Sítio do Piropo

B. Piropo

< Jornal Estado de Minas >
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14/07/2005

< Até debaixo d’água... >


No início do último mês de março uma equipe de estudantes de engenharia da Universidade de Santa Cruz, na Califórnia, EUA, realizaram uma experiência para recolher dados atmosféricos usando um balão de gás hélio como parte de seu projeto de graduação. A equipe, que se autodenominou TeamBAT (de Balloon Atmospheric Telemetry), instalou em uma plataforma montada no balão um conjunto de equipamentos que incluía alguns sensores de dados atmosféricos (como velocidade do vento, pressão, umidade e temperatura do ar), uma câmara fotográfica digital, um equipamento de posicionamento global (GPS) para determinar continuamente a posição do balão, um sensor de altitude e um transmissor de dados especialmente desenvolvido pela equipe. O objetivo do experimento era coletar dados sobre distorção da luz na atmosfera local para permitir aos responsáveis pelo observatório astronômico da Universidade ajustar os telescópios para melhorar a qualidade da imagem. O conjunto deveria subir até cerca de 23 mil metros antes de ser liberado do balão por controle remoto e descer de pára-quedas para ser recuperado.

Os detalhes da história estão no artigo “S anDisk rescues valuable data from high-altitude weather balloon that crashes into the Pacific Ocean” no sítio da SanDisk, em < www.sandisk.com/corporate/press.asp >. Mas o fato é que infelizmente algo deu errado. Duas horas depois do lançamento, uma inesperada mudança na direção do vento fez com que o balão se deslocasse na direção do Oceano Pacífico. Os estudantes acompanharam desolados através dos dados enviados pelo transmissor a trajetória do balão e sua parafernália eletrônica até um ponto situado a três quilômetros da costa. E, quando perceberam que o balão havia se rompido e mergulhado nas águas do oceano, mais desolados ainda ficaram, dando o experimento por perdido.

Cinco dias mais tarde foram avisados por telefone que um cidadão havia encontrado na praia, cerca de trinta quilômetros ao norte do ponto de lançamento, restos do que parecia ser um equipamento de coleta de dados atmosféricos. Correram até lá para descobrir, entre os destroços que permaneceram na água salgada por todo aquele tempo, o equipamento de telemetria bastante danificado e a câmara digital em estado deplorável. Mas ambos ainda guardando seus dispositivos de memória: a câmara, um cartão de memória flash de 128 MB (Megabytes) e o equipamento de telemetria um outro cartão de 1 GB (Gigabytes), ambos da SanDisk.

Bem, como o objetivo do experimento era a coleta de dados, correram para recuperá-los. Para sua surpresa, a memória da câmara digital estava intacta. Bastou lavar em água doce, secar e introduzir em um dispositivo de leitura o cartão de memória para recuperar todas as imagens, a última delas obtida a mais de dez mil metros de altitude. Mas não tiveram a mesma sorte com o cartão de memória do outro equipamento: os dados estavam completamente ilegíveis.

Como os dados eram essenciais para o bom resultado do experimento, Dave Van Unen, um dos membros do TeamBAT, decidiu apelar para a própria fabricante. E, após entrar em contato com a SanDisk e explicar a importância do assunto, enviou à empresa o cartão de memória danificado.

Na SanDisk o cartão foi confiado aos cuidados de Ysabel Tran, uma especialista que depois de submetê-lo a alguns sofisticados equipamentos de leitura, conseguiu a recuperação integral dos dados que, transpostos para um novo cartão de memória, foram prontamente enviados de volta à Universidade.

Lá os estudantes fizeram algumas descobertas surpreendentes. A primeira delas: o balão superou a altitude máxima programada, ultrapassando os 25 mil metros. E registrou os resultados de mais de 53 mil amostras, que permitiram obter um conjunto bastante preciso de dados contínuos. O que permitiu produzir um relatório que não somente garantiu o diploma dos membros da equipe como também permitiu que fossem agraciados com dois prêmios acadêmicos, uma rara honraria.

Tudo isso graças a cartões de memória flash que, apesar de permanecerem imersos em água do mar por quase uma semana, mantiverem os dados armazenados.

Imagine um negócio desses no tempo em que se registravam imagens em filme e dados em rolos de papel que se moviam devido à ação de um mecanismo de relojoaria...

B. Piropo