Sítio do Piropo

B. Piropo

< Jornal Estado de Minas >
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16/06/2005

< Computação móvel >


Há quarenta anos Gordon Moore enunciou aquilo que mais tarde veio a ser conhecido como Lei de Moore: o número de transistores que podem ser integrados em um único circuito dobra em períodos regulares. O resultado disso é que ainda este ano a Intel estará produzindo o Itanium de núcleo duplo com a bagatela de 1,7 bilhões de transistores em um único circuito.

Mas a Intel não está se aproveitando da lei de Moore apenas para aumentar a capacidade de seus microprocessadores. Ela vem tirando dela uma outra vantagem que tem passado quase despercebida: a integração. Pois aumentar o número de transistores nos circuito pode também servir para aumentar a quantidade de funções que eles podem desempenhar. E, como enfatizou Oscar Clarke, Diretor Geral da Intel no Brasil na abertura do Intel’s Editor Day aqui mesmo em Belo Horizonte semana passada, a Intel não fabrica apenas microprocessadores. Pelo contrário, ultimamente ela tem diversificado sua linha de componentes eletrônicos e vem se destacando na fabricação dos “chipsets”, o nome que se convencionou dar aos circuitos auxiliares de uma placa-mãe de microcomputador. Circuitos esses que, há alguns anos, se limitavam a controlar a comunicação entre os principais componentes da placa-mãe mas foram pouco a pouco recebendo mais funções, como o controle dos dispositivos de áudio, de vídeo e de rede.

Essa tendência, cuja principal mola propulsora foi o advento dos computadores portáteis tipo “notebook”, cuja arquitetura interna eliminou os “slots” onde se encaixam as volumosas “placas controladoras”, sofreu um novo impulso com a disseminação da tecnologia de comunicação sem fio. E vincular computadores portáteis com comunicação sem fio é mais ou menos a mesma coisa que juntar fome com vontade de comer. Resultado: já há dois anos, com o lançamento da tecnologia Centrino para plataformas móveis, a Intel vem integrando comunicação sem fio no padrão WiFi aos seus chipsets, fazendo com que os micros portáteis se transformem em estações de trabalho independentes desde que se ponham no raio de ação de um “ponto de presença” de uma rede WiFi. E pretende, a curto prazo, estender esta capacidade às redes padrão WiMax.

Esta tendência é aquilo que a Intel chama de “explosão da mobilidade”. Que, segundo a empresa, é incentivada pelo simples fato de que as pessoas se movem e desejam que seus computadores as acompanhem mantendo a possibilidade de se comunicar com outros computadores. E na medida que se torna mais fácil carregar conosco os computadores e fazê-los se comunicar com os demais, aumenta nossa demanda por computadores móveis. Resultado: nos últimos dois anos a venda de notebooks cresceu a uma taxa de 17% ao ano, contra apenas 5% de crescimento da venda de computadores de mesa (“desktops”). E tendo em vista esta disparidade das taxas de crescimento, é fácil prever que ainda esta década o número de computadores portáteis superará o de micros de mesa. E mobilidade e conexão sem fio serão mais importantes do que nunca. Razão pela qual foram o tema central do Intel Editor’s Day.

O padrão WiFi já é nosso velho conhecido. Trata-se de uma conexão sem fio para redes locais. Seu nome oficial é 802.11 e seu alcance máximo teórico é de trezentos metros. Na prática, é bem menor que isso. Mas nem por isso é menos importante: além de facilitar extraordinariamente a implementação de redes locais, domésticas ou corporativas, eliminando a necessidade do cabeamento, permite acesso à internet em locais públicos, como aeroportos, hotéis e até mesmo cafés. Hoje, dispor de acesso sem fio padrão WiFi em um notebook é quase obrigatório.

Por isso a Intel o incorporou à sua tecnologia Centrino para plataformas móveis. Uma tecnologia que não se limita ao chipset, mas a todo um conjunto de dispositivos que incluem a linha Pentium M (de “Mobile”), com funções avançadas de economia de energia para aumentar a duração da carga de baterias, baterias mais duráveis, menor tamanho e, sobretudo, fácil conectividade.

Hoje, o padrão de comunicações sem fio incorporado à tecnologia Centrino é o WiFi. Mas, como enfatizou Ronaldo Miranda, Diretor de Marketing e Vendas para a América Latina em sua palestra no Intel Editor’s Day, brevemente será o novo padrão WiMax que virá incorporado ao próprio chipset dos notebooks que adotarem a tecnologia Centrino.

WiMax é um padrão para comunicações sem fio semelhante ao WiFi porém com alcance muito superior (teoricamente, 50 km). Ele não exige visada livre, ou seja, pode haver obstáculos físicos entre os pontos que se comunicam. É um padrão “banda larga”, de elevada taxa de transmissão (máximo teórico de 75 Mbits/s). Seu nome de fantasia, WiMax, deriva de “Worldwide Interoperability for Microwave Access”, mas o nome oficial é 802.16.

O padrão WiMax não é “da” Intel. É um padrão tão aberto quanto o WiFi e diversas instituições aderiram a ele (veja o WiMax Forum, em < www.wimaxforum.org/home >). Mas foi idealizado pela Intel e, ao que parece, hoje é sua menina dos olhos.

O padrão ainda está em desenvolvimento. Em 2004 ele foi definido em seus estágios iniciais. Este ano começaram os testes com equipamentos. E nos próximos dois anos começarão a aparecer os primeiros micros portáteis com suporte WiMax integrado. E, com a implementação do padrão 802.16e, ainda em elaboração, virão os primeiros celulares e dispositivos similares aderentes ao padrão.

Uma rede WiMax permite comunicação à longa distância. Para explicar como funciona vamos usar como exemplo o projeto Ouro Preto, uma iniciativa da Intel que conta com o apoio do Ministério da Educação, da Rede Nacional de Pesquisas, da Universidade de Ouro Preto, da Fundação Gocieux e da Prefeitura de Ouro Preto. Seu objetivo é, em um primeiro estágio, fornecer acesso à Internet à toda a rede municipal de ensino da cidade e, mais tarde, à toda a cidade. E tudo isso através de comunicação sem fio e alta taxa.

Ouro Preto foi escolhida por diversas razões, mas talvez as mais importantes sejam a topografia da cidade, situada em uma região montanhosa cheia de obstáculos naturais, e as dificuldades de se implantar uma rede cabeada em uma cidade histórica. Afinal, um patrimônio cultural da humanidade não se esburaca. Além disso, seu tamanho permite que toda a zona urbana seja coberta por uma única estação base situada no campus da Universidade de Ouro Preto.

O padrão WiMax permitirá o fornecimento de quatro tipos de serviços de telecomunicações. O primeiro deles é exatamente o que se está implementando em Ouro Preto: uma estação base troca dados com antenas transmissoras/receptoras situadas nas diversas escolas da rede municipal, que alimentam os computadores através de cabos. Posteriormente serão instaladas antenas em prédios públicos e em pontos selecionados da cidade, que poderão trocar dados com dispositivos tipo computadores fixos ou móveis tanto usando cabos quanto através do padrão WiFi, implementando uma rede que cobrirá toda a cidade.

O segundo serviço consiste na implementação de diversas estações base separadas por alguns quilômetros, que por sua vez se comunicarão com antenas situadas em pontos estratégicos que trocarão dados com os dispositivos fixos ou móveis através do padrão WiFi. Com um alcance teórico de até 50 km, um conjunto de meia dúzia de estações base convenientemente localizadas poderá cobrir inteiramente o território de uma cidade de alguns milhões de habitantes, provendo acesso à Internet em alta taxa em uma mescla das tecnologias WiMax (entre as estações base e as antenas WiMax) e WiFi (entre estas últimas e os “pontos de presença” WiFi).

O terceiro é o provimento de Internet a comunidades rurais. Uma estação base pode se comunicar com antenas em sedes de fazendas situadas a quilômetros de distância. Se levarmos em conta que o acesso se faz em alta taxa, a Internet pode ser usada não apenas para navegar pela rede mas também para a prestação de serviços de telefonia e transmissão de vídeo sobre IP. E, mesmo inteiramente isolado em uma área rural, o usuário poderá ter acesso a todos esses serviços através de uma única conexão WiMax.

Finalmente, o quarto serviço ainda depende do estabelecimento da versão 802.16e. Sua diferença em relação às que a antecedem (a versão atual, aprovada ano passado, é conhecida por 802.16.2004) é que ela permite manter a conexão mesmo mudando de estação base. Explicando melhor: de acordo com a versão atual, um dispositivo pode trocar dados com uma estação base até mesmo em movimento, desde que se mantenha no raio de ação daquela estação base com a qual iniciou a comunicação. Já a versão 802.16e permite sair do alcance daquela estação base e manter a conexão “viva”, desde que se entre no raio de ação de uma segunda estação base. Neste caso, uma rede de estações base funcionaria como um conjunto de “células” de uma rede de telefonia celular, cobrindo toda a região com acesso exclusivamente pelo padrão WiMax, e um usuário trafegando em um automóvel através de uma cidade dotada de uma rede WiMax poderá manter seu notebook dotado de acesso a esta rede conectado à Internet durante todo seu trajeto de casa para o trabalho, por exemplo. O que propiciará o fornecimento de serviços de telefonia usando a tecnologia Voz sobre IP (VoIP) em grandes áreas – ou seja, já não mais saberemos se nosso telefone celular é um pequeno computador ou se nosso computador móvel é um grande   (ou, quem sabe, daqui a algum tempo, pequeno) telefone celular.

Um exemplo que sintetiza o mote com o qual a Intel fechou os trabalhos de seu Editor’s Day: “proporcionar a melhor experiência móvel em qualquer lugar, a qualquer hora, com qualquer conteúdo e em qualquer dispositivo o dia todo”.

Quando ela vai conseguir isso, não sei.

Mas está cada vez mais perto.

B. Piropo