Sítio do Piropo

B. Piropo

< Coluna em Fórum PCs >
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02/03/2009

< Windows 7 Beta VI: Usando as “libraries” >


Depois de passar três ou quatro semanas vasculhando a rede em busca de informações sobre as “libraries” de Windows 7 não posso me furtar de exprimir minha admiração sobre sua magnífica capacidade de ampliar as possibilidades de divulgação de besteiras. Seja qual for o assunto e seja qual for o campo de conhecimento, a quantidade de bobagens que se pode encontrar na rede sobre qualquer tema beira o infinito. E, com um negócio novo como as "libraries", não podia ser diferente. Parece inerente à natureza humana uma estranha compulsão de se manifestar sobre aquilo que se ignora e é espantosa a quantidade de "pitacos" e opiniões estapafúrdias sobre esta nova funcionalidade, provenientes de pessoas que não fazem a menor ideia do que ela realmente vem a ser. E note que não me refiro especificamente a nosso Fórum (se bem que ele não fuja à regra), mas à rede em geral.

Então vou tentar nesta coluna fazer o possível para transmitir a vocês o meu entendimento sobre o que são as “libraries”. Mas é bom notar que, como a MS tem sido notavelmente omissa em relação ao assunto, não há muitas informações oficiais. Portanto "meu entendimento" não corresponde necessariamente áquilo que as "libraries" de fato são. É possível que ele nada mais seja que minha cota particular de besteiras. Mas, pelo menos, é baseado em um sincero e bem intencionado esforço de tentar destrinchar o tema depois de ler praticamente tudo o que os dispositivos de busca mais eficazes me retornaram sobre o assunto - inclusive, como acima citado, uma quantidade razoável de informações desencontradas e deturpadas.

Então vamos a elas.

As "libraries" nada mais são que o meio adotado pela equipe de desenvolvimento do Windows 7 para possibilitar que os usuários organizem, manejem e encontrem seus arquivos sem precisar alterar a forma pela qual eles estão agrupados no sistema. Em outras palavras: cada usuário pode continuar a gravar arquivos em pastas hierarquicamente estruturadas, como sempre o fez, e continuar a manipular esta estrutura que permanecerá disponível sem quaisquer alterações. O que não o irá impedir de se aproveitar do novo recurso das “libraries” para encontrar mais rapidamente e com mais facilidade os arquivos que busca. Em resumo: as duas técnicas de organização, armazenamento e recuperação de arquivos (em uma estrutura hierárquica e em um banco de dados relacional indexado) conviverão harmonicamente sem que jamais uma venha a interferir com a outra, permitindo que o usuário escolha aquela que mais facilidade oferece para cumprir uma dada tarefa em cada momento.

Uma “library” , embora se pareça muito com uma pasta, não é uma pasta. Ela é na verdade um "container" (um objeto que contém outros objetos) no interior do qual se encontram exclusivamente ponteiros (ou atalhos) para objetos (pastas e seus arquivos) do sistema hierárquico de arquivos. No entanto, mesmo não sendo uma pasta, nada impede que um usuário "salve" um arquivo diretamente na “library” . O que é algo que pode confundir os usuários (como confundiu a mim até entender o conceito). Afinal, como misturar em um único "container" dois diferentes conjuntos, um de arquivos, outro de ponteiros para arquivos?

Bem, na verdade esta mistura não ocorre. Apenas parece que ocorre. E, embora no início isso possa causar alguma confusão, já veremos que na verdade facilita bastante a organização de arquivos. Mas só facilitará para aqueles que se interessarem pelo assunto e resolverem dedicar alguns minutos (sério; não muito mais do que isso) para entender como a coisa funciona.

E como funciona?

Simples. Ao abrir o Windows Explorer (WE) em um micro com o Windows 7 o usuário se deparará com algo parecido com o exibido na Figura 1:

Figura 1: Windows Explorer com foco nas “libraries”.

Ou seja: por padrão, o WE do Windows 7 abre sua janela com foco nas “libraries” , ou seja, com a entrada "Libraries" selecionada no painel de navegação e com seu conteúdo exibido no painel principal. É certo que, se for de seu agrado, isto pode ser alterado e você pode fazer com que o WE abra com foco em qualquer outra pasta, inclusive "Computer". Para saber como, consulte o artigo de Ramesh Srinivasan <  http://www.winhelponline.com/blog/windows-explorer-defaults-libraries-folder-windows-7/ > "Windows Explorer Defaults to Libraries Folder in Windows 7" (mas se você costuma abrir o WE combinando a tecla "Windows" com "E", então não há como alterar: neste caso o WE sempre abrirá com foco nas “libraries”).

Qual a vantagem (ou desvantagem) disso? Bem, se você deseja tirar proveito das funcionalidades das “libraries”, melhor deixar como está – o que facilita nelas centralizar suas operações com arquivos. Já se você pretende continuar trabalhando exclusivamente com a organização hierárquica, então talvez mudar o foco inicial para "Computer" seja melhor.

Como você vê na Figura, são quatro as “libraries” oferecidas por padrão: uma para documentos de texto, outra para arquivos musicais, outra para figuras e a quarta para vídeos. Você pode criar mais tantas quantas desejar, mas antes disso procure se inteirar melhor do conceito para se certificar se elas serão realmente necessárias. Depois que entender sua serventia, talvez decida que não serão. E logo perceberá o porquê disso se tiver paciência para continuar lendo estas mal traçadas (um exemplo: até recentemente as “libraries” oferecidas por padrão pelo Windows 7 incluíam mais uma, a "Downloads", para armazenar arquivos transferidos para o computador; recentemente a própria MS concluiu que ela não se adaptava ao conceito de “libraries” e eliminou-a: os arquivos baixados para o micro continuam sendo armazenados em um único lugar, mas este lugar continua sendo, como no Windows Vista, a pasta "Downloads" do perfil do usuário e não uma “library”).

Sigamos um passo adiante em nossa exploração. Um clique com o botão direito sobre qualquer “library” abre seu menu de contexto. Um clique na entrada Propriedades deste menu (no caso, o da pasta "Music") leva à janela de Propriedades mostrada na Figura 2. Preste atenção no conteúdo do painel "Library locations" que exibe os locais (na verdade, as pastas) para onde a “library” "aponta". Por padrão, são dois: a pasta "My Music" de "C:\Users\bpiropo" e a pasta "Public Music", de "C:\Users\Public" (mas como se viu na coluna anterior, mais pastas podem ser adicionadas; logo voltaremos ao assunto).

Figura 1: Windows Explorer com foco nas “libraries”.

Na verdade isto - ou algo análogo a isto - ocorre quando se investiga as propriedades de qualquer das quatro “libraries” padrão oferecidas pelo sistema: cada uma delas apontará para duas pastas correlatas, uma delas privada e integrando aquilo que Windows chama de "perfil do usuário" ("user's profile"), outra pública, contida na pasta “Public” (esta última para permitir a integração com os "homegroups" como veremos mais tarde). E mais nada. Tanto assim que se pode abrir a árvore hierárquica focada no perfil de usuários (em geral armazenado em "C:\Users") e lá encontrar, entre seus pares, as pastas privadas contidas em cada “library”, como mostra a Figura 3 (seu ícone é ligeiramente diferente das demais pastas privadas do mesmo usuário exclusivamente devido ao fato de serem compartilhadas, como veremos mais tarde). E, se você se der ao trabalho de abrir a pasta “Public” de um micro que esteja rodando o Windows 7, também encontrará nela as quatro pastas por padrão incluídas nas respectivas “libraries”.

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Figura 3: Localização real (na estrutura hierárquica) de pastas contidas em “Libraries”.

Pronto, agora que conhecemos a estrutura "real" (ou pelo menos parte dela) que se esconde por detrás da estrutura virtual das “libraries”, poderemos desvendar o primeiro mistério: como é possível "salvar" um arquivo diretamente em uma “library” sem que seja preciso explicitar a pasta onde ele deve ser armazenado?

Isto é viável porque cada “library” tem uma "pasta base" ou "pasta padrão de armazenamento" ("default save folder") para salvar arquivos. E, se você simplesmente solicitar que um arquivo venha a ser salvo na “library”, ele será armazenado nesta pasta base. No caso das quatro pastas oferecidas por padrão, ela será sempre a pasta privada para a qual a “library” "aponta" inicialmente (respectivamente "My Documents", My Music", "My Pictures" e "My Videos"; nas “libraries” criadas pelo usuário, será a primeira pasta nelas incluída). Se você tem acesso a um micro rodando o Windows 7, experimente: carregue, por exemplo, o Bloco de Notas, crie um arquivo texto qualquer e mande gravá-lo diretamente na "library" "Documents" (veja a Figura 4, que exibe a caixa "Save As" do Bloco de Notas sendo ajustada para gravar nesta “library” o arquivo "ArquivoTexto1.txt" recém criado).

Figura 4: Gravando um documento diretamente em uma “library”.

Isto feito feche o Bloco de Notas, abra o WE, selecione a “library” "Documents" no painel de navegação, inspecione seu conteúdo no painel principal e verifique que o arquivo de fato foi incluído na “library” (veja a imagem da esquerda na Figura 5). Agora, mude o foco do WE selecionando a pasta "My Documents" de seu perfil de usuário (ou seja, a pasta "C:\Users\seu_nome\My Documents") e examine seu conteúdo (painel principal da imagem da direita da Figura 5). Lá está o arquivo que você acabou de ordenar que fosse salvo diretamente na “library” "Documents". Ou seja: o arquivo propriamente dito é este último objeto. Aquele exibido na “library” (imagem da esquerda) e apenas um ponteiro para ele (já que uma “library” é um "container" de ponteiros e não pode conter arquivos).

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Figura 5: O mesmo arquivo exibido em sua pasta e em uma “library”.

O que o Windows 7 fez foi obedecer sua ordem sem pestanejar: salvou o arquivo de tal forma que quando você abrir a “library” "Documents" (onde ordenou que fosse gravado) o encontrará lá. Se o objeto que você lá encontrar se comportar exatamente como seu arquivo, pouco importa que ele seja o arquivo propriamente dito ou um ponteiro, o que importa é que ele lá está e você pode fazer com ele tudo aquilo que faria com o arquivo: abrir, alterar, regravar ou eliminar (e, ao fazê-lo, estas mudanças não ocorrerão no ponteiro mas sim no objeto armazenado na pasta "My Documents", ou seja, no arquivo propriamente dito). O que não o impede, se você assim preferir, de acessar diretamente o arquivo (e não seu ponteiro) na pasta "C:\Users\seu_nome\My Documents" e fazer com ele rigorosamente o mesmo que fez com seu ponteiro na “library” "Documents". O efeito será o mesmo e quem escolhe o método de acesso ao arquivo é você.

A criação de uma pasta base que recebe tudo aquilo que se manda gravar diretamente na “library” foi a forma que o Windows 7 encontrou para tornar o processo transparente para o usuário. Incidentalmente: o Windows 7 é tão flexível quanto o Vista. Portanto, se você quiser, pode alterar a pasta base padrão de qualquer “library”, mesmo daquelas fornecidas com o sistema. Basta seguir as recomendações do artigo do "Windows 7 Forums" < http://www.sevenforums.com/tutorials/595-library-set-save-folder.html > "How to Set the Default Save Folder for a Library in Windows 7"). Mas o melhor é deixar como está - pelo menos até se acostumar com o uso das “libraries”.

Examinando o tema de uma perspectiva diferente: o recurso das “libraries” nasceu de uma reformulação da estrutura de pastas que constitui o "perfil do usuário" (o conjunto de pastas que contêm os arquivos particulares de cada usuário registrado na máquina), fundindo-a com a de pastas públicas (compartilhadas por todos os usuários da máquina ou do grupo) para acomodar um uso que ainda não abordamos para as “libraries”: a forma de compartilhá-las nos "homegroups", um novo conceito no Windows. Ele vem substituir (e ampliar) o de pastas virtuais criadas a partir de um dado critério de buscas no Vista. A semelhança é que tanto as “libraries” quanto as pastas virtuais não são efetivamente pastas, mas "containers" de ponteiros para objetos (ou mais especificamente, conjuntos de pastas monitoradas e supervisionadas). A diferença é que, embora seu conteúdo seja dinâmico (cada novo arquivo criado que atenda ao critério de busca associado à pasta virtual é imediatamente incorporado a ela), para alterar o critério de incorporação de arquivos a uma pasta virtual o usuário tem que alterar o critério de busca que a gerou.

Já com as “libraries” a coisa é diferente: a qualquer momento o usuário pode incorporar novas pastas (reais, do sistema hierárquico) a qualquer “library” (para fazê-lo, basta abrir a janela de propriedades da “library” e clicar no botão "Include a folder..." mostrado na Figura 2 e selecionar a pasta desejada ou ainda, no WE, selecionar a pasta ou arquivo desejado, abrir o menu “Include in a library” e clicar na “library” desejada ou criar uma nova para incluir a pasta; veja a Figura 6). Com uma vantagem adicional: as pastas incluídas em uma “library” não precisam necessariamente estar na mesma máquina e nem sequer "pertencer" ao usuário. Elas podem estar em máquinas diferentes da rede ou do "homegroup" ou em locais (pastas) situados nos perfis dos demais usuários que desejaram compartilhar seu conteúdo (mais sobre isso adiante).

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Figura 6: Incluindo uma pasta em uma “library”.

Dada a flexibilidade com que o Windows 7 dotou o conceito de “library” , o usuário pode usá-las como melhor lhe convier. Pode, por exemplo, criar novas “libraries” para nelas armazenar os arquivos ou pastas que usa com maior frequência. Para isto basta clicar com o botão direito na entrada "Libraries" do WE e acionar a entrada "New >> Library" do menu de contexto, entrando depois com o nome apropriado da “library”. Isto feito, para efetivamente poder gravar, copiar ou mover qualquer arquivo para a nova “library”, terá ainda que acionar suas propriedades e incluir nela pelo menos uma pasta – que passará então a funcionar como sua pasta base.

Uma nova “library” poderia ainda armazenar todos os arquivos pertencentes a um determinado projeto, seja lá de que tipo forem (os arquivos). Isto porque, embora cada uma das quatro “libraries” fornecidas por padrão pelo sistema tenha sido concebida para conter arquivos de um determinado tipo, nada impede que arquivos de quaisquer tipos (ou pastas que os contenham) sejam incluídos em qualquer “library” (ou seja: nada impede, por exemplo, de armazenar um arquivo musical MP3 na “library” "Pictures").

Já li reclamações contra isto, posto que há quem ache que, sendo as “libraries” concebidas para armazenar arquivos de um dado tipo (musicais, gráficos, etc.), o sistema deveria fazê-las recusar arquivos de tipo diferente. É uma opinião que respeito, mas da qual discordo: como quem resolve em última instância o que vai ou não ser incluído em uma “library” é o usuário, se ele pretende que suas “libraries” se limitem a conter arquivos de um determinado tipo, basta que se abstenha de lá pôr arquivos de tipos diferentes. Mas quem quiser, por exemplo, criar uma “library” para cada projeto em que trabalha, há de preferir que ela contenha os arquivos textos das memórias descritivas misturados com os arquivos gráficos das plantas e cortes e com os arquivos de planilha da memória de cálculo do mesmo projeto. Melhor, portanto, deixar o assunto por conta do usuário que do sistema.

Mas as “libraries” efetivamente mostram toda sua pujança quando usadas apropriadamente para encontrar arquivos. Apenas um exemplo simples: como em qualquer pasta, pode-se escolher a forma de agrupar itens no interior da “library”. Por padrão eles são agrupados por pastas. Mas, dependendo do "gabarito" da “library”, podem ser agrupados por diferentes critérios, como autor, data, marca ("tag"), tipo, nome e diversos outros. Nesta altura eu já prevejo muxoxos de alguns leitores que murmurarão "Grande coisa! Isso eu posso fazer em qualquer pasta". O que é verdade. Mas experimente fazer isto simultaneamente com o conteúdo de, digamos, dez pastas e veja se consegue...

Como citado acima, cada “library” tem seu gabarito ("template") que determina como seu conteúdo é exibido e que opções são fornecidas para esta exibição. Há cinco gabaritos disponíveis: "General Items", "Documents", "Pictures", "Music" e "Videos". O primeiro destina-se a pastas que contenham arquivos mistos ou que não se enquadrem em nenhuma das outras quatro categorias. Os outros quatro são otimizados cada um para seu tipo de conteúdo. Por exemplo: a “library” "Music" pode exibir arquivos agrupados por pasta, álbum (disco), artista, música, gênero e nota ("rating"), enquanto a “library” "Documents" pode fazê-lo por pasta, autor, data de modificação, marca ("tag"), tipo e nome. Se você criar uma nova “library”, pode escolher o gabarito que desejar para ela. Assim como pode alterar o gabarito de qualquer uma das “libraries” existentes, inclusive as fornecidas por padrão pelo sistema (veja como fazê-lo no artigo do "Windows 7 Forums" < http://www.sevenforums.com/tutorials/601-template-change-folder-library.html > "How to Change a Library and Folder Template in Windows 7").

Finalmente, é importante lembrar que as “libraries” se integram perfeitamente aos programas fornecidos pelo sistema (e, presumivelmente, o farão igualmente com programas de terceiros quando o Windows 7 ultrapassar a fase de versão beta e já estiver disponível no mercado). Isto é particularmente interessante para as “libraries” de "mídia" (música e filmes). Por exemplo: a “library” "Music" se integra tão perfeitamente com o Windows Media Player que qualquer alteração que nela for feita (inclusão ou exclusão de pastas ou músicas avulsas) será imediatamente refletida nas músicas postas à disposição do usuário pelo Media Player (e Media Center).

Acho que, por hoje, chega. A coluna já está longa demais e receio que ela mantenha ainda outras semelhanças com a espada de Afonso Henriques que, sabidamente, além de comprida, era chata. Mesmo porque só falta comentar a integração das “libraries” com os “homegroups”, assunto que – juntamente com algumas considerações finais – ficará para a próxima coluna.

A última da série, prometo.

Até lá.

 

 

B. Piropo