Sítio do Piropo

B. Piropo

< Jornal Estado de Minas >
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01/05/2003

< Internet rápida sem fio: >
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WiMAX e 802.16
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Quando a Internet começou a se popularizar, a única forma de acesso era a conexão através da linha telefônica e modem. O que, para páginas apenas de texto como as que então se usava, era mais que suficiente. Mas, assim que foram desenvolvidos meios de criar páginas com conteúdo multimídia (figuras, animações, sons e mais o que a imaginação mandar), tornaram-se evidentes as limitações da transmissão através da linha telefônica comum, cuja taxa máxima é limitada em 56 quilobits por segundo (Kb/s) por razões técnicas. Era necessário um acesso mais rápido. Surgiram então os diversos sabores de Internet rápida (também conhecida pela infeliz expressão “banda larga”) que usam conexões por cabo, satélite, rádio e ADSL (essa última usando o mesmo par de condutores do telefone comum, mas transmitindo em outra faixa de freqüência para escapar da limitação dos 56Kb/s). Cada uma delas tem suas vantagens e, sobretudo, desvantagens. Todas são relativamente rápidas, mas nenhuma satisfaz plenamente. O que realmente gostaríamos de ter é um acesso à Internet rápida que dispense cabos, fios, modems, conversores ou trapizongas afins. No máximo seria aceitável uma pequena placa controladora espetada em um slot de uma máquina de mesa ou em uma das entradas (PC Card, USB ou Firewire) de um micro portátil.
Pois graças ao padrão IEEE 802.16, recentemente aprovado, e ao consórcio WiMAX, esse ideal está mais perto do que parece. Se forem bem sucedidos, em um par de anos teremos acesso sem fio à Internet rápida em praticamente qualquer parte, pelo menos nos grandes centros urbanos, simplesmente encaixando uma placa controladora WiFi, do tamanho de um cartão de crédito, no conector PC Card de nosso micro portátil – ou algo equivalente em nosso micro de mesa. E mais nada.
O padrão 802.16, aprovado pelo IEEE (Institute for Electrical and Electronics Engineers) em dezembro de 2001, regulamenta a tecnologia usada para o estabelecimento de redes metropolitanas (ou MAN, de “Metropolitan Area Network”) que usam Internet rápida sem fio (ou BWA, de “Broadband Wireless Access”). Seu nome oficial é “IEEE Standard 802.16 - Air Interface for Fixed Broadband Wireless Access Systems”. De acordo com ele, uma “estação base” 802.16 pode alimentar diversos “pontos de presença” da Internet que aderem à tecnologia 802.11(padrão WiFi). Trocando em miúdos: tome uma conexão à Internet rápida, via cabo ou fibra ótica, ligue-a a uma estação base 802.16 e espalhe em torno dela dezenas de pontos de presença 802.11. A estação base transmite os dados para os pontos de presença, que funcionam como retransmissores, alimentando computadores móveis ou de mesa que disponham de uma placa controladora WiFi. Conexões deste tipo denominam-se “ponto-para-multiponto” (“point-to-multipoint”). Até agora, os pontos de presença 802.11 tinham que ser alimentados por cabo ou DSL (Digital Subscriber Line), o que exigia a implementação de uma pesada infra-estrutura para cobrir áreas extensas, já que o alcance de um ponte de presença WiFi se restringe a poucas centenas de metros. O advento do padrão 802.16 permite alimentá-los através de uma conexão sem fio, pois o alcance de dispositivos 802.16 chega a cerca de 50 Km (31 milhas) usando uma faixa de freqüência de 2 GHz a 66 GHz para conexões que vencem obstáculos físicos (conexões NLOS, ou “Non-Line-Of-Sight”) e alcançam taxas de até 70 Mb/s. Isso é suficiente para alimentar simultaneamente dezenas de corporações com taxas de transmissão equivalentes a conexões T-1 (1.500 Kb/s) ou centenas de residências com taxas de transmissão equivalentes a conexões ADSL usando um único setor de uma estação base (estações base 802.16 geralmente comportam seis setores).
Espera-se que chipsets (conjunto de circuitos integrados) para controlar sistemas aderentes ao padrão 802.16 transmitindo na faixa de 10 GHz a 66 GHz estejam disponíveis até o final deste ano (isso porque originalmente o padrão cobria apenas essa faixa de freqüência; em janeiro deste ano foi aprovado um adendo, denominado 802.16a, que reduz o limite inferior da faixa para 2 GHz mas se estende somente até 11 GHz e cobre uma distância máxima de apenas 40 Km, ajustando automaticamente a potência da transmissão de acordo com a distância). Segundo Roger Marks, presidente do grupo de trabalho responsável pela regulamentação do acesso sem fio à Internet rápida em artigo no sítio do IEEE, disponível em
<http://standards.ieee.org/announcements/80216abwa.html>,
“O novo padrão 802.16a revoluciona o panorama do acesso sem fio. Ele cobre o hiato da ‘primeira milha’, fornecendo ao usuário um meio fácil de instalar de acesso sem fio ao coração de redes de conteúdo multimídia. O padrão desempenhará um papel vital em regiões subdesenvolvidas, que não dispõem de infra-estruturas avançadas de conexão via cabo”.
Mas um padrão nada mais é que um conjunto de regras e especificações sobre uma dada tecnologia e sua simples existência não basta para que a tecnologia se estabeleça. É preciso implantá-lo na prática. Uma tarefa que exige não apenas a divulgação de suas vantagens e mobilização da indústria como também a execução de tarefas práticas, como a certificação de componentes e testes que garantam a interoperabilidade de dispositivos de diferentes fabricantes. E a indústria considera o padrão 802.16 tão importante que acaba de criar uma instituição destinada especificamente a facilitar sua implementação.
Essa instituição é o WiMAX, ou Worldwide Interoperability for Microwave Access Forum (Fórum Mundial de Interoperabilidade para Acesso via Microondas). Criado em junho de 2002, o Fórum acaba de realizar seu primeira Congresso, o “2003 Broadband Wireless World”, ocorrido na segunda semana de abril, em San Jose, Califórnia, e apresenta uma intensa programação de eventos para o futuro próximo (confira em
<www.shorecliffcommunications.com/>).
Segundo seus responsáveis, o Fórum foi criado com o objetivo específico de “promover o desenvolvimento em grande escala de redes de acesso rápido sem fio operando acima de 2 GHz apoiando-se em um padrão global e na certificação da interoperabilidade de produtos e tecnologias”. Ou seja: fazer não somente a disseminação da tecnologia, através de sua divulgação, mas também a parte prática da coisa, atuando como um centro de testes e homologação de dispositivos e tecnologias. A função do Fórum é justamente prover aquilo que a simples existência do padrão não garante: testes de compatibilidade e operabilidade, certificando e homologando produtos e tecnologias que efetivamente adiram ao padrão. Segundo artigo de Kurt Mackie publicado na Broadband Wireless Online, em
<www.shorecliffcommunications.com/magazine/news.asp?news=1544>,
o Fórum WiMAX pretende revolucionar a indústria das redes metropolitanas rápidas sem fio fazendo por elas algo semelhante ao que a aliança WiFi fez pelas redes locais sem fio.
O quadro de membros do WiMAX será formado por pessoas e organizações que defendam publicamente o padrão 802.16 e pretendam fabricar ou desenvolver equipamentos a ele aderentes. Portanto, em tese, qualquer pessoa pode se filiar. Mas, naturalmente, hoje ele é formado exclusivamente por empresas. Os membros atuais são Airspan, Alvarion, Aperto Networks, Ensemble Communications, Fujitsu, Hughes Network Systems, Intel, Nokia, OFDM Forum, Proxim Wireless Networks, Telnecity Group e Wi-LAN. A presença da Intel, com sua recente ênfase em produtos ligados à tecnologia sem-fio, e de gigantes do porte da Nokia e Fujitsu, garante que a coisa vai para a frente.
Com o padrão IEEE 802.16 em plena vigência e com o esforço do WiMAX para difundir a tecnologia subjacente, não se espante se você desfrutar de um acesso sem fio à Internet rápida mais cedo do que pensa. Com a disponibilidade dos primeiros dispositivos prevista para o final deste ano e com a disposição do WiMAX para testá-los e homologá-los, não duvido que redes sem fio baseadas em pontos de acesso WiFi ligados a estações base 802.16 se disseminem por todo o mundo e dentro de poucos anos esse tipo de acesso se torne tão comum quanto o discado.
É esperar para ver.

B. Piropo