Sítio do Piropo

B. Piropo

< O Globo >
Volte
25/04/2005

< Lei de Moore faz 40 anos >


Gordon Moore é um dos fundadores da Intel. Em 1965 o editor da Electronics Magazine lhe solicitou um artigo para a edição comemorativa do 35º aniversário da revista. O assunto era o futuro dos componentes eletrônicos em semicondutores, a especialidade da Intel.

Ora, os transistores tinham sido inventados em 1947 por três pesquisadores do Bell Laboratories (Bardeen, Brattain e Shockley, que por isso receberam o Nobel de Física de 1956) e a chamada “eletrônica do estado sólido” estava engatinhando. A técnica de criar “circuitos integrados” agregando componentes em um único encapsulamento vivia seus estágios iniciais e a Intel apostava nela todas as suas fichas. Moore, com rara percepção, entendeu que ela seria o futuro da eletrônica e decidiu enfatizar isso em seu artigo.

Neste ponto cabe lembrar que na época os computadores ocupavam andares inteiros. Apenas para nos situarmos: em 1949, somente quinze anos antes, um editorial da revista Popular Mechanics dizia, textualmente: “no futuro os computadores não deverão pesar mais que 1,5 toneladas”. E em 1977, não mais que doze anos depois, Ken Olson, presidente da Digital Equipments Co, indagado sobre a possibilidade da fabricação de computadores domésticos, retrucou com solene empáfia: “Não existe nenhuma razão para que alguém possa querer um computador em casa”.

Naqueles dias o circuito integrado mais poderoso que havia continha apenas trinta transistores. Mas trinta é um número tão bom quanto qualquer outro para extrapolar. E foi o que fez Moore. Notou que nos poucos anos de existência dos circuitos integrados esse número vinha dobrando regularmente e afirmou em seu artigo que isso seria uma tendência, forjando o que veio a ser conhecida como “Lei de Moore”. Um artigo tão importante que hoje  a Intel oferece dez mil dólares por um exemplar da revista que o publicou em 19 de abril de 1965
(veja em < http://news.zdnet.co.uk/hardware/0,39020351,39194694,00.htm >).
Há exatamente 40 anos.

O perigo das extrapolações é que elas mergulham no futuro, um terreno escorregadio. Mas, depois de alguns ajustes (o período em que o número de transistores contidos em um circuito integrado duplica passou de um ano para dezoito meses e hoje em dia anda perto de dois anos) a Lei de Moore se mantém espantosamente válida. Tanto assim que, inteiramente de acordo com ela, o maior circuito integrado a ser fabricado este ano será o Itanium de núcleo duplo, com um bilhão e setecentos milhões de transistores (o que justifica o “espantosamente” aí de cima: chegar a 1,7 bilhão extrapolando a partir de 30 beira o inacreditável).

Em suma: ao completar seus quarenta anos a lei de Moore se mantém absolutamente válida. E há nos meios científicos uma concordância quase unânime sobre dois pontos. O primeiro é que, mantida a atual tecnologia de fabricação de circuitos integrados, ela permanecerá válida por pelo menos mais dez anos. O segundo é que não passará muito daí.

Razões para justificar ambas as afirmativas há de sobra, mas eu não me atreveria a discuti-las aqui. Mesmo porque elas não são importantes (ligam-se à dificuldade de reduzir ainda mais as dimensões já microscópicas da camada de silício onde são moldados os transistores dos modernos circuitos integrados; se você se interessa pelo assunto, visite a seção “Colunas – B.Piropo” do Forum PCs, em < www.forumpcs.com.br ATIVIDADES ENCERRADAS EM 2012 - > e leia a série de colunas sobre o futuro da Lei de Moore).

O que realmente importa é celebrar a extraordinária percepção de um homem que, baseado em poucos anos de observação do que então não passava de uma débil tendência, foi capaz de forjar uma lei que moldou o futuro da indústria da informática.

E que, melhor ainda, continua vivo para saborear os frutos de sua antevisão...

B. Piropo