Sítio do Piropo

B. Piropo

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25/05/2009

< Bing >


A era do computador pessoal começou há cerca de trinta anos. E, de lá para cá, vimos pequenas firmas criadas em garagens tornarem-se gigantes faturando bilhões de dólares e vimos gigantes que faturavam bilhões de dólares definharem até praticamente desaparecer. Quem lembra da MicroPro? E da Ashton-Tate? Lotus? Aposto que muitos dos leitores – quiçá a maioria – jamais ouviram falar. No entanto, há pouco mais de vinte anos eram eles que dominavam a liça dos desenvolvedores de software com o então formidável editor de textos WordStar, o banco de dados Dbase II e a planilha Lotus 1-2-3.

Apareceram, cresceram, dominaram o mercado e se foram. Até a poderosa IBM resolveu abandonar a liça e votar às origens, deixando o conturbado mercado de computadores pessoais de lado. Poucas sobreviveram. Dentre estas, talvez, as mais notáveis sejam a Apple e a Microsoft.

A Apple escolheu uma estratégia de “casar” hardware com software, desenvolver sistemas operacionais “sob medida” para suas máquinas e se especializar – ou, pelo menos, se antecipar – em software gráfico e multimídia. Teve altos e baixos, mas vem crescendo sem parar desde os tempos dos micros “de oito bits”, entre os quais era insuperável. Seus produtos costumam se destacar pela qualidade e pelos preços salgados, já que esse papo de “bom e barato” é ótimo na publicidade mas difícil de achar na vida real. Porém, não obstante isso, conquistou uma parcela do mercado que, além de vir crescendo significativamente nestes últimos anos, demonstra uma fidelidade canina – uma qualidade essencial que permitiu à empresa atravessar, se não com galhardia, pelo menos com elegância os tempos de vacas magras há poucos anos.

A Microsoft adota uma estratégia extremamente agressiva de mercado e atira para todos os lados. Como tem muita munição, que vem armazenando desde os tempos em que o MS-DOS lhe garantia uma receita crescente e volumosa, erra muito mas de vez em quando acerta em cheio. Como com o pacote Office, que praticamente não tem concorrente à altura. E com algumas excelentes versões (atentem os xiitas para o cuidadoso uso do pronome indefinido “algumas”) de sistema operacional.

E vêm ambas, Apple e MS, muito bem, obrigado, apesar da concorrência.

No que toca à Apple, não sei exatamente qual é seu principal concorrente. Com seus novos produtos como o iPod e iPhone ela disputa um mercado mais amplo e enfrenta diferentes empresas dependendo do produto. Mas tem se virado muito direitinho.

Já da Microsoft fica fácil identificar o Google como seu grande concorrente. Mais uma daquelas empresas de fundo de quintal – o que nada tem de desabonador, afinal foi exatamente assim que nasceram tanto a MS quanto a Apple – que cresceu e passou a faturar bilhões. E o mais incrível é que consegue isso de uma forma que, segundo o evangelho da MS, é quase sacrílega: oferecendo software e serviços gratuitos.

Não é que a MS não tenha também seus produtos gratuitos. Ela os oferece de bom grado, desde que seja obrigada a isso. Um bom exemplo – talvez o melhor – seja o Internet Explorer. Um caso interessante que poderia fornecer material para uma coluna inteira. Porque, apesar da fama de gênios do marquetingue desfrutada por sua turma de vendas, a verdade é que no início da era da Internet a MS dormiu no ponto e dormiu feio. As primeiras versões do Internet Explorer só não davam vontade de chorar porque faziam rir. Veio o Nestscape e dominou o mercado com o pé atrás. Então a MS se aproveitou do fato de que, ao instalar Windows, instala-se também o IE, o que torna praticamente obrigatório experimentar o produto e, depois de melhorá-lo bastante, liquidou o concorrente. Em seguida, achando que navegava em mar de almirante, dormiu de novo no ponto. Foi quando o Firefox começou a abocanhar não apenas o calcanhar da MS como grossas fatias do mercado dos navegadores, com engenhosas inovações que logo caíram no gosto do público, como a navegação em abas e os complementos. O que, afinal, fez o pessoal de Seattle acordar – ou “se mancar”, como diz a (ainda se usa esta?) gíria – e finalmente liberar um produto decente. Pode até ser que eles tenham copiado a maioria das ideias do concorrente, como dizem tanto as más quanto as boas línguas. Mas que o IE8 nada deixa a desejar ao Firefox, isso é inegável.

Quer dizer: a MS é assim mesmo. Desenvolve um bom produto, consegue dominar o mercado e então, deita e rola. O problema é que por vezes ela deita mais do que rola, e quem muito deita acaba dormindo. Então aparece a concorrência e baixa-lhe o porrete.

É uma história que se repete há décadas. Desde os tempos de seu primeiro produto que deteve o domínio do mercado, o MS-DOS. A primeira versão era sofrível, mas como praticamente não havia concorrência conseguiu se firmar. Não contando as versões intermediárias, veio a segunda, razoável, seguida da terceira, bastante boa. Até chegar a uma que atingiu quase o nível da excelência (por favor, puristas, levem em conta o hardware da época), o MS-DOS 3.2. Então, dormiu de novo. A versão 4.0 foi de chorar. Uma tristeza sob todos os pontos de vista, principalmente no que toca ao uso da memória. Apareceu então a Digital Research, se aproveitou da bobeira da MS e lançou seu DR-DOS 5.0, que espremia o último byte dos esconderijos mais recônditos da minguada memória da época, limitada a um MB. E, pela primeira vez, a MS viu sua fatia de mercado de sistemas operacionais minguar a níveis até então impensáveis. Pois bem: antes de perderem a liderança, o pessoal do desenvolvimento acordou, botou a mão na massa e apareceu o MS-DOS 5.0, um primor de sistema operacional para máquinas “de 16 bits” com um gerenciamento de memória impecável. Talvez a melhor versão de DOS jamais produzida.

Em suma: parece que a MS de vez em quando gosta de apanhar. Ou, pelo menos, de descansar sobre os louros. Vai muito bem, é dona do mercado, mas volta e meia derrapa. Por outro lado, em uma clara demonstração de algo que de tão evidente nem precisa ser demonstrado, ou seja, do efeito saudável da concorrência, cada vez que derrapa demonstra uma notável capacidade de recuperar o equilíbrio e evitar a queda, dando a volta por cima e lançando um produto – ou uma nova versão de um velho produto – que esmaga a concorrência. Pelo menos tem sido assim até agora

Nesta altura dos acontecimentos, garanto que já tem gente pensando: “lá vem o chato do Piropo falar de novo no Windows Seven”.

Pois se enganam.

O Windows Seven é apenas mais um passo na direção certa (sobretudo para quem acha que o Vista foi um passo na direção errada) mas seu objetivo não é recuperar a liderança do mercado. Porque, na liça dos sistemas operacionais, nunca a liderança da MS esteve tão consolidada. Pois se o líder não é sua versão mais recente de Windows, o Vista, é a anterior, o XP, com quase 70%. O mais bem colocado SO da concorrência é o Mac, com pouco mais de 6%. Portanto, nesta área, a MS não tem muito com que se preocupar.

Mas então, se não se trata do W7, trata-se de que?

Figura 1: O Bing

Bem, os mais atentos hão de se lembrar que lá em cima eu mencionei o Google.

Pois o negócio é com ele mesmo.

E o negócio do Google, pelo menos o original e o mais importante, são as buscas.

Pois foi nesta direção que a MS acaba de disparar seu mais recente míssil.

Seguinte:

Em 2001 um cara chamado Brian Mc Donald pediu demissão da MS e foi cuidar da vida. Andou pelaí, passou pela China onde construiu um barco (!?), pintou e bordou mas não achou nada que o encantasse. Seu negócio era e sempre foi desenvolver software e consta que ele é do tipo que as demais pessoas classificam como genial, daquele que vê coisas que estão na frente de todo o mundo mas ninguém percebe. E em 2007 suas inquietações o levaram a voltar para a MS propondo algo que, segundo a empresa, é um negócio quase revolucionário: um mecanismo de busca cheio de novidades. E a Microsoft aceitou o desafio de desenvolvê-lo.

Não, definitivamente não é nada que você conheça. O produto ainda está no final da fase de testes, toda ela feita “intramuros” na própria MS e ainda não foi oferecido ao público – mas o será a partir da próxima semana, mais especificamente em 03 de junho de 2009. E, pelo que pude ver (e que você, se quiser, também verá), não parece com nada que a empresa tenha desenvolvido até agora.

Chama-se “Bing”, foi anunciado em 28 de maio de 2009 e, segundo Steve Ballmer, durante o lançamento, usa um novo modelo de pesquisa baseado naquilo que ele denomina “mecanismo de decisão”. Um produto que não apenas permite aos internautas encontrarem rapidamente o que desejam como também usar imediatamente as informações ali obtidas para executar a tarefa desejada.

O bicho tem algumas novidades interessantes. Por exemplo: aproveita o formato de tela larga (wide screen) que hoje domina o mercado para criar um painel lateral que ajuda um bocado o uso do mecanismo permitindo saltar entre diferentes tipos de buscas. Além de recursos notáveis como o fato de que basta mover o mause para cima de um resultado retornado por uma busca para que – sem a necessidade de clicar – apareça uma janela com um resumo das informações sobre ele.

Se você quiser saber mais sobre o Bing, visite a página do sítio da Microsoft <  http://www.microsoft.com/presspass/press/2009/may09/05-28NewSearchPR.mspx > “Microsoft’s New Search at Bing.com Helps People Make Better Decisions” onde encontrará não apenas um resumo das características do produto como um vídeo no qual Stefan Weltz, um dos diretores da MS, explica seus recursos. Ou pode ir diretamente ao sítio do < http://www.bing.com/ > Bing e clicar no atalho “Find out more” para assistir uma interessante demonstração e se espantar com algumas novidades pra lá de interessantes (em tempo: o domínio www.bing.com.br já foi comprado pela MS e, por enquanto, leva diretamente ao sítio do domínio americano). Ou visitar o sitio do < http://blogs.msdn.com/virtualearth/archive/2009/05/28/rebranding-microsoft-virtual-earth-to.aspx > Virtual Earth, a plataforma de mapas da MS, para ver como ela se integrará ao (na verdade será absorvida pelo) Bing.

Por enquanto tudo o que se sabe sobre o Bing é aquilo que a MS divulgou sobre seu produto, portanto não se deve esperar senão elogios. E pode ser (por que não?) que o Bing não passe de mais um tiro n´água disparado pela MS. Ou não: pode ser que o novo Bing seja um sucesso estrondoso e venha efetivamente revolucionar o mundo das buscas pela Internet.

Em suma: se o produto é efetivamente bom, não sei. Pode ser, pode não ser. Mais sei que dentro de uma semana todos nós teremos esta dúvida dirimida com uma visita ao Bing.

Mas pelo que eu vi nos vídeos e andei lendo em comentários de colunistas independentes (como a coluna < http://news.cnet.com/8301-13860_3-10250614-56.html?tag=nl.e703 > “How Microsoft's Bing came to be” de Ina Fried do cnet news), sei não, mas se eu fosse da Google botava as barbas de molho...

 

B. Piropo