Sítio do Piropo

B. Piropo

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15/01/2013

< Prazer, Piropo, a seu dispor >


Meu nome é Piropo – embora haja quem não acredite. Além de engenheiro de nascença (meu pai foi engenheiro, assim como meu avô e pelo menos um terço da ala masculina da família) sou usuário de computador. Primeiro por necessidade, depois por curiosidade e, por fim, por prazer.

Explico.

O início da fase da necessidade deu-se lá pelos meados dos anos oitenta do século passado quando, com mais de vinte anos de experiência profissional, descobri que não poderia continuar sendo engenheiro sem alguma familiaridade com os computadores. Então comprei um e comecei a tentar usá-lo.

Não consegui. Aquela máquina diabólica não somente se recusava a fazer o que eu desejava como teimava em fazer o que eu não queria. Era preciso aprender a domá-la.

Literatura para leigos, não havia. Suplementos de jornais ou revistas especializadas, nem pensar. Eu fazia, então, o que era habitual naqueles dias: recorria ao "amigo que entendia de computador" que todos tinham e que comigo compartilhava o pouco que sabia.

Eram os tempos heroicos do DOS com interface de caracteres e havia que decorar os comandos. E eu os anotava, um a um, como se fossem palavras mágicas tipo "abracadabra" ou coisa parecida. Dizia meu amigo: "Vai começar a usar um disquete?" (de 5"1/4, naturalmente; discos rígidos não havia) "Pois antes é preciso introduzi-lo no acionador, digitar 'FORMAT A:' e teclar ENTER". E acrescentava: "Mas cuidado! Se você digitar 'FORMAT A: /S' já é diferente e além de formatar você tornará o disco inicializável". Eu não fazia a menor ideia do que aquilo queria dizer, mas anotava tudo diligentemente e com profundo respeito pelos conhecimentos superiores do mestre e amigo. Até chegar à conclusão que, assim, não dava.

Começou, então, a fase da curiosidade. Afinal, aquilo não passava de uma máquina e máquinas se submetem à lógica. Meu computador tornou-se um desafio tipo "decifra-me ou te devoro". E sou patologicamente incapaz de resistir a um desafio deste tipo.

Comecei então a fuçar livrarias, comprar e ler tudo o que encontrava sobre o assunto, sempre em inglês. Assim li coisas que vocês jamais acreditarão, como um manual inteiro do PET, um computador pessoal de oito bits que, já então, não se fabricava há anos. Com o passar do tempo aprendi a ficar mais seletivo, descobri os livros do Peter Norton, as colunas do John Dvorak e mais dois ou três autores que escreviam coisas inteligíveis e fui aprendendo. Foi quando o computador, de meio, passou a fim. Lia insaciavelmente tudo o que me caía nas mãos sobre o assunto, fiz cursos de programação em BASIC e C, em suma: viciei-me. Em três anos já programava em Assembly para x86. Passei, então, para meus amigos, a ser o "amigo que entendia de computador". Ou, pelos menos, o amigo que eles pensavam que entendia de computador (alguns pensam até hoje).

Daí para frente foi a fase do prazer. Acompanhar a evolução da tecnologia virou mania, para me manter a par das novidades passei a frequentar as feiras de informática que, antes da Internet acabar com elas, eram muito comuns e dava pitacos nos BBS (nunca ouviu falar? Ora, era a forma de se cultivar amizades virtuais na era pré-Internet, trocando mensagens de texto puro via modem entre membros de um simulacro de clube de maníacos por tecnologia).

E acabei sendo convidado a escrever sobre o assunto.

Foi assim que, em março de 1991, tornei-me um colunista de informática.

Escrevi – e ainda escrevo – em jornais de grande circulação e sítios da Internet. Tudo – ou quase tudo – o que produzi nestes mais de vinte anos de colunista está preservado nas seções do Sítio do Piropo. Inclusive os textos de um programa regular que mantive por algum tempo na Rádio CBN e os vídeos de um quadro levado ao ar pela extinta TV Manchete por um curto período.

Meu objetivo – tanto quando escrevo como quando leciono, pois acabei me tornando professor universitário de Arquitetura de Computadores – sempre foi mostrar como é simples o aparentemente complicado. Cansado de ouvir e ler pseudo-sumidades deitar falação sobre computadores usando propositalmente uma linguagem excessivamente técnica cujo objetivo maior é exibir seus supostos conhecimentos arcanos em vez de elucidar a questão, resolvi fazer justamente o oposto: escrever sobre computadores usando uma linguagem tanto quanto possível despida de termos técnicos e buscando mostrar que as coisas são imensamente mais simples do que parecem – ou do que pretendem fazer parecer – no que toca ao funcionamento dos computadores.

Em suma: passei os últimos vinte anos escrevendo sobre computadores principalmente para um público composto por leigos e usuários domésticos. Como a coluna que assinei por oito anos no ForumPCs.

Ah, sim, o ForumPCs...

O ForumPCs foi um excelente sítio sobre tecnologia. Excelente não porque eu nele escrevesse, mas pelo conteúdo e pela qualidade dos demais colaboradores. Embora vez por outra abordasse um tema corporativo, era fundamentalmente voltado para o usuário doméstico. Desde o iniciante, em busca de dicas e truques para usar sua máquina recém-adquirida, até o entusiasta por jogos que montava ele mesmo máquinas poderosíssimas, com capacidade gráfica estarrecedora, capazes de rodar os jogos mais exigentes.

Há pouco mais de um ano o ForumPCs foi adquirido pela IT Mídia, que agora completa 15 anos e passou a fazer parte de sua variada lista de produtos. Figurava nela como "o veículo ideal para a comunicação com o público entusiasta em relação à tecnologia". E, de fato, o era.

Pois bem: o mercado evolui e as empresas devem acompanhar esta evolução. Ou seja: as coisas mudam. E a mudança mais recente na estrutura de produtos da IT Mídia para acompanhar a evolução do mercado resultou na migração da coluna deste que vos fala (digo, vos escreve) para estas plagas.

Plagas (virtuais) onde o público é essencialmente corporativo.

Eis aí, então, um novo desafio: escrever sobre computadores para um público composto principalmente por usuários corporativos.

Ora, mas informática é informática e, embora usado para finalidades diferentes, o computador do usuário doméstico, ainda que não seja igual, essencialmente é o mesmo do usuário corporativo. E o usuário corporativo não é muito diferente do usuário doméstico, posto que tanto uns quanto outros padecem das mesmas dificuldades e desfrutam das mesmas alegrias que os computadores proporcionam.

E, sobretudo, desafios são desafios e não serei eu, que tantos já enfrentei, a desistir diante de mais um.

Portanto, vamos ver como me sairei escrevendo para um público novo.

Se não gostarem, critiquem sem pena. Afinal, começo a trilhar novos caminhos e nada melhor que críticas construtivas para ajudar a ajustar o rumo em terreno pouco conhecido.

Mas, se gostarem, não se acanhem: elogiem. Eu sei que as críticas ajudam a corrigir os erros e melhorar a qualidade da coluna, portanto são mais úteis que os elogios. Mas vez por outra um elogio é sempre bom para afagar o ego...

Isto posto, agora que estamos apresentados, ao trabalho.

Mas só na próxima coluna, que ninguém é de ferro.

Até lá.



B. Piropo