Sítio do Piropo

B. Piropo

< O Globo >
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18/08/2003

< Descartáveis, quem diria... >


Ainda lembro do dia em que vi a primeira câmara digital. Foi numa dessas reuniões de internautas. Não sei quem a levou, mas bem recordo o reboliço que causou. A maravilha passou de mão em mão fotografando todo mundo e, como que para confirmar a abertura das portas de uma nova era, naquela mesma noite exibia na Internet as fotos recém feitas. É claro que me encantei com a novidade e voltei da próxima viagem ao exterior acompanhado de um trambolho daqueles.
Chamo-a de trambolho agora porque estou mal acostumado com minhas câmaras atuais. Aquela era do tamanho de uma velha Rolleyflex tipo caixote (quem lembra?), não tinha tela para prever a imagem, sua resolução era ridícula para os padrões atuais e, não obstante tudo isso, custou-me os olhos da cara.
É claro que como tudo que é lançado nesse campo, de lá para cá a qualidade e os preços tomaram rumos opostos. Hoje em dia compra-se uma câmara de altíssima definição por uma fração do que eu paguei pelo meu primeiro brinquedo. Quem se mantém em dia com o que ocorre no mercado da eletrônica e tecnologia está acostumado com esse fenômeno e até conta com ele: os menos afobados até costumam esperar um pouco após os primeiros lançamentos para comprarem um produto de ponta a preço justo. Eu mesmo já estou preparado para isso. Mas pensei que houvesse um limite, digamos, razoável.
Enganei-me. Porque decididamente não estava preparado para o lançamento no final de julho passado da “Dakota Digital Single-Use Camera” pela maior cadeia de lojas especializadas em fotografia dos EUA, a Ritz Camera Center. Uma câmara digital com sensor tipo CMOS, controle automático de exposição, duas pilhas alcalinas tipo AA (incluídas no preço), flash automático, temporizador, botão para desfazer fotos indesejadas (infelizmente somente a última) e capaz de armazenar 25 fotos em seus 12 MB de memória interna. Não tem zoom nem visor eletrônico para prever a imagem, é verdade. Mas tem uma característica que até agora nenhuma outra câmara digital ousou apresentar: nas lojas das redes Ritz Camera e sua associada Wolf Camera de Chicago e outras 14 cidades americanas, incluindo Washington, Atlanta, Boston, San Francisco e Dallas, custa apenas US$ 10,99. E, imaginem, é descartável.
O fabricante, a Pure Digital, uma associada da rede Ritz, não revela a resolução efetiva da máquina mas informa que, em uma foto impressa no tamanho 20cm x 25cm, a qualidade é “equivalente à de uma câmara de 2 a 3 Megapixels”. Nada mau para o preço.
Evidentemente há alguns senões. Como a câmara usa o formato de proprietário “PDIP” (de “Pure Digital Image Platform”), que só pode ser processado pelo equipamento da Pure Digital, o usuário não pode transferir as imagens diretamente para seu micro. Para obter as fotos, a câmara deve ser enviada aos laboratórios da Ritz ou Wolf que, ao custo de US$ 11, entrega em uma hora as 25 fotos impressas no formato 10 cm x 15 cm, além de um CD com as imagens que, agora sim, podem ser exibidas no PC tanto em grupo quanto ocupando a tela inteira. O programa fornecido juntamente com o CD permite girar as imagens, acrescentar legendas, gravá-las no disco rígido, criar uma exibição de slides, enviá-las por correio eletrônico ou postá-las na Internet.
Segundo um artigo da BestStuff em
<www.beststuff.com/article.php3?story_id=5495>
o público alvo da nova câmara é o usuário eventual que quer guardar algumas lembranças de suas férias de verão (é verão agora no hemisfério norte), é iniciante na fotografia digital e quer evitar as atribulações de imprimir as fotos em casa. E como as vendas de câmaras descartáveis vêm crescendo cerca de 15% ao ano, resolveram juntar as duas tendências, lançando uma câmara digital descartável por pouco mais de dez dólares.
Se alguém me contasse um negócio desses há cinco anos, eu diria que era doido...

B. Piropo