Sítio do Piropo

B. Piropo

< O Globo >
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29/09/2003

< Vanderpool >


Se teve uma palavra que despertou o interesse dos jornalistas no Intel Developers Forum Fall 2003 realizado há duas semanas em San Jose, na Califórnia, essa palavra foi “Vanderpool”. Ela faz parte dos “quatro Ts”, as quatro novas tecnologias que são a menina dos olhos da Intel. Foi mencionada em todas as palestras de abertura (“keynotes”) de cada dia do evento pelos principais executivos da empresa, inclusive na palestra de abertura do próprio evento, proferida pelo Presidente e CEO da Intel, Paul Otellini, que gastou um bom tempo de sua apresentação falando sobre ela. Parece formidável e todos estariam agora descrevendo detalhadamente essa maravilha se pelo menos alguém soubesse em que, exatamente, ela consiste. Porque falar sobre ela, todo mundo falou. Mas dizer mesmo como é feita, ninguém disse. Ou seja: muito marquetingue e pouco detalhe. Como a coisa parece importante, vou tentar juntar as migalhas de conhecimento esparsas pelo evento para formar uma idéia, pálida que seja, do que virá a ser essa maravilha da tecnologia de microprocessadores.
Segundo informações fornecidas oficialmente à imprensa, Vanderpool (ou VT, de Vanderpool Technology, como é mais conhecida entre os técnicos da empresa) “é uma tecnologia a ser incorporada em produtos futuros concebida para permitir que ambientes múltiplos de software rodem independentemente em um mesmo PC – de forma semelhante a que máquinas da classe ‘grande porte’ operam atualmente... Seu objetivo é tornar a experiência do usuário mais rica aumentando a confiabilidade, flexibilidade e rapidez de resposta do sistema, assim como acelerar a habilidade de se recuperar de travamentos”. Ou seja: não disse muito.
Na palestra, Otellini foi mais explícito. Segundo ele, VT cria “partições independentes” em um computador, no interior do próprio microprocessador, ou seja, diretamente no hardware. Segundo ele, esse particionamento e virtualização do ambiente se consegue hoje apenas nos servidores de alto desempenho. O que ele pretende com Vanderpool é trazer essa tecnologia para o alcance do PC dentro dos próximos cinco anos, “permitindo que os usuários desfrutem de seus PCs de formas diferentes e muito mais confiáveis do que o fazem hoje”.
Que forma seriam essas? Otellini citou algumas. Primeiro exemplo: criar uma “partição independente” na máquina que controla sua empresa para, por exemplo, jogar um joguinho ou copiar um vídeo caseiro (se o jogo ou o vídeo “derem pau”, derrubam apenas a partição onde estão rodando). Segundo exemplo: migrar de sistema operacional, criando uma “partição” na qual mantém seu sistema atual e outra onde instala o novo sistema e usar ambos até decidir com qual deles permanecerá – ou não, podendo ficar para sempre com os dois, já que não será necessário reinicializar a máquina para passar de um para o outro. Terceiro exemplo: o usuário doméstico cria uma “partição” para seus programas, inclusive acesso a bancos e informações financeiras, e outra (ou outras) com os aplicativos e joguinhos usados pelos filhos, que não terão acesso à “partição” do pai. E mais uns tantos exemplos parecidos para sistemas empresariais, onde as informações corporativas seriam mantidas em um espaço separado das informações (e aplicativos) dos empregados. Como a implementação é feita no hardware, o nível de segurança é altíssimo.
Mas o que seriam essas “partições independentes”? Bem, toda tecnologia nos estágios iniciais de evolução é segredo industrial bem guardado e as tentativas de extrair detalhes mais suculentos dos executivos da Intel recebiam como resposta ou uma longa e escorregadia dissertação genérica sobre “máquinas virtuais” e “partições” que, ao fim e ao cabo, não explicava coisa alguma, ou um simples e seco “não estou autorizado a entrar em detalhes”.
O máximo que se pôde deslindar é que se trata de uma tecnologia implementada diretamente no microprocessador que, com a ajuda de um software especialmente desenvolvido, permite criar em um único PC diversas máquinas virtuais completamente independentes, possibilitando que cada uma rode seu próprio (e diferente) sistema operacional. Quando perguntei a Mike Fister, o poderoso Vice Presidente e responsável pelo Enterprise Platform Group da Intel, se isso não era mais ou menos a mesma coisa que o bom e velho 386 fazia desde 1987 quando incorporou o “modo 8086 virtual” que isolava trechos protegidos da memória primária, carregava neles o código do DOS e funcionava como se fossem diferentes máquinas rodando DOS e Windows, ele respondeu que era uma boa analogia, mas “VT é algo muito mais sofisticado”. E, diante da pergunta de um jornalista que indagava se por acaso o resultado não seria o mesmo oferecido pelo VMware (uma extraordinária peça de software que permite rodar sistemas operacionais independentemente em uma mesma máquina), Fister retrucou que era algo parecido, mas muito mais elegante e estável, já que era implementado no próprio hardware.
Em suma: dentro de cerca de cinco anos nossos PCs estarão habilitados a rodar simultaneamente diferentes aplicativos carregados em diferentes sistemas operacionais sem que jamais o mal comportamento de um deles afete o desempenho dos demais. Um tipo de multitarefa, mas envolvendo não apenas aplicativos como também sistemas operacionais. E a julgar pelo entusiasmo dos executivos da Intel sobre o assunto, vai ser o tipo da coisa, digamos, supimpa...

B. Piropo