Sítio do Piropo

B. Piropo

< Coluna em Fórum PCs >
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05/03/2007

< OS/2, Vista, Linux e o mercado >


Eu deveria hoje fechar a série sobre o número Fi e a razão Áurea e peço desculpas por não fazê-lo a quem a vem acompanhando e está ansioso à espera da coluna final. Em vez disso pretendo abrir parênteses para discutir outro assunto.

Tenho razões para isso. A mais relevante é que se eu escrevesse agora aquela última coluna ela não faria justiça ao restante da série: por uma combinação de circunstâncias desfavoráveis que incluem uma transitória dificuldade de acesso às fontes de consulta mas não se restringe a ela, certamente a coluna final, se escrita hoje, não ficaria à altura das demais. Além disso, alguns fatos, dois deles relativamente recentes, se combinaram para chamar minha atenção e praticamente me obrigaram a escrever sobre eles. Afinal, sou aquilo que se chama “colunista de opinião” e é minha obrigação manifestar minha opinião sobre tais fatos, mesmo que isso implique meter meu nariz onde não fui chamado e a mão em vespeiro. E bota vespeiro nisso...

Então, vamos a eles.

O primeiro deles é a lembrança do vigésimo aniversário do OS/2 invocada pelo bom artigo de Fernando Cassia publicado em 2/4/2007 no sítio do “The Inquirer” intitulado < http://www.theinquirer.net/default.aspx?article=38666 > “OS/2 is 20 years old – dead but still walking” (O OS/2 completa 20 anos – morto, porém ainda andando”).

O OS/2, para quem não sabe, é (ou foi?) um sistema operacional desenvolvido para micros da linha PC inicialmente em conjunto pela Microsoft e IBM, depois levado avante apenas pela IBM quando a MS decidiu voltar seus esforços exclusivamente para desenvolvimento de Windows.

Seu vigésimo aniversário neste abril de 2007 é uma afirmação apenas tecnicamente correta. De fato o sistema foi lançado em abril de 1987 em conjunto pela IBM e MS, mas o que se lançou naquela ocasião foi a versão 1.0, um sistema operacional bastante estável para uma versão inicial, porém sem interface gráfica e com tremendas limitações que fizeram com que ele fosse praticamente ignorado pelo mercado (convém lembrar que com Windows ocorreu exatamente o mesmo: sua versão 1.0 foi lançada em setembro de 1985 mas era tão limitada que o mercado só tomou conhecimento do produto em 1990 com o lançamento da versão 3.0).

O OS/2 somente se tornou um sistema operacional digno de atenção com o lançamento da versão 2.0 em 1992, já então desenvolvida apenas pela IBM. E, embora sobreviva até hoje aqui e ali nas máquinas de alguns entusiastas (evitemos cuidadosamente palavras como “fanáticos” e coisas que tais), teve vida curta: sua versão final, a última desenvolvida pela IBM, o canto do cisne do sistema, foi a denominada Warp 4.0 lançada em novembro de 1996, quando o OS/2 já agonizava, levado à míngua pela explosão de vendas do Windows 95 lançado um ano antes pela MS. A “vida” do OS/2 (ou seja, o período no qual ele teve uma influência significativa no mercado embora sempre longe de sua liderança) se resumiu portanto aos quatro anos que mediaram do início de 92 ao final de 96. Embora, como afirma o artigo de Fernando Cassia, o sistema continue perambulando por aí em uma ou outra máquina como um morto vivo, ninguém mais dá importância a ele exceto um aguerrido grupo de entusiastas (o próprio Fernando informa que tem em sua rede doméstica uma máquina rodando o sistema que ele usa como servidor de arquivos e, ocasionalmente, para navegar pela Internet).

Durante os quatro anos em que o OS/2 “existiu” de fato, seus concorrentes – cuja liderança do mercado jamais foi por ele ameaçada – eram Windows 3.x, uma interface gráfica que rodava “em cima” do DOS e, um pouco mais tarde, Windows 95, a primeira versão de um sistema operacional da MS voltado para o usuário final que suportava multitarefa preemptiva (e não cooperativa; em 1993 a MS lançara a primeira versão do Windows NT, um SO capaz de executar multitarefa preemptiva, porém tratava-se de um produto tipicamente corporativo).

Figura 1: OS/2 Warp (Fonte: IBM).

Durante este período houve quem gostasse dele e quem o detestasse, como soe acontecer com qualquer sistema operacional. E quem gostava – como eu, que já fui chamado de “viúva do OS/2” em um comentário inserido em uma de minhas colunas sobre Vista – o defendia com unhas e dentes, como soe acontecer com qualquer sistema operacional. Forma-se então uma comunidade de entusiastas que se aferram ao sistema, criam com ele laços afetivos surpreendentemente fortes e lutam com unhas e dentes contra sua extinção, mesmo quando ela se afigura inevitável. No que toca ao OS/2 eu já não faço parte desta comunidade, mas cheguei a publicar um livro sobre ele, participei ativamente de todas as reuniões de grupos de usuários e escrevi dezenas de colunas e artigos louvando suas excelências. Uma busca por “OS/2” no < http://www.bpiropo.com.br > “Sítio do Piropo” retorna quase duzentos artigos. Naqueles dias eu era, indiscutivelmente, o que se pode chamar de “evangelista” do OS/2.

E o fui por boas razões. Como eu disse, havia quem dele gostasse e quem o detestasse, mas entre aqueles que realmente tinham algum conhecimento sobre as entranhas de um computador e a verdadeira função de um sistema operacional (ou seja, entre os que efetivamente entendiam do assunto), gostando dele ou não, havia um consenso indiscutível: na época o OS/2 era o melhor e mais estável sistema operacional disponível para a linha PC.

Algumas das razões disto são dissecadas no artigo de Fernando Cassia, portanto não vou descer a detalhes, apenas resumir meia dúzia delas. O OS/2 foi o primeiro sistema operacional verdadeiramente “de 32 bits” para a linha PC capaz de rodar multitarefa preemptiva (ou seja, sob o controle direto do SO; mais detalhes podem ser encontrados no < http://www.bpiropo.com.br > “Sítio do Piropo”, basta entrar na seção “Pesquisar” e efetuar uma pesquisa com o termo “preemptiva”). Seu concorrente, Windows 3.x, era apenas uma interface gráfica de um sistema operacional já obsoleto, uma versão modificada do MS-DOS 6.0 que executava um arremedo de multitarefa denominado “cooperativa” (na qual o controle ficava com os programas, que o cediam ao SO quando desejassem). E o OS/2 rodava sem alterações todos os programas Windows 3.1 que podiam ser executados simultaneamente em sessões independentes que, graças à multitarefa preemptiva, não podiam interferir umas com as outras, ao contrário do que ocorria em seu sistema nativo, onde a multitarefa era cooperativa. Em suma: o OS/2 fazia jus a seu mote: “um DOS melhor que o DOS e um Windows melhor que Windows”.

A estabilidade do OS/2 era soberba e sua habilidade de rodar simultaneamente sem perder um único bit diversos programas DOS de transferência de dados em “máquinas virtuais” independentes, cada uma gerenciando seu próprio modem e sua linha telefônica, tornou-se legendária entre os usuários de BBS (lembre: estamos falando dos tempos dos “BBS”, a Internet como a conhecemos hoje só se tornou popular em 1995).

A interface gráfica do OS/2, desenvolvida pela Micrografix, a grande especialista em programas gráficos da época, era um primor. E, durante aqueles quatro anos de ouro do OS/2, versões sucessivas melhoraram ainda mais o que já era bom: a 2.1 corrigiu alguns bugs da anterior, a 3.0 (também conhecida por “Warp”) lançada no início de 94 otimizou o uso da memória, acrescentou suporte à “multimídia” (a grande novidade da época) e foi o primeiro sistema operacional com suporte nativo a TCP/IP e hipertexto para navegar na Internet (que começava a desabrochar). Depois vieram ainda duas versões, uma com suporte integrado a rede e compartilhamento de impressoras e dispositivos (“Warp Connect”) e o OS/2 4.0 de 1996. Todas excelentes.

E foi então que, no auge de sua funcionalidade e mesmo com todas estas maravilhas, o OS/2 foi engolido pelo instável porém bonitinho Windows 95, lançado um ano antes pela MS. Foi desaparecendo, esvanecendo-se, empalidecendo, sumiu...

Como explicar um negócio desses?

No artigo, Fernando Cassia bem que tenta...

Uma de suas alegações é a pressão desenvolvida pela MS que obrigava os fabricantes de computadores em OEM a venderem suas máquinas com Windows pré-instalado em vez do OS/2 e os desenvolvedores a criarem programas para Windows e não para OS/2 (na Comdex Fall 94, em Chicago, nos estandes dos desenvolvedores eu vi, atônito, um número imensamente maior de demonstrações de programas para Windows 95, ainda não lançado, que para o OS/2, já na sua versão Warp, estável e no mercado há dois anos).

Bobagem. Pressão sobre os fornecedores toda empresa hegemônica faz. Inclusive a própria IBM quando detinha na prática o monopólio da informática, e não obstante perdeu a liderança que na época era inconteste. Em contrapartida os fabricantes e desenvolvedores decidem o que é melhor para seus negócios com base em estudos sérios de tendências de mercado, não em função da pressão desta ou daquela empresa. Se naqueles dias eles decidiram dar preferência a Windows e não ao OS/2 é porque o mercado indicava que essa era sua preferência, não porque a MS assim o desejava.

Outra alegação de Fernando para justificar a debacle do OS/2 foram as disputas internas na IBM, que fizeram com que, em um dado momento, a divisão de computadores pessoais da própria IBM vendesse máquinas com OS/2 e Windows instalados em “dual boot”.

Tolice. Toda empresa tem suas brigas entre grupos e na época tanto a divisão de micros pessoais como a Software Division, responsável pelo OS/2, estavam lutando denodadamente pela própria sobrevivência (a última desapareceu no final dos anos 90, transformada em Network Computing Division; a segunda resistiu por mais alguns anos e hoje pertence à LeNovo) e tentavam fazer o que melhor podiam para vender seus produtos. Se micros IBM vendiam mais com Windows que com o OS/2 pré-instalado, que assim fosse. Afinal era esta a vontade do mercado e não havia como lutar contra ela.

Fernando levanta ainda outros pontos, todos discutíveis. Inclusive e principalmente uma difusa “má-vontade da imprensa especializada”, que sempre atacou, se opôs ou, pior, ridicularizou o OS/2.

Besteira. Alegar que os reveses se devem a “campanha orquestrada através da imprensa” é atitude própria de maus políticos, maus governantes e perdedores em geral, boa parte deles mal intencionados. Não existe uma entidade autônoma chamada “imprensa” que, de moto próprio, desenvolve campanhas ou firma opinião contra ou a favor de determinadas questões. Particularmente no que diz respeito à imprensa especializada em informática, que conheço bem há mais de quinze anos, o que existe é um grande grupo de pessoas, algumas bem informadas outras nem tanto, algumas com conhecimento técnico profundo outras nem tanto, algumas com disposição de se inteirar bastante sobre um assunto antes de escrever sobre ele outras nem tanto, que escrevem para suplementos especializados de jornais, para revistas especializadas ou não e para o rádio e televisão exprimindo sua própria opinião, muitas vezes divergindo entre si. Em sua grande maioria têm formação universitária em jornalismo, não em informática, e expressam seus pontos de vista livremente como jornalistas, não como especialistas em sistemas operacionais (há exceções, naturalmente, inclusive alguns técnicos em informática altamente respeitáveis com profundo conhecimento do assunto que colaboram com alguns veículos da imprensa, mas esta não é a regra; e antes que venham me acusar de tentar me incluir nesta reduzida elite, convém esclarecer que não sou especialista em informática, sou engenheiro ambiental).

As opiniões veiculadas pela imprensa, especializada ou não, sobre um determinado assunto (qualquer que seja o assunto) é o somatório destas distintas opiniões de dezenas de milhares de pessoas e reflete os anseios da sociedade em que vivem os autores dos artigos (note que me refiro especificamente a opiniões, não a notícias; estas não refletem a vontade dos jornalistas ou dos jornais, mas dos leitores; por mais que um jornal pretenda destacar na primeira página o primeiro Nobel de Medicina ganho por um cientista brasileiro, se isso vier a ocorrer no dia em que uma patricinha de um bairro elegante do Rio ou de São Paulo juntar-se ao namorado para exterminar a família a porretadas, a notícia da patricinha ganhará um destaque infinitamente maior que a do cientista porque é sobre ela que os leitores desejam ser informados).

Portanto, se a maioria das opiniões veiculadas pela imprensa especializada é favorável a certo tema, isto nada mais é que o reflexo da opinião de um determinado segmento da sociedade (no caso da imprensa especializada em informática, o segmento dos usuários, profissionais, estudantes e demais pessoas envolvidas com computadores).

Esta não é uma afirmação gratuita ou irresponsável. É o testemunho de um colunista e articulista de informática que, durante o período no qual Fernando Cassia alega que a campanha da imprensa especializada contra o OS/2 estava no auge, escrevia em um dos cadernos de informática mais lidos do país (o Informática Etc. do Globo) mas não só nele, dezenas de artigos louvando o produto, mostrando suas excelências, eventualmente esculhambando os concorrentes. Um colunista que afirma peremptoriamente jamais ter sofrido qualquer pressão para mudar sua opinião, reduzir os elogios ao OS/2 ou arrefecer as críticas a Windows seja da editoria ou direção dos veículos em que escrevia, seja das empresas envolvidas. Em particular no que tange à Microsoft, por amor à justiça, devo declarar que sempre recebi dela um tratamento extremamente respeitoso, digno e altivo, que foi retribuído com a mesma dignidade e altivez, aliadas a uma dose proporcional de isenção. Portanto, se houve alguma campanha na imprensa especializada patrocinada pela MS contra o OS/2, ela passou ao largo de todos os veículos com os quais colaborei. E foram muitos.

Esta, portanto, também não foi a “causa mortis” do OS/2.

Então como explicar seu desaparecimento?

Não se explica.

Simplesmente não há explicação plausível. O OS/2 morreu porque, mesmo sendo indiscutivelmente melhor que a concorrência, não agradou ao mercado. E temos conversado.

O segundo fato também é recente. Consiste em uma notícia divulgada no final de março de 2007 por dezenas de veículos da imprensa nacional e internacional, inclusive a revista Time, dando conta que Windows Vista, lançado em fevereiro passado, vendeu vinte milhões de cópias apenas no primeiro mês, superando de longe as vendas iniciais do Windows XP (dezessete milhões nos dois primeiros meses) e surpreendendo à própria Microsoft, que não esperava tanto.

Sim, eu sei, nos comentários haverá calorosas discussões sobre se esses vinte milhões são mesmo vinte milhões (a fonte da notícia é a Microsoft, mais especificamente uma entrevista de Bill Mannion, Diretor de Mercado de Produto de Windows), quantos destes sistemas vieram pré-instalados em micros novos, quantos foram atualizações de Windows XP, quantos foram comprados diretamente nas lojas ou transferidos do sítio de comércio eletrônico da própria MS. Haverá quem diga que o número não é significativo, que tudo não passa de fruto de uma campanha publicitária maciça desenvolvida pela MS baseada em propaganda enganosa cujo objetivo é fazer subir o preço das ações da MS (que de fato subiram vinte centavos de dólar americano após o anúncio), enfim, haverá de tudo.

Não importa. O que importa é que a notícia deve merecer alguma credibilidade já que foi divulgada pelos mais respeitáveis órgãos da imprensa mundial e não apenas nos veículos especializados.

Ora, eu particularmente acho Vista um bom sistema operacional e, embora não seja perfeito, o estou usando há um bom tempo e pouco tenho do que reclamar. Mas não pretendo fazer aqui qualquer juízo de valor ou apreciação de qualidade. Vou apenas externar minha própria surpresa causada pela notícia: vinte milhões de cópias instaladas em um mês realmente me causaram espanto...

Novamente: sem analisar virtudes ou defeitos, há alguns fatos que não são passíveis de contestação. Vista não é um sistema operacional barato. Não roda em qualquer micro. Quem quiser usufruir de todas as suas funções terá que se submeter a severas exigências no que diz respeito a hardware. As exigências mínimas divulgadas pela MS (processador de 800 MHz e 512 MB de memória RAM) são risíveis: com menos do dobro desta freqüência e de dois GB de memória sugiro nem tentar instalar, é aborrecimento garantido. Isso sem falar nas exigências relativas aos controladores de vídeo, que devem suportar a tecnologia DirectX 9 e dispor de drivers especialmente desenvolvidos (padrão WDDM). E tudo isso deixando de lado todas as conhecidas dificuldades de um sistema operacional recém lançado e bastante diferente de seu antecessor: possíveis incompatibilidades com periféricos instalados, falta de drivers para controladores mais antigos, bugs eventualmente presentes em toda versão 1.0, investimento relativamente elevado sem a garantia de que vai funcionar com os sistemas existentes.

Em suma: por mais convincentes que sejam os argumentos para comprar, há uma penca considerável de argumentos recomendando não fazê-lo, quando não por uma questão de prudência e pelo menos nos primeiros meses. E argumentos mais que respeitáveis.

Não obstante foram instaladas vinte milhões de cópias apenas em um mês. Mais que qualquer versão de Windows anteriormente lançada (e, tanto quanto eu saiba, mais que qualquer outro sistema operacional no primeiro mês após o lançamento).

Como explicar tal enxurrada de vendas?

Não se explica.

Apesar de toda a argumentação em contrário que inevitavelmente será lida nos comentários que sucederão a esta coluna, simplesmente não se explica. Vista vendeu vinte milhões de cópias no primeiro mês porque o mercado assim o quis. E temos conversado.

O terceiro fato...

Bem, confesso que hesitei bastante antes de mencioná-lo. Trata-se de uma notícia que circulou na imprensa brasileira há alguns meses, que já deu muito que falar e que eu prudentemente havia decidido não me manifestar sobre ela.

Mas minha tendência inata a meter a mão em vespeiro que sempre me trouxe, traz e ainda trará muitos dissabores me impede de resistir. E olhe que os que lerem as próximas linhas poderão avaliar o tamanho do vespeiro (incidentalmente: solicito aos preclaros colegas de Fórum que, embora respeitando seu direito a veicular quaisquer opiniões em seus comentários, tenham o especial cuidado de poupar D. Eulina, já falecida, uma santa senhora isenta de qualquer culpa pelos desatinos do filho que pôs no mundo).

Então, Piropo, suspire fundo e toque para o terceiro fato.

Pois vamos nessa. E para evitar acusações de ser tendencioso, vou apenas reproduzir sem alterar, exclusivamente na base do “cortar e colar”, alguns parágrafos de artigo < http://idgnow.uol.com.br/computacao_pessoal/2006/06/07/idgnoticia.2006-06-07.4407430226/IDGNoticia_view > publicado no IDG Now em sete de junho de 2006. Aqui vão eles:

“São Paulo - Segundo pesquisa da Positivo, 75% dos consumidores que compraram computador com Linux trocaram por Windows em até 3 meses.

“O consumidor que compra um computador equipado com o sistema operacional Linux troca pelo Windows, da Microsoft. Isso é o que indica uma pesquisa conduzida pela fabricante de computadores Positivo.

“A empresa ouviu 200 compradores de sua linha de computadores com o sistema operacional Linux, em novembro do ano passado, antes de começar o programa de inclusão digital do governo federal, o Computador Para Todos.

“Segundo a pesquisa, 65% dos consumidores trocaram o Linux pelo Windows no primeiro mês de uso do computador. Outros 10% fizeram a troca em até três meses. Apenas 25% se mantiveram com o Linux”.

Sim, eu sei que 200 compradores não constituem uma amostra representativa de um universo de 77 mil (total de vendas do Computador Para Todos declarada pela Positivo de dezembro de 2005 a abril de 2006, entre a data da realização da pesquisa e a da publicação dos resultados). Sei também que uma amostragem realizada em São Paulo, onde é relativamente fácil efetuar a troca de sistema, não representa a tendência dos usuários de micros vendidos longe dos grandes centros, cujo número deve ser significativo. Em suma: sei que deve haver distorções e que as porcentagens declaradas podem ser exageradas e tendenciosas. Sei de tudo isso e levo todos os argumentos e fatos em consideração. E não estou usando estes números para tentar argumentar que Windows é ou não “melhor” que Linux. Repito, reitero, insisto, repiso: não estou fazendo qualquer juízo de valor nem procurando argumentar sobre a qualidade de um sistema ou de outro, sua facilidade de uso ou comparando quaisquer outras de suas características. Não é esse o ponto.

A questão também pouco tem a ver com quantos (ou quantos por cento de) usuários efetuaram a troca. Basta que um ou outro o tenha feito.

Então, qual é a questão?

A questão é: se de fato alguns usuários o fizeram, qual a razão disso?

Trata-se de um problema que extrapola a fútil, tola, inútil, infrutífera e infindável discussão entre as “torcidas” de Windows e Linux. Trata-se de algo que envolve conceitos éticos, morais e legais.

Encare a coisa por este aspecto (e, pensando assim, não importa qual sistema operacional veio instalado no computador e qual o que o substituiu): o que leva uma pessoa, em princípio um cidadão honesto e cumpridor de seus deveres, a comprar em uma loja legalmente estabelecida e pagar com seu suado dinheirinho um computador de fabricante conhecido e com garantia, no qual vem instalado um sistema operacional (seja ele qual for) inteiramente funcional, compatível com suas necessidades, um bom sistema e, sobretudo, um sistema perfeitamente legal, e substitui-lo por outro no primeiro mês de uso, instalando uma cópia muito provavelmente pirata, dessas compradas por “deiz real” no camelô da esquina, infringindo a lei conscientemente?

Como explicar que alguém (repito: uma pessoa honesta, um cidadão consciente de seus direitos e deveres) possa por vontade própria trocar algo legal, pago por ele, dotado de garantia, um produto que funciona e supre suas necessidades, por outro que é sabidamente ilegal, que vai inevitavelmente lhe causar problemas por ocasião das eventuais atualizações, que o transforma em um infrator da lei? E, pior, como justificar fazê-lo de forma plenamente consciente violando propositalmente princípios éticos, morais e legais?

Como explicar isso?

Não se explica.

Por mais convincentes que sejam os argumentos que certamente serão apresentados nos comentários, por mais acirrada que se torne a discussão entre os adeptos deste ou daquele sistema operacional (discussão da qual eu prudentemente vou procurar me abster), por mais que se aleguem complôs e campanhas, não se explica.

Conclusão?

Quando se trata de preferências desta estranha e irracional entidade chamada “mercado”, não adianta procurar explicar, discutir, argumentar e muito menos tentar mudar uma tendência estabelecida.

Há que aceitá-la e tocar pra frente.

O resto é conversa...

 

B. Piropo