Sítio do Piropo

B. Piropo

< Jornal Estado de Minas >
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05/05/2005

< POET 6000: o micro de um só fio >


Há algum tempo, para usar seu computador em rede, você precisava de pelo menos dois cabos: o da própria rede, em geral um cabo CAT-5 (“Categoria 5”) adotado em redes que obedecem ao padrão Ethernet (já voltamos a falar dele) e outro para ligar o micro à tomada.

De repente apareceu a tecnologia WiFi (já escrevemos sobre ela aqui mesmo, em artigos que estão disponíveis na seção “Escritos” de meu sítio, em < www.bpiropo.com.br >), um padrão de comunicação sem fio que eliminou um dos cabos, o da rede. E simplificou tanto o estabelecimento de redes que vem se disseminando avassaladoramente.

Pois bem, agora surge uma idéia que vem na contramão da WiFi: eliminar o outro cabo, o de alimentação, porém mantendo o da rede. São os dispositivos que usam a tecnologia PoE.

PoE é o acrônimo de “Power over Ethernet”, que deve ser entendido como “Alimentação (elétrica) via Ethernet”. Detalhes podem ser obtidos na página “What is Power-over-Ethernet (PoE)?”, em < www.hyperlinktech.com/web/what_is_poe.php >. Aqui abordarei apenas os pontos essenciais.

Ethernet é o padrão mais amplamente usado em todo o mundo para comunicação de computadores em rede. Foi criado nos anos setenta por dois técnicos do legendário Xerox PARC (Palo Alto Research Center, ou Centro de Pesquisas de Palo Alto), Bob Metcalfe e David Boggs. Ele dominou o mercado de tal maneira que as placas controladoras Ethernet são conhecidas por “placas de rede”, ou seja, na prática “Ethernet” tornou-se sinônimo de “rede de computadores”. Se seu micro tem uma porta que permite conectá-lo a uma rede, é quase certo que seja uma “porta Ethernet”, consubstanciada na forma de um conector fêmea tipo “RJ- 45” com oito contatos, no qual se encaixa o “cabo da rede” (cabo CAT5) através de um conector macho de mesmo tipo.

O RJ-45 é um conector padronizado que pode ser usado para diversas finalidades (inclusive redes telefônicas). O padrão Ethernet o adotou por ser simples, barato e fácil de ser encontrado. Mas, quando empregado em redes de computadores, só usa quatro de seus oito contatos para transmitir dados (especificamente os de número 1-2 e 3-6). Os quatro restantes, pares 4-5 e 7-8, permanecem livres.

Pois bem: a idéia que norteia o tecnologia PoE é usar esses quatro pinos livres para alimentar o dispositivo ligado à rede. E é simples. Em um ponto da rede instala-se um injetor de corrente (“injector”), em geral um retificador de corrente alternada (muito semelhante aos “eliminadores de bateria” usados para ligar à rede elétrica dispositivos à pilha) que aplica uma tensão constante aos pares do RJ-45 não usados pela rede. Resultado: na outra ponta do cabo, os contatos correspondentes a esses pares podem fornecer tensão ao dispositivo ligado ao outro conector RJ-45, que a aplica a um coletor de corrente (“picker”), cuja função é encaminhá-la aos circuitos devidos, dispensando assim qualquer outra alimentação, já que absorve a corrente fornecida pelo próprio conector Ethernet. Ou seja: “power over Ethernet”, ou PoE.

Por enquanto a coisa está em seus estágios iniciais e ainda longe de algo que se possa chamar de “padrão”. De fato, ainda não foram padronizadas as tensões de alimentação (os dispositivos atuais usam tensões de doze a 48 volts) e nem sequer determinados que terminais serão usados para aterramento e para alimentação. Exceto a potência máxima consumida pelo dispositivo, limitada a 15,4 Watts pela especificação atualmente aprovada, cada fabricante adota seus próprios valores. Mas a idéia é tão interessante que, ao que tudo indica, vai vingar (se você quiser saber como montar artesanalmente um “injetor” de 12 V para alimentar um dispositivo via PoE, visite < www.nycwireless.net/poe/ >).

A tecnologia foi concebida para dispositivos de baixo consumo de energia e pequena tensão de alimentação usados em locais onde não há necessariamente uma tomada de energia disponível. O exemplo mais ilustrativo talvez sejam as câmaras de vigilância que transmitem imagens de vídeo usando o protocolo IP, ligadas diretamente à rede. Ou telefones que utilizam a tecnologia VoIP (Voz sobre IP). Ou ainda “pontos de presença” para redes sem fio padrão WiFi. Mas nada impede que seja empregada para alimentar computadores. Exceto, evidentemente, a potência consumida por eles, que costuma andar na casa das centenas de watts.

Esse problema, no entanto, foi contornado de maneira inteligente pela DSP Design (em < www.dspdesign.com/home >), uma empresa britânica fabricante de computadores dedicados (“embedded computers”) especializada em desenvolver computadores para equipamentos científicos e industriais. Que acaba de lançar o POET 6000, um computador que consume apenas 13 watts e por isso pode usar a tecnologia PoE (veja detalhes em < www.dspdesign.com/products/product_detail?product_id=118 >).

Para chegar a este consumo prodigiosamente baixo a DSP Design selecionou os componentes em função da demanda de energia. O dispositivo principal de entrada e saída é uma tela de cristal líquido sensível ao toque (“touch-screen”) brilhante, porém pequena (apenas 6,4 polegadas, mas há outros tamanhos disponíveis). O microprocessador é um Geode sem ventoinha para dissipação de calor. E o dispositivo de armazenamento secundário (que desempenha o papel de disco rígido) é constituído por semicondutores (chips de memória tipo “flash”).  

O POET 6000 já vem com Windows XP instalado. Tem uma espessura de apenas 22 milímetros e como não possui partes móveis (nem ao menos o teclado, já que o dispositivo de entrada é a própria tela), é absolutamente silencioso. Através de suas duas portas USB, pode comunicar-se com quaisquer periféricos aderentes a este padrão (hoje em dia, quase todos são). E como já vem com o sistema operacional, dispensa qualquer tipo de instalação: basta ligá-lo a um conector RJ-45 que use a tecnologia PoE para que ele comece a funcionar imediatamente.

O POET 6000 é ideal para ser usado em terminais interativos instalados em quiosques de informações, pontos de venda e unidades industriais, mas pode ser instalado em qualquer local até aonde se possa estender um cabo de rede Ethernet, mesmo (e principalmente) onde não haja uma tomada de energia. Mas, na medida que a tecnologia PoE se desenvolver, estou certo que veremos esses micros pequenos e silenciosos espalhados por locais onde jamais suspeitaríamos encontrar um computador.

É aguardar para ver...

B. Piropo