

O sucesso trouxe dinheiro para a indústria de micros. O dinheiro provocou a competição. E a competição obrigou a evolução. O resultado você conhece: micros cada vez menores, mais baratos e mais poderosos.

Mas tudo começou com aqueles monstrengos recheados de válvulas e emaranhados de fios. Quem diria que um dia um bicho daqueles caberia em meu bolso...

B. Piropo