Sítio do Piropo

B. Piropo

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12/03/2013

< Feiras de Informática >


Durante os anos noventa do século passado havia feiras de informática a dar com o pau. A pioneira COMDEX, que começou modestamente em Las Vegas como uma minúscula reunião de aficionados por computadores nos tempos heroicos de 1979 (sim, já havia computadores pessoais naqueles dias, as primeiras máquinas "de oito bits"), espalhou-se, primeiro com duas edições anuais, ambas nos EUA, depois disseminando-se pelo mundo inteiro com edições na Ásia, Europa e até aqui no Brasil (no Rio e em São Paulo). Havia também as feiras regionais. Só aqui no patropi tínhamos a Fenasoft, a Fenacom e mais um punhado de outras.

Naqueles tempos as feiras desempenhavam um papel essencial. Tipicamente, elas transcorriam como dois eventos paralelos. Um deles era uma concorrida e vasta agenda de palestras técnicas agrupadas por temas. O outro era uma exposição de produtos.

Com o transcorrer dos anos e a disseminação das feiras, ambos os eventos cresceram desmesuradamente. O número de palestras técnicas ultrapassava a centena, com destaque para as de abertura de cada dia ("keynote speeches"), sempre proferida por elementos de grande destaque no panorama da informática, como Bill Gates e outros de mesmo gabarito. Ali discutia-se de tudo e, principalmente, disseminava-se conhecimento técnico.

A exposição de produtos não ficou atrás. Começou, no início dos anos oitenta, com um salão onde se espalhavam um punhado de estandes nos quais os raros fabricantes de algo que tivesse a ver com computadores expunham seus poucos produtos. E cresceu. Cresceu tanto a ponto de se estender por vários e imensos pavilhões. A exposição da COMDEX Spring de Chicago no início dos anos noventa se realizava em dois gigantescos prédios destinados exclusivamente a exposições de produtos, ocupando todos os andares disponíveis e ainda se dava ao luxo de agregar uma exposição paralela, o Windows World, igualmente gigantesca, dedicada exclusivamente ao recém lançado Windows e o software e hardware desenvolvido especificamente para ele.

Havia, é claro, uma feroz competição entre os grandes nomes da indústria do hardware e software. Mas, ao menos nas feiras, a competição não era baseada em vendas. Mesmo porque, embora durante elas se fechassem negócios da ordem de centenas de milhões de dólares entre os expositores e participantes, era proibido vender a varejo no recinto da feira. Nelas, a competição era pelo melhor estande. E cada um dos gigantes da indústria se esforçava para montar o maior, mais bonito e mais chamativo. Havia, então, estandes de todo o tipo, desde os pequeninos, de quatro ou cinco metros quadrados nos fundos dos pavilhões onde se alojavam as pequenas indústrias e fabricantes de acessórios, até os gigantescos, de um ou mais andares, geralmente no centro dos pavilhões e se estendendo por centenas de metros quadrados, decorados com luxo extraordinário e apinhados de jovens recepcionistas de roupas extravagantes, moças tão bonitas que aquilo mais parecia um concurso de beleza feminina.

Tudo isto por que? Para que tanta extravagância?

Ora, porque as feiras reuniam não apenas a nata da indústria da informática como também dezenas de milhares de visitantes, dentre os quais podiam se encontrar representantes das maiores cadeias de varejo, a fina flor da imprensa especializada e compradores em potencial de todo o tipo de produto. Então as feiras não apenas permitiam que os grandes vendedores expusessem aquilo que de melhor e mais moderno fabricavam como também que estabelecessem contato com os grandes compradores. E, eventualmente, matassem de inveja os concorrentes.

Isto sem falar no, talvez, principal papel das grandes feiras: funcionarem como imensas plataformas de lançamento de novos produtos, seja na área do software, seja na do hardware. Havia ocasiões em que produtos que estavam prontos para serem lançados no mercado há semanas eram cercados de sigilo absoluto – evidentemente sempre vazavam alguns boatos para aguçar a curiosidade da imprensa, da concorrência e do mercado – para que pudessem ser lançados na feira com toda a pompa e circunstância.

E estes lançamentos eram memoráveis. Como, nos poucos dias de duração das grandes feiras internacionais as atenções de todos aqueles que tinham algo a ver com a indústria de informática em qualquer parte do mundo estavam voltadas inteiramente para elas, os lançamentos alcançavam imediata repercussão mundial. E se continuava a falar neles pelas semanas seguintes.

Eram bons os tempos das grandes feiras. Foram responsáveis pela formação de uma cultura específica. Eram esperadas com ansiedade e repercutiam com enorme amplitude.

Então veio a Internet e as matou.

Ou, pelo menos – como logo veremos – matou a enorme maioria delas, inclusive a emblemática COMDEX, que desapareceu para sempre.

Qual a razão disto?

Ora, não é difícil de descobrir. Afinal, por que investir centenas de milhares de dólares para montar estantes, contratar pessoal e organizar uma exposição ou lançamento de produtos em uma feira se a Internet, que hoje em dia se aboleta praticamente em todo computador na face do planeta, é capaz de promover a divulgação imediata de qualquer coisa em uma fração do tempo e a um custo desprezível se comparado ao aplicado na participação em uma feira?

Tomemos como exemplo a COMDEX Fall de Las Vegas, a maior, mais antiga e mais tradicional delas. A partir do ano 2000, gigantes como a IBM, Apple e Compaq/HP desistiram de participar dela. O número de participantes da edição de 2001 caiu dos duzentos mil recebidos em 2000 para apenas 150 mil. O de exibidores, de 2.350 para 2.000 e a área de exposições de mais de noventa mil metros quadrados para menos de setenta mil. E a partir daí o declínio foi tão rápido que em junho de 2004 o pequeno número de inscritos para a feira foi tão pequeno que obrigou o cancelamento da edição daquele ano, decretando assim a morte da mais tradicional das feiras internacionais de informática.

Figura 1

Mas nem todas pereceram. Três não apenas sobreviveram como cresceram e se afirmaram como os arautos da indústria da informática e telecomunicações em seus continentes: a CES (Consumer Electronics Show) realizada anualmente em janeiro na cidade de Las Vegas, EUA, a CeBIT (Centrum für Büroautomation, Informationstechnologie und Telekommunikation) levada a termo também anualmente em março, na cidade de Hanover, Alemanha, e a COMPUTEX, que ocorre tradicionalmente a cada ano na primeira semana de junho, na cidade de Taipei, Taiwan.

América, Europa e Ásia continuam portanto com suas grandes feiras internacionais.

Grandes mesmo. O número de participantes da CES chega a 150 mil pessoas visitando seus mais de três mil exibidores, a CeBIT chega a receber trezentos mil visitantes e a COMPUTEX recebe anualmente cerca de 150 mil visitantes para conhecer os produtos exibidos em seus mais de cinco mil estandes.

Mas porque todo este papo sobre feira justamente agora?

Bem, porque depois de amanhã, dia 14 de março, irá se realizar em Taipei a "Pre-Show Press Conference" (entrevista coletiva de lançamento) da COMPUTEX 2013, quando tradicionalmente as autoridades governamentais de Taiwan (o evento tem o apoio oficial do Governo do país) e os organizadores da próxima edição da COMPUTEX (que este ano será realizada de 4 a 8 de junho próximo) divulgam as novidades previstas para a próxima edição da feira.

Um dia inteiro de apresentações para a imprensa e visitas técnicas à sede de alguns expositores.

Assunto, naturalmente, da próxima coluna.

Até lá.



B. Piropo