Sítio do Piropo

B. Piropo

< Jornal Estado de Minas >
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03/06/2004

< Comunicação Sem Fio >


Guglielmo Marconi nasceu em Bolonha, Itália, há exatos 130 anos. Em 1895, após estudar as teorias de Maxwell, Hertz e Righi, conseguiu transmitir sinais a uma distância de pouco mais de dois quilômetros sem a utilização de fios. Foi a primeira transmissão de rádio conhecida.
A tecnologia evoluiu rapidamente. No início do século passado, os primeiros aparelhos de rádio atraiam pessoas maravilhadas pelo aparente milagre de ouvirem palavras pronunciadas quase no mesmo momento em outros continentes (não, eu não cheguei a presenciar tais acontecimentos, mas sou obrigado a confessar que ouvi o relato da boca de pessoas que os presenciaram).
Depois, o fenômeno da comunicação sem fio passou a se integrar de tal forma às nossas atividades diárias que hoje nem mais prestamos atenção a eles.

A Era Wireless
Qualquer grandeza pode ser representada por um número (senão, não seria uma “grandeza”). E números podem ser expressos em qualquer sistema numérico. O que inclui o sistema binário, um sistema numérico posicional (em que o valor de um algarismo depende de sua posição relativa aos demais) de base dois (que utiliza apenas os algarismos – ou dígitos – um e zero) usado internamente pelos computadores, que se sentem mais à vontade manipulando grandezas que assumem apenas dois estados (ligado/desligado; carregado/descarregado e assim por diante, como a maioria das grandezas elétricas).
A ação de codificar grandezas do mundo real em números binários chama-se “digitalizar”. Toda criação do engenho humano pode ser digitalizada, desde este texto banal que você está lendo até as mais magníficas manifestações de genialidade, como a produção literária de um João Ubaldo (cada caractere ou sinal gráfico representado por um número), a Mona Lisa de da Vinci (cada ponto da imagem representado por um número correspondente à sua cor) e a Ária da Quarta Corda, de Bach (onde as notas são codificadas em números que representam suas freqüências, intensidades e durações). E toda informação digitalizada pode ser armazenada e processada por computadores ou transmitida de um computador a outro.
Há diversas formas de transmitir informações. O telefone, por exemplo, converte o som em impulsos elétricos que trafegam pelo fio e são reconvertidos em som no destino. Isso pode ser feito de duas formas: a analógica, na qual os impulsos elétricos que percorrem o fio variam de forma análoga à variação do som transmitido, e a digital, na qual o som é digitalizado na origem, ou seja, transformado em números binários, que são transmitidos pelo fio sob a forma de impulsos elétricos que correspondem aos dígitos um e zero que formam esses números, e reconvertidos em som no destino. Esse tipo de transmissão é muito mais fiel, já que permite usar técnicas de verificação e correção de erros em cada número transmitido.
Computadores podem ser ligados em rede e trocarem dados entre si. Uma rede local convencional usa condutores elétricos (cabos) para transportar informações digitalizadas. Mas, da mesma forma que o som pode ser transportado através de condutores (telefone) ou usando radiação eletromagnética (rádio), as informações digitalizadas que trafegam em uma rede podem ser transportadas com ou sem o uso de fios ou cabos.
Há diversos meios de transmitir informações entre computadores sem o uso de fios (“wireless”, em inglês). Todos eles usam uma forma de “radiação” (transmissão de energia de um ponto a outro sem suporte físico) que vão desde a radiação infravermelha (usada pelo padrão IrDA, estabelecido pela Infrared Data Association, de onde derivou o nome) até a eletromagnética (usada, por exemplo, pelo padrão Bluetooth, criado para comunicação entre dispositivos situados a pequenas distâncias). A que está se disseminando mais rapidamente é a conhecida popularmente pelo nome de WiFi.

O Padrão WiFi
WiFi é o nome comercial usado para designar um conjunto de padrões desenvolvidos pelo comitê 802.11 do IEEE (Institute of Electrical and Electronic Engineers). A função deste comitê é padronizar protocolos e equipamentos para serem usados nas redes locais sem fio, ou “Wireless LANs”. O nome deriva de “HiFi”. Se você sabe o que é isso, ou é um jovem muito bem informado ou não é um jovem: HiFi é o acrônimo de “High Fidelity”, o nome usado no início da segunda metade do século passado para designar os equipamentos de som de alta qualidade, que “tocavam” os discos LP. A intenção do nome WiFi é evocar “Wireless Fidelity”, chamando a atenção para a qualidade e confiabilidade da comunicação.
Hoje a designação é usada para três padrões que diferem apenas quanto a rapidez da transmissão, alcance e freqüência da radiação usada. O mais antigo (e o único regulamentado no Brasil pela Anatel) é o 802.11b, que adota a freqüência de 2,4 GHz e consegue transmitir dados a 11 Mb/s. O seguinte, 802.11a, opera em 5,2 GHz e chega a 54 Mb/s. O mais recente é o 802.11g, que busca compatibilizar os dois anteriores (consegue se comunicar com ambos, mas se houver um único dispositivo 802.11b em uma rede com diversos 802.11a, o fluxo de dados máximo em toda a rede cai para 11 Mb/s).
O alcance do padrão WiFi não permite transmissão de dados a longa distância (para isso a Intel criou um outro padrão, conhecido por WiMax), já que restringe-se, na melhor das hipóteses, a poucas centenas de metros. Mas, como a radiação eletromagnética atravessa obstáculos (como paredes de alvenaria), é o suficiente para eliminar um dos grandes inconvenientes das redes locais convencionais: o cabeamento. Com WiFi é possível criar uma rede local inteiramente sem fio que pode se estender desde os limites de uma sala até abranger todo um prédio ou um conjunto de edificações, como um campus universitário.

Redes WiFi
Para montar uma rede WiFi é preciso um ponto de presença (ou “ponto de acesso”) que troca informações com um ou mais transceptores (ou “controladoras”) WiFi. O ponto de presença pode ser um roteador de rede, que pode se comunicar apenas com os transceptores WiFi ou ser misto, aceitando tanto conexões sem fio quanto conexões convencionais por cabos.
Em pequenas redes não hierárquicas, como redes domésticas ligadas à Internet por conexões de alta taxa de transmissão (“banda larga”), o roteador é conectado ao computador que originalmente recebia a conexão externa à Internet, que passa a ser ligada diretamente ao roteador. As demais máquinas recebem os transceptores, controladores de rede capazes de se comunicar com o roteador por meio de conexões sem fio. Em máquinas de mesa, o transceptor se conecta diretamente a um dos “slots” da placa-mãe ou a uma porta USB. Em micros portáteis (“notebooks”) ou de mão (“palmtops” ou PDAs), o transceptor pode ser integrado ao dispositivo (a maioria dos notebooks e PDAs modernos vêm com suporte WiFi integrado, a começar pelos que usam o padrão Centrino, da Intel) ou usar controladores tipo PC Card.
Versões modernas de sistemas operacionais, como Windows XP e 2000, oferecem suporte nativo ao padrão WiFi. Micros dotados de uma controladora WiFi rodando um desses sistemas são capazes de detectar automaticamente a presença do sinal e oferecem utilitários para gerenciar a conexão. Windows 98, Me e NT necessitam da instalação de drivers para este fim.
A um único ponto de presença podem se conectar dez a vinte usuários, mas quanto maior o números de usuários simultâneos, mais lenta é a conexão de cada um deles, já que o fluxo de dados é dividido entre todos. Para efetuar uma conexão não é preciso a visada direta entre o transceptor e o ponto de presença. Pode haver obstáculos entre eles, inclusive móveis e paredes. Mas quanto maior a distância e mais obstáculos, mais difícil será conectar. Paredes de alvenaria não bloqueiam o sinal, porém paredes inteiriças de concreto podem fazê-lo. Da mesma forma, vegetação (árvores entre prédios vizinhos ou paredes cobertas com hera ou trepadeira), assim como reservatórios de água, podem causar sérias atenuações ou bloquear inteiramente o sinal.
Em redes públicas, como as disponíveis em hotéis, aeroportos, centros de convenções e outros locais de grande afluência de público, o ponto de presença conecta-se a um servidor, que por sua vez está conectado à Internet. Dispositivos móveis equipados com uma placa controladora WiFi podem se conectar ao servidor (e, através dele, à Internet ou a uma rede local) enquanto permanecerem no raio de alcance do ponto de presença.
No Brasil, o principal provedor de serviços WiFi através de rede pública é a Vex, que oferece mais de duzentos pontos de presença (veja a lista completa em <http://www.pointernetworks.com.br/cobertura/>), quase nada frente aos dezenas de milhares disponíveis apenas nos EUA. Para ter acesso à rede da Vex é preciso contratar o serviço com um provedor Internet a ela associado, como o Terra, WiFiG, aJATO, Brturbo Asas ou Velox wi-fi.

 

B. Piropo