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B. Piropo

< Coluna em Fórum PCs >
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27/12/2010

< Máquina dos Sonhos II: Placa-mãe e o resto Autor: B.Piropo >


 

Pois muito bem, vamos adiante. Mas não sem um comentário à margem da questão.
Tenho computadores da linha PC desde a segunda metade da década de oitenta do século passado. Perdi a conta do número de máquinas que tive posto que, por força das circunstâncias e por dever de ofício, sou obrigado a acompanhar a evolução tecnológica. Mas contam-se às dezenas, se é que não passa da casa da centena.
Pois bem: comprada pronta, só a primeira. A partir da segunda, inclusive – um saudoso AT com processador 80286 – todas, sem exceção, foram montadas por mim.
Para montar o AT, ainda nos anos oitenta, tive que fazer um curso de montagem. Naquela época não os havia no Rio e tive que ir a São Paulo por uma semana exclusivamente com este objetivo. Ainda me lembro do meu espanto ao ouvir do
instrutor, logo na primeira aula, que “montar computadores é muito fácil; a única dificuldade que pode surgir é não encontrar o parafuso certo na hora em que você precisa dele”. Na verdade, lembro toda vez que, durante uma montagem, procuro pelo parafuso certo e não o encontro – o que ocorre com bastante frequência e, de fato, é a única dificuldade que tenho que enfrentar.
(ZERO)
Mas por conta de que todo este palavrório?
Bem, a máquina está pronta e em uso, devidamente entronizada em minha mesa de trabalho, ao lado de seus monitores e logo abaixo da foto da moça mais linda do mundo – que por acaso vem a ser minha neta. É claro que dá prazer usá-la. É praticamente a última palavra em tecnologia e tem todo o necessário para agradar o mais exigente dos usuários.
Mas todo este prazer nem chega perto daquele que senti ao montá-la.
Há algo de mágico em juntar um monte de peças inanimadas, encaixá-las, aparafusá-las, ajustá-las, configurá-las e, não mais que de repente, estar-se diante de um computador em pleno funcionamento. Por mais que se saiba como tudo aquilo se combina e por maior que seja seu conhecimento da arquitetura interna e dos princípios da eletrônica digital que efetivamente tornam aquilo possível, a sensação é muito parecida com a de criar vida a partir do nada. E, a cada máquina que monto, jamais deixo de me maravilhar diante da aparente façanha.
É claro que não estou sugerindo que cada um de vocês passe, a partir de agora, a montar suas próprias máquinas. Nem todo o mundo tem disposição para isto e, embora existam livros excelentes ensinando a fazê-lo (como os do Mestre e amigo Laércio Vasconcelos), o bom mesmo é fazer um curso antes de montar a primeira (e você nem precisará ir a São Paulo: provavelmente uma pesquisa na Internet indicará um na sua cidade ou perto dela). E nem todo o mundo dispõe do tempo necessário para o curso.
Só estou dizendo que aquele aficionado por tecnologia que desejar fazê-lo, dispuser do tempo, dinheiro e disposição necessários e decidir investi-los neste mister, dificilmente irá se arrepender.
E então entenderá o prazer a que me referi lá em cima...
Agora, voltemos ao que interessa.

A placa-mãe
A placa-mãe, Crosshair IV Formula da ASUS, é um primor. Um primor absoluto. Veja uma análise de suas virtudes no artigo de Hilbert Hagedoorn publicado no sítio < http://www.guru3d.com/article/asus-crosshair-iv-formula-review/ > “The Guru of 3D”.
Uma placa destas, na verdade, é muito mais do que eu preciso. Ela foi concebida tendo em mente o usuário entusiasta por jogos e disposto a tirar o máximo proveito de cada componente de sua máquina, inclusive e principalmente do microprocessador e memória principal. Por isso não somente oferece recursos de ajustar suas tensões de alimentação e frequências de operação para aprimorar o desempenho (“overclock”) até níveis inimagináveis e com uma extraordinária flexibilidade, como também, o que talvez seja mais importante, quando alguma coisa não dá certo, permite efetuar a recuperação das configurações padrão com um simples toque em um botão. E mais: através de um recurso elegante e inteligente denominado “ROG Connect” (ROG são as iniciais de “Republic Of Gamers”, uma série especial de placas-mãe da ASUS desenvolvidas especialmente para entusiastas de jogos) é possível conectar uma porta USB específica situada na traseira da placa a um segundo micro (em geral um portátil) e, com o auxílio desta máquina adicional, não somente alterar as configurações do BIOS da placa (inclusive as voltadas para aumento do desempenho) como diagnosticar seu funcionamento “à quente” como se faz com os carros de Formula I. E eu não preciso de nada além de, digamos, um bom carro esportivo. Mas era ela que estava à mão e foi a ela que recorri. Afinal, trata-se da máquina dos sonhos e, em casos assim, melhor pecar por excesso que por falta.

Figura 1: Placa-mãe Crosshair IV Formula

A placa é tão avançada no que toca aos aspectos de configuração e aceleração do desempenho que oferece alguns recursos peculiares. Por exemplo: se durante a inicialização a máquina travar em virtude da falha de um componente, pode-se identificar qual o responsável pela falha examinando quatro minúsculos LEDs situados junto ao conector principal de força que indicam o estado da UCP, memória principal, placa de vídeo e dispositivo de inicialização (número 1 da Figura 1). E, para dar mais segurança a quem se aventurar a alterar as tensões de alimentação, a Crosshair IV Formula oferece o recurso denominado “Probelt”, oito pontos de medição de tensão situados bem à mão, junto à borda da placa e próximo aos conectores (“slots”) da memória principal (número 2 da Figura 1) onde, com a ajuda de um multímetro, se pode conferir as tensões de alimentação, desde a da UCP e memória até as dos circuitos integrados do “chipset”.
A placa vem com soquete AM3, portanto aceita apenas processadores da AMD. De preferência os do topo da linha: foi concebida para ser usada com processadores AMD Phenom II e aceita os novos modelos de seis núcleos.
Seu “chipset” é composto por dois circuitos integrados. O usado como ponte sul (“southbridge”) é o SB850, com suporte nativo para seis portas SATA de alto desempenho (padrão SATA revisão 3.0 ou SATA-600, com taxa de transferência de 6 Gb/s; note, no número 3 da Figura 1, que as seis portas SATA-600 situadas na placa estão localizadas de tal forma que os cabos encaixam na horizontal, o que evita que uma placa de vídeo excessivamente longa interfira fisicamente com a conexão ). Além destas portas, que comportam a configuração em RAID, há duas portas SATA adicionais, estas aderentes ao padrão SATA-300, uma delas (número 4 na figura 1) situada junto ao conjunto de portas SATA-600 e destinada preferencialmente a acionadores de discos óticos (CDs e DVDs) e a segunda, externa, entre os conectores do painel traseiro.
Já a ponte norte (“northbridge”), além dos dois conectores PCI, controla a enormidade de 42 pistas PCI Express distribuídas por quatro conectores (“slots”) PCI-E (os vermelhos que aparecem na Figura 1). Destes, o primeiro e o terceiro (da direita para a esquerda; o conector 1 é o mais próximo da UCP) usam sempre 16 pistas – portanto, quem pretende instalar duas placas de vídeo em configuração “crossfire”, um recurso suportado pela placa-mãe, deve encaixá-las nestes dois “slots”.
Um ponto interessante a notar na Crosshair IV Formula é que ambos os CIs que compõem o “chipset”, assim como o conjunto dos circuitos reguladores de tensão da placa-mãe, são dotados de dissipadores de calor passivos, todos conectados através de um condutor de calor (“heatpipe”).
Já há muito tempo os controladores de memória primária dos processadores AMD são incorporados aos próprios processadores e não mais à chamada ponte norte. No caso da Crosshair IV Formula, são suportados módulos DDR3 de até 4 GB de capacidade cada e frequência máxima de 1866 MHz (que podem ser ajustados para trabalhar em até 2 GHz caso se pretenda acelerar o desempenho do sistema). Com isto é possível instalar um total de 16 GB de memória principal povoando os quatro conectores (“slots”) de memória, dois pretos e dois vermelhos (situados, na figura 1, imediatamente abaixo do soquete da UCP), com um módulo de 4GB em cada um.
Um ponto interessante : a Crosshair IV Formula vem com o “GO Button” (número 5 na Figura 1). Este botão, ao ser acionado imediatamente antes do autoteste de partida (POST), dispara a função “Mem OK” que exibe na tela, durante a inicialização, o resultado do teste dinâmico dos módulos de memória, indicando eventuais incompatibilidades com o chipset. Porém este mesmo botão, se pressionado com a máquina em funcionamento, altera os ajustes do BIOS de acordo com um arquivo adrede preparado e gravado na própria memória do BIOS. Neste arquivo se pode armazenar ajustes para acelerar o desempenho. Estes ajustes, evidentemente, podem ser bastante agressivos, posto que é possível revertê-los dinamicamente. A placa Crosshair IV Formula deve ser o paraíso dos “overclockers”...
E por falar em “overclock”: na lateral da placa há quatro interruptores tipo botão (número 6 da Figura 1). Os dois primeiros de baixo para cima servem, respectivamente, para reinicializar (“reset”) o sistema e ligar a máquina, evitando aquela chateação de “futucar” o conjunto de contatos dos interruptores do painel frontal com uma chave de fenda ou outro objeto metálico. Estes dois botões são extremamente úteis quando se efetua testes de configuração da placa sobre a bancada. Os outros dois são o interruptor “core unlocker” (que “destrava” todos os núcleos do processador) e “Turbo Key II” (que executa um “overclock” automático). No parágrafo anterior eu escrevi “deve ser”? Falha nossa. A Crosshair IV Formula é o paraíso dos “overclockers”...
Além disso, o trivial. A placa não oferece suporte para dispositivos IDE (ou PATA, de “parallell ATA”) nem acionador de disco flexível (“drive” de disquete). Mas oferece 12 portas USB 2.0, seis delas no painel traseiro, duas portas USB 3.0, ambas no painel traseiro, duas portas IEEE 1394 (ou “firewire”), uma no painel traseiro e uma interna, e uma controladora de rede padrão Gigabyte LAN no painel traseiro. Além disso dispõe de uma controladora de áudio de oito canais de alta definição (HD Audio) e oito conectores para ventoinhas externas. Todos os capacitores são fabricados no Japão, de alta qualidade, e os contatos de alguns conectores (como os de áudio analógico) são banhados a ouro.
Quer dizer: era o que faltava para se poder afirmar que esta placa-mãe é uma joia.

O Resto (mas nem por isso desimportante)
O processador é um Phenom II X6 1055T de 2,8 GHz da AMD, o segundo mais rápido oferecido pela empresa (o primeiro é seu irmão 1090T que opera a 3.2 GHz). Fabricado com tecnologia de 45 nm, tem um cache interno de 6 MB, dissipa uma potência de 125 W e usa a arquitetura Thuban, a mais recente da empresa – que voltou a usar o recurso denominado Turbo Core, que permite que cada núcleo ajuste sua frequência de acordo com a demanda do processamento, com resultado semelhante à técnica TurboBoost empregada pela Intel. Uma análise (com resultado satisfatório) do desempenho do processador, efetuada pelo conceituado sítio Anandtech, pode ser encontrada < http://www.anandtech.com/show/3674/amds-sixcore-phenom-ii-x6-1090t-1055t-reviewed > aqui. Considerando que a placa-mãe Crosshair IV Formula aceita apenas processadores da AMD, o Phenom II X6 1055T era a segunda melhor opção possível, com desempenho bastante próximo (e, em alguns aspectos, superior – veja o artigo acima citado) ao dos processadores equivalentes da Intel. Que, não obstante, custa uma fração do preço dos chips Intel. Portanto, talvez ele não seja o mais rápido processador disponível no mercado, mas – e esta é a opinião unânime de praticamente todos os analistas – é certamente o que apresenta a relação custo / desempenho mais favorável.  Aí está ele, na Figura 2, devidamente aboletado em seu soquete da placa ASUS, logo abaixo dos módulos de memória.

Figura 2: Processador e memória instalados

E por falar em memória... A mais rápida aceita pela placa-mãe seria uma DDR3 de 1833 MHz, mas a memória constava da lista dos itens que não foram encomendados e não consegui encontrar módulos desta frequência. O que encontrei de mais rápido e de fabricante confiável foram os módulos DDR3 1600 da Kingston de 2GB cada, dos quais um deles é exibido no alto da Figura 3. Comprei quatro, que foram devidamente instalados como mostra a Figura 2, o que elevou a capacidade de memória primária da máquina para 8 GB. Como o sistema operacional instalado na máquina é o Windows 7 de 64 bits, toda ela é “enxergada” pelo sistema.

Figura 3: Memória RAM e disco de sistema

O que se vê na parte inferior da Figura 3 é o disco de sistema. Tecnicamente não se trata de um disco, mas de um dispositivo totalmente constituído de memória, um SSD (ou “disco” de estado sólido) sobre o qual já escrevi uma pequena série de colunas que começa < http://blogs.forumpcs.com.br/bpiropo/2008/10/19/discos-de-estado-solido-ssd-i-os-novos-discos-da-emc/ > aqui.
As especificações do bichinho podem ser encontradas < http://www.crucial.com/store/partspecs.aspx?IMODULE=CTFDDAC128MAG-1G1 > aqui. É um dispositivo aderente ao padrão SATA 600 que suporta taxas de transferência de 6 Gb/s. Ora, como este padrão é suportado pela placa-mãe (e poucas placas o suportam), por questões de otimização este seria o dispositivo de armazenamento ideal para a máquina dos sonhos.
O problema é que a tecnologia SSD ainda está em um estágio em que seu desenvolvimento técnico avançou significativamente mas seu grau de disseminação ainda não chegou ao ponto de forçar a queda dos preços, que ainda estão estratosféricos. O resultado é que os disquinhos são, realmente, infernalmente rápidos (a inicialização da máquina com Windows 7 Professional Plus de 64 bits, do momento em que aciono o botão “liga” até o sistema ser carregado e solicitar a senha, leva exatamente 43 segundos, cronometrados) porém absurdamente caros. A solução era comprar um com capacidade suficiente para instalar o sistema mas que coubesse no meu bolso (refiro-me ao preço, naturalmente).
Havia três modelos disponíveis. O menor (e mais barato) armazenava apenas 64 GB e custava pouco menos que US$ 150. O maior, de 256 GB, custava perto de US$ 600. Optei pela solução intermediária: o dispositivo da foto armazena 128 GB e custou menos de US$ 300.
Nele, procuro manter apenas os arquivos do sistema operacional e mais o mínimo indispensável. Com isto, usei menos de 50 GB de sua capacidade de armazenamento e ainda mantenho livres quase 80 GB. O restante (arquivos executáveis e toda a parafernália que acompanha os programas modernos) jogo no segundo disco rígido, um SATA 300 de 1 TB. Com isto tenho um conjunto razoavelmente equilibrado. E a máquina, acredite, ficou um foguete.
Finalmente, o dissipador de calor, um NH-U9B SE2 da Noctua.
A primeira vez que vi um deles foi na Computex 2009. Um tipo de dissipador de calor tão interessante que cheguei a citá-lo na coluna < http://blogs.forumpcs.com.br/bpiropo/2009/06/16/notas-da-computex-2009/ > “Notas da Computex 2009”.
A Noctua é uma empresa austríaca especializada na fabricação de dissipadores de calor e ventoinhas. Em princípio pode-se pensar que, afinal, fabricar ventoinhas e dissipadores de calor não há de ser assim um negócio tão difícil. E, de fato, não é. O que é difícil é fabricar dissipadores de calor e ventoinhas em um nível de excelência. Nível este que pode ser aferido através de dois fatores: a eficiência com que o calor é efetivamente removido do sistema e o ruído emitido pelas pás da ventoinha.

Figura 4: Dissipador de calor da Noctua

Pois bem: aí está, na Figura 4, o dissipador de calor NH-U9B SE2 da Noctua montado sobre o Phenom II X6 (o dissipador pode ser usado tanto em placas mãe com processadores da Intel quanto da AMD e todo o material necessário para fixação em ambos os sistemas acompanha cada unidade). Repare que são duas ventoinhas, soprando no mesmo sentido, uma de cada lado de uma estrutura metálica composta de aletas que são atravessadas pelo fluxo de ar. O tamanho do dissipador dá uma ideia da superfície livre, arejada, através da qual a energia térmica se transfere para o ambiente interno do gabinete (de onde é removida pelas cinco ventoinhas do Lanboy Air). A eficiência térmica é altíssima. Porém o mais impressionante é o silêncio com que tudo funciona.
Pronto, a máquina está praticamente toda aí. E é quase toda novinha em folha.
O comentário é pertinente porque, quando monto uma máquina “nova” para atualizar meu sistema, uma razoável parte dela é composta por componentes e periféricos removidos da “velha”. Mas desta vez a coisa foi diferente. O único material “reciclado” foram dois acionadores e gravadores de discos óticos (um deles DVD de dupla camada, o outro BluRay) e um pequeno dispositivo com leitores de diferentes formatos de cartões de memória. Todo o resto, inclusive fonte de alimentação e cabos, foi tirado da caixa.
Um negócio bem consentâneo com a época natalina.
Pois, como a maioria dos demais adolescentes, cá estou eu, todo satisfeito, com meu brinquedo novo...
B.Piropo
PS: Desculpem, mas não posso deixar de comentar um fato que nada tem a ver com a coluna mas que interessa a todos os que prezam o bom português para que avaliem o que o uso abusivo de termos em inglês está fazendo com nosso pobre idioma, No início deste texto usei o termo “mister” (que se pronuncia com a última sílaba tônica) na acepção de “ocupação”. É uma palavra que existe em português há cerca de um milênio (o Houaiss dá conta que ela deriva do latim “minister / um” e foi incorporada a nosso vernáculo em 1170), foi usada no contexto correto e, apesar de não ser empregada com frequência, definitivamente não caiu em desuso. Pois bem: tenho por hábito, antes de publicar meus textos, submetê-los a um corretor ortográfico para flagrar eventuais erros, seja de digitação, seja provocados por minha não desprezível ignorância. Pois bem, não é que o corretor ortográfico (do Word 2010) sugeriu que eu trocasse o termo “mister” por “senhor”?
É nisso que dá daunloudear arquivos, estartar máquinas, visitar sites, printar documentos e deletar palavras... E o português? FUCKIT (Fica Uma Coisa Kafkiana, Ininteligível, Tristonha... )
E, antes que eu me esqueça: Feliz Ano Novo.

 

B. Piropo