Sítio do Piropo

B. Piropo

< Ele E Ela >
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10/1992

< Sopa de Letras >


Dos classificados: "Vendo PC 486DX 50MHz, 4Mb de RAM, HD SCSI de 80Mb, BIOS AMI e MS-DOS 5.0". Mas, afinal, que diabo esse cara está vendendo?

Profissionais e especialistas se comunicam por meio de uma linguagem própria, quase um código. Termos que demonstram intimidade com suas atividades. Usá-los pode ser uma forma de economizar longas descrições. Ou apenas esnobismo, um jeito de mostrar que se pertence ao clube, que se é um iniciado. Portanto era de se esperar que a informática desenvolvesse seu jargão próprio. O problema é que a turma está exagerando: os anúncios - e alguns artigos de revistas especializadas - parecem codificados. Tudo o que se vê são siglas. Mais parecem sopa de letras...

De uma certa forma, a coisa se explica: os micros pessoais começaram a se popularizar nos EUA. E embora a maioria deles, hoje em dia, seja made in Asia, os EUA ainda são o grande centro irradiador da cultura micreira. E americano se amarra numa sigla. Acreditem ou não, já tropecei, nas entranhas de um respeitabilíssimo livro técnico, com a sigla SNAFU. Que, para quem não sabe, significa "Situation Now Already Fucked Up"...

O resultado disto é desastroso. Pois o clubinho dos iniciados que abusa das siglas acaba por assustar os principiantes. E com razão: afinal, a informática já padece do estigma de "ser muito complicada" - uma grande bobagem que, de tanto ser repetida, acabou por assumir foros de verdade. Se, além disto, o pobre coitado se depara com uma montoeira de siglas aparentemente sem nexo, termina por achar que nem vale a pena começar.

Pois não é nada disto. O cabra lá de cima está vendendo um computador pessoal (PC, de Personal Computer) cujo circuito principal é do tipo 486, um circuito capaz de processar maior quantidade de informações que seus antecessores. Por isto é um DX (que não é uma sigla, mas um tipo). E faz isto muito rapidamente: opera em uma frequência de cinqüenta milhões de ciclos por segundo (50MHz, de Megahertz, múltiplo da unidade de frequência). Tem grande capacidade de armazenar informações internamente: sua "memória", na qual pode-se ler e escrever dados (RAM, de Random Access Memory), pode acumular até quatro milhões de bytes, ou informações elementares (4Mb, de Megabytes). Além disto, traz um dispositivo para guardar informações de forma permanente, um disco rígido (HD, de Hard Disk) que armazena até oitenta milhões de bytes (80 Mb) e se comunica com os circuitos principais da máquina através de circuitos auxiliares, ou interface, de um tipo especialmente desenvolvido para pequenos computadores (SCSI, de Small Computer System Interface). A máquina troca informações com o usuário e periféricos, como discos e impressoras, usando um programa que forma seu sistema básico de entrada e saída (BIOS, de Basic Input/Output System) desenvolvido por uma firma especializada, a American Megatrends Inc (AMI). E vem com a versão número cinco de um programa capaz de controlar a máquina e gerenciar os outros programas, o sistema operacional, desenvolvido por outra firma especializada, a Microsoft (MS-DOS 5.0, de Microsoft Disk Operating System 5.0). Se você não tem alguma intimidade com a informática, talvez não saiba o que é interface ou para que serve um disco rígido. Mas aposto que agora a coisa pelo menos faz algum sentido.

Está certo que o moço do anúncio quisesse economizar uns trocados e abusasse das siglas. Os tempos andam bicudos e anúncio serve para vender, não para explicar. Mas aqui nesta coluna vou fazer o possível para evitar complicações desnecessárias. Sempre que usar uma sigla, ou, no mínimo, da primeira vez que usá-la, vou esclarecer do que se trata da forma mais simples possível. E, se em algum momento, eu me deixar cair na tentação do jargão e parecer hermético, por favor avisem.

Pois siglas sem as devidas explicações são muito perigosas. Eu mesmo sei de um evento que dificilmente se realizará, e só por causa da sigla: a Feira de Utilidades Domésticas do Estado do Rio...

B. Piropo