Sítio do Piropo

B. Piropo

O Globo
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30/03/1998

Java: da Agenda ao Computador


"The network is the computer". A rede é o computador. Hoje, com a explosão da Internet, o slogan soa natural. A questão é que a Sun o repete desde o início dos anos oitenta, quando pontificavam os imponentes mainframes e ninguém sabia o que era rede. Mas tanto insistiu que transformou-se em um gigante de 26 mil empregados encravado no coração do Vale do Silício que mantém uma rede que interliga 45 mil máquinas e abriga uma intranet com mais de dois milhões de páginas web. Estranhou? Pois o número de máquinas é, sim, quase o dobro do número de empregados. Afinal, o negócio deles é rede.

Pelo menos por enquanto. Porque ela pretende invadir sua casa, seu carro e seu bolso, infiltrando-se nos pagers, bips, telefones celulares e em toda parafernália eletrônica que o acompanha por aí. Sem falar em televisões, faxes, rádios, caixas de controle de TV a cabo e, evidentemente, computadores. E o fará de forma tão insidiosa e subreptícia que você nem vai perceber, usando uma arma quase invisível: o padrão Java, uma linguagem de programação que roda em qualquer sistema operacional e que segundo ela, vai mudar a maneira de lidar com a informática.

O que pensar de uma sala de projeção onde os espectadores sentam-se de costas para o filme, admirando o projetor? Segundo a Sun, as discussões sobre sistemas operacionais que invadiram as manchetes dos jornais e os tribunais americanos são assim. Pois quando você digita um número em seu telefone celular, sua única preocupação é completar a ligação. O programa armazenado em seus circuitos que o faz funcionar com seu 1,2 milhão de linhas de código, nem ao menos vem à sua mente. Porque com o computador há de ser diferente?

Segundo a Sun, a solução é o Java, um padrão aberto mas cujos direitos lhe pertencem. Programas Java rodam em qualquer sistema operacional que licencie a tecnologia e instale uma "Máquina Virtual Java", uma peça de software que interpreta o código e o transforma em algo que pode ser executado pelo o sistema. E, ao escrever sistema, não me refiro apenas a NT, Windows e similares, mas também àqueles que comandam os celulares, bips e todo dispositivo que usa um microprocessador.

Se o Java vai dominar o mercado, eu não sei. Mas tudo indica que está dando certo: esta semana, aqui em San Francisco, rola a terceira edição do Java One, o congresso internacional de desenvolvedores Java, patrocinado pela Sun. Na palestra de abertura, o salão estava lotado com cinco mil atentos programadores. E, segundo dados oficiais da Sun, o número de inscrições está na casa dos catorze mil, um recorde para este tipo de evento.

A MS que se cuide...

 

B.Piropo