Sítio do Piropo

B. Piropo

< Coluna em Fórum PCs >
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22/06/2009

< Intel Editor’s Day 2009 >


Todo ano a Intel reúne no “Intel Editor´s Day” um grupo de jornalistas da imprensa especializada (eu estava inclinado a escrever “seleto grupo de jornalistas”, mas se eu estou nele é porque não é tão seleto assim; há ocasiões em que me inclino a concordar com Groucho Marx quando afirmava que jamais entraria para um clube que o aceitasse como sócio). Este ano, do Fórum PCs, estávamos lá eu e o Grande Mestre Flávio Xandó, cuja coluna sobre o assunto vocês encontrarão alhures.

O nome do evento não é dos mais apropriados. Primeiro, porque não dura um dia, mas geralmente três ou mais. Depois, porque o dia é mais da Intel que dos editores. Mas, seja como for, é aquilo que se pode chamar de evento imperdível. Porque nele a Intel, líder indiscutível do mercado de microprocessadores, discute seus planos para o futuro próximo.

O Editor’s Day não é um evento técnico. Estes, a empresa prefere discutir, também anualmente, no Intel Developers Forum, o IDF. O Editor’s Day é mais voltado para os aspectos mercadológicos. Tanto assim que, logo após a palestra de abertura, Elber Mazzaro, Diretor de Marketing da Intel para Brasil, apresentou um estudo sobre os hábitos de consumo dos brasileiros no que toca à aquisição de computadores.

O estudo mostrou ser o consumidor brasileiro (curiosamente, empatado com o francês) aquele que menos pesquisa preços e características na hora da compra: Enquanto 80% dos consumidores americanos e 73% dos britânicos buscam algum tipo de informação antes de comprar um novo micro, entre nós esta porcentagem cai para 64%. Destes, 97% efetuam pesquisas exclusivamente pela Internet e, curiosamente, 66% não têm a opinião inicial alterada pela pesquisa. E, quando a decisão é tomada, 78% deles vão às lojas efetuar a compra – contra uma porcentagem bem menor dos que compram pela Internet ou via “call center” (veja as porcentagens assinaladas pelas marcas ovais na Figura 1).

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Figura 1: Processo de compras

A pesquisa foi conduzida em 12 países e abarcou 400 consumidores em cada um deles. O resultado, segundo Mazzaro, “confirma uma característica da cultura do povo brasileiro, que prefere ouvir a opinião de outros consumidores e amigos a procurar uma fonte impessoal”. O que inclui opiniões expressas na chamada “mídia social” (sítios como o Orkut e assemelhados) e blogs (cuja importância como fonte de consulta na hora da compra triplicou desde o ano passado, evoluindo de 6% para 17% dos entrevistados).

Outro ponto interessante apontado pelo estudo é o tempo que transcorre desde o momento em que se decide efetuar a compra e aquele em que ela é realmente efetivada: em média, quinze dias (assinalado na Figura 1 pela oval maior). Mas o dado curioso é quem leva mais tempo amadurecendo a decisão. Pois, enquanto os consumidores mais pragmáticos levam apenas seis dias para decidir, os especialistas em tecnologia demoram 21 dias. Informação demais dá nisso...

Figura 2: Antecipando o amanhã

O Editor’s Day é um evento temático. Este ano o tema foi “Antecipando o amanhã”. Que repetiu mais ou menos o das edições anteriores, já que este é sempre o objetivo do evento: discutir com a imprensa especializada o que a Intel pretende fazer no futuro próximo. Mas como este ano é um ano de crise, o evento sofreu uma ligeira mudança de foco. Em vez de abordar o que ela pretende fazer, a Intel mostrou-se mais preocupada com o que o mercado fará.

Uma preocupação mais que justificável pois como, em tempos de crise, prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém, o mercado está convencido que não é hora de gastar. Fato que foi cabalmente confirmado por uma pesquisa da Wipro realizada em cem empresas nos EUA e Europa, que mostrou que 32% delas pretendem adiar a renovação de seus computadores para reduzir investimento. E aí está a Figura 3, exibida na apresentação de Maurício Ruiz durante o evento, que não me deixa mentir.

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Figura 3: Ciclo de renovação de PCs nas grandes corporações

Acontece que esta é o tipo da coisa que não interessa à Intel. Mas como, evidentemente, os demais empresários estão mais preocupados com seus próprios interesses que com os da Intel, ela dedicou boa parte do evento para demonstrar que, neste caso particular, por paradoxal que pareça, os interesses coincidem. E o fez se apoiando em dados da pesquisa da Wipro.

Segundo ela, a coisa funciona assim: em tempos “normais”, as grandes empresas renovam um terço de seus computadores por ano. O que faz com que a cada três anos todo o conjunto de computadores (que pode chegar a algumas dezenas de milhares de máquinas, dependendo do porte da empresa) seja renovado. Considerando o ciclo médio de vida das máquinas corporativas e tomando em conta a rapidez da evolução da tecnologia, isto é o bastante para manter as empresas atualizadas.

Mas o que aconteceria se, em um dado ano, uma empresa decidisse adiar para o seguinte a renovação de suas máquinas? Em princípio o resultado seria uma razoável economia, já que isto reduzirá significativamente os gastos em investimentos naquele ano.

Redução que, naturalmente, a Intel não contesta. O que ela contesta é que esta redução de custos de investimento de fato resulte em economia. Pois, ainda segundo a pesquisa, o aumento de gastos nos demais “agentes de custo” causados pelo adiamento será maior do que o que se poupou em investimento. Portanto, em vez de economia, haverá prejuízo.

Os “agentes de custo” são formados pelas despesas operacionais e pelos custos de atualizar o hardware e software dos PCs antigos, mantê-los (diagnóstico e reparo), isolar e recuperar os infectados por vírus e afins e recuperar falhas em seus discos rígidos. Repare na Figura 4, que mostra o aumento destes agentes ao longo dos anos

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Figura 4: Custos de suporte de PCs

Um exame da figura leva à conclusão que, a partir do quarto ano, a soma destes custos relativos aos micros portáteis (“notebooks”) monta a US$ 1.136 anuais e a micros de mesa (“desktops”) a US$ 688. O que, no mercado internacional, equivale aproximadamente ao custo de um novo PC. Portanto mais vale a pena comprar um micro novo que gastar o mesmo com sua manutenção.

A conclusão lhe pareceu estranha porque, em seus computadores pessoais, os mesmos “agentes de custo” não chegam sequer perto disso? A mim também. Até examinar a questão com mais vagar. Pois, nas corporações, os custos são apurados com maior precisão. Será que quando você pensa nos custos de operação e manutenção de seus micros, leva em conta a atualização de software? O tempo gasto em varreduras periódicas contra vírus e demais “malwares”? O acréscimo daquele HD para armazenar filmes e músicas? E o custo de energia? Porque a cada ano os novos processadores e “chipsets” são mais e mais otimizados para reduzir o consumo de eletricidade. O que, na sua casa, pode não fazer diferença. Mas em alguns milhares de PCs funcionando ao mesmo tempo, indubitavelmente, corresponde a um custo apreciável. Isso sem falar na redução de gastos para refrigerar os centros de processamento de dados, que caem devido à menor dissipação de calor dos processadores de última geração.

Em outras palavras: o ciclo de três anos não ocorre à toa. Ele é fruto da experiência empresarial que mostra que ele corresponde à otimização de custos. E a pesquisa veio confirmar isso.

É certo que a pesquisa foi efetuada nos EUA e Europa e evidentemente as condições brasileiras podem ser diferentes. Assim como os pesos dos custos de operação e manutenção. Mas a idéia toda faz sentido e merece um estudo de viabilidade antes de decidir pelo adiamento.

Em um evento como o Editor’s Day, a Intel não poderia deixar de abordar seu programa “The World Ahead”, que prevê o investimento de US$ 1 bilhão em iniciativas para acelerar o acesso à tecnologia e educação nos países em desenvolvimento (inclusive o Brasil) e que vem sendo tocado com crise ou sem ela. O programa se divide em quatro ramos principais: acesso à Internet, disseminação da Internet em alta taxa (“banda larga”), atendimento de saúde e educação.

Figura 5: o programa World Ahead da Intel

E foi neste último ramo, o da educação, que brilhou a estrela do evento: o Classmate PC conversível.

A idéia do Classmate data de 2006, quando foi anunciada sua fabricação no Brasil justamente no IDF 2006 realizado em São Paulo. Na ocasião publiquei a coluna “Pausa para dois eventos: II – IDF São Paulo 2006” onde descrevia as características básicas do que foi a primeira geração do Classmate. Trata-se de um computador de tamanho e capacidade semelhantes aos dos atuais “netbooks”, porém voltado especificamente para a educação, ou seja, para uso em sala de aula por alunos do primeiro grau.

O micrinho é cheio de bossa. Por exemplo: nada impede que o aluno o leve para casa. Ao contrário, ele foi concebido para que mesmo fora de sala o aluno possa ter acesso à Internet e use o Classmate em casa ou qualquer outro lugar seja em suas atividades escolares, seja para lazer. Mas deixar uma criança carregar um micro de um lado para outro é um convite aos larápios do tipo que rouba doce de criança. Como impedir o furto?

Simples: tornando o micro roubado um objeto inútil. O que ocorre se no decurso de dois ou três dias (ou mais; o período é configurável) o micro não for conectado à rede da escola. Nesse caso o bichinho trava e, como esta função vem implementada no próprio hardware, não volta a funcionar nem com reza braba. O tipo do dispositivo antifurto simples e eficaz.

A grande novidade é que no Editor’s Day deste ano a Intel apresentou o modelo conversível. Um micrinho simpaticíssimo que será aqui fabricado a partir de outubro.

Figura 6: O Classmate PC Conversível

Veja o Classmate Conversível na Figura 6. Ainda será do tamanho de um “netbook”, mas com uma tela sensível ao toque que bascula e gira, convertendo o bichinho em um micro tipo “tablet”. Uma pequena joia de dar água na boca. E, melhor: recheado com software desenvolvido por uma equipe de programadores e pedagogos que transforma o micrinho em um inestimável instrumento de apoio à educação.

Figura 7: O Classmate usado como “tablet PC”

Durante o evento foi realizada uma demonstração do Classmate para os jornalistas presentes e não houve quem não se apaixonasse por ele. O programa gráfico, que aparece na tela exibida na Figura 7, é um primor. Assim como o software mestre, que roda no micro do professor e é capaz de controlar todos as funções do Classmate.

Figura 8: Demonstração do Classmate no Editor’s Day 2009

Os Classmates já vêm sendo usados em todo o mundo com indiscutível sucesso. A cidade de Piraí, no Rio de Janeiro, acaba de adquirir mais 5.500 unidades que se juntarão ao estoque já disponível na rede de ensino público, o que fará dela a primeira cidade do mundo a atingir a meta de “um computador por aluno” da rede municipal. Além de Piraí, há outras cidades do mundo que estão buscando esta meta, como Magalhães, em Portugal, e cidades da Venezuela. O modelo conversível, ao que tudo indica, acelerará ainda mais estes programas.

O único problema é que o preço de mercado ainda é um pouco “salgado”. Espero que a Intel, com o apoio dos governos locais, que haverão de conceder generosa redução de impostos (ou isenção, o que seria justo por se tratar de um produto voltado especificamente para a educação) faça com que o custo se reduza até caber no bolso das famílias cujos filhos estudam nas redes públicas pelo Brasil e mundo afora. Porque, inegavelmente, a educação é a mais poderosa mola do desenvolvimento.

A concepção do micrinho é tão genial que, quando vejo um Classmate, não consigo evitar um pensamento: foi para isso que se inventou o computador.

E, se não foi, deveria ter sido...

PS: Durante o Intel Editor’s Day 2009 consegui deslindar o quebra-cabeças que a Intel montou para dar nome a seus processadores. Um negócio realmente complicado. Tão complicado que merecerá uma coluna só para ele. É só esperar uma semana...

 

B. Piropo