Sítio do Piropo

B. Piropo

< Ele E Ela >
Volte

12/1992

< Sem Título - Interface >


Interface é o nome que se dá à forma do usuário se comunicar com o computador. Quem assistiu ao filme 2001 conheceu a interface ideal, o sonho de todo micreiro: HAL, o computador que conversava com os usuários. Há quem diga que um dia chegaremos lá. Mas eu não creio: por mais que a chamada "inteligência artificial" se vire, a linguagem coloquial comporta nuances que jamais serão compreendidas por um computador. Além de depender essencialmente do contexto. O exemplo clássico é a frase em inglês "I can fish". Como seria ela interpretada pela máquina? Tanto "Eu sou capaz de pescar" como "Eu enlato peixe" seriam possíveis e gramaticalmente corretas.

Do ponto de vista da interface, HAL era o que os técnicos em computação chamariam de "amigável" (se bem que, pelo seu comportamento no filme, eu me inclinaria mais a chamá-lo de "sonso"). O oposto da forma clássica de se interagir com a máquina, emitindo comandos crípticos diante de um prompt. As interfaces gráficas ficam a meio caminho: nem tão amigáveis quanto HAL, nem tão inamistosas quanto a linha de comando.

Os que usam os micros da linha Macintosh já há muito se acostumaram à sua interface gráfica. Já para a linha PC, somente há cerca de dois anos, depois de umas tantas tentativas um tanto canhestras, surgiu a primeira interface gráfica realmente usável: a versão 3.0 de Windows, da Microsoft. Que já evoluiu para a versão 3.1, incorporando notáveis melhorias e tornando-se um enorme sucesso comercial.

A ideia por trás de Windows é simples: o computador continua sendo uma máquina complexa, mas suas complexidades são escondidas do usuário. Acabam-se os comandos e a necessidade de memorizá-los: na maior parte das vezes as ações são representadas por figuras (ou "ícones"). Para usar Windows é necessário um mouse (você pode fazê-lo sem ele, mas com a mesma facilidade que consertaria um relógio usando luvas de boxe). O mouse é um objeto com dois botões, que cabe na palma da mão e pode ser arrastado sobre a superfície da mesa. Um cursor na tela acompanha os movimentos do mouse. Executa-se uma ação movendo o cursor para o ícone que a representa e apertando (ou "clicando") um dos botões do mouse. O que é muito mais fácil que digitar um comando complicado no teclado.

Mas não é só isto: há também os menus. Todo programa feito para Windows usa uma série de menus padronizados: aprenda como gravar um arquivo em um destes programas e já aprendeu em todos os outros. E o mouse também facilita o uso de menus: um clique sobre o nome de uma opção ou desencadeia imediatamente a ação correspondente ou abre um novo menu com mais uma série de opções. Não é tão intuitivo quanto um ícone, é verdade, mas desobriga o usuário de memorizar uma infindável série de comandos: eles estão sempre à distância de um ou dois cliques, e podem ser executados com mais um clique sobre seu nome, evitando os erros de digitação.

Mas, a meu ver, a maior facilidade trazida pelas interfaces gráficas como Windows não está no uso intuitivo dos ícones e menus. Pois sua ação de "interface" não se esgota na intermediação entre o usuário e a máquina, mas vai bastante além: uma boa interface gráfica funciona também como intermediária entre os programas e periféricos. Cujas vantagens são enormes. E serão discutidas na próxima coluna.

B. Piropo