Sítio do Piropo

B. Piropo

< Opinião >
Volte
07/02/2000

Uma questão de ética

 

Em princípio, já que se trata da resposta à carta de um leitor, o texto abaixo deveria ser incluído na seção "Respostas". No entanto tenho publicado ali apenas as respostas destinadas a esclarecer dúvidas e sanar problemas com o micro e seus programas. E a que vocês encontrarão abaixo tem mais a ver com a ética que com a técnica. Em rigor ela nem mesmo deveria merecer a inclusão neste sítio. Mas como enviei sua resposta ao jornal para publicação e por princípio incluo aqui tudo o que publico nos veículos de comunicação a que tenho acesso, ela não poderia ficar de fora. O que me fez decidir inseri-la aqui neste canto.

É o seguinte: na coluna Trilha Zero de 31 de janeiro de 2000, intitulada "Injeção no olho", eu ensinei como usufruir os serviços do provedor IG. Seguindo os passos descritos, qualquer pessoa poderia acessar gratuitamente a Internet, pagando apenas os pulsos da ligação à companhia telefônica, sem necessidade de formalidade alguma e sem precisar acessar o sítio do provedor ou efetuar qualquer alteração na configuração de sua máquina. Na própria coluna, manifestei minha estranheza sobre a maneira pela qual o provedor teria seus custos ressarcidos. Afinal, feito daquela maneira o acesso era absolutamente livre e gratuito e não exigia sequer que o usuário fosse obrigado a receber qualquer tipo de publicidade (diga-se de passagem que a estranheza permanece: até o momento em que digito este texto, em 06/02/2000, ninguém me forneceu uma explicação satisfatória para tamanha generosidade). A coisa é de tal maneira controversa que deu margem a interpretações equivocadas. Como a do leitor cuja carta transcrevo abaixo que, ao que parece, interpretou o procedimento como uma "esperteza", um expediente feito à revelia do provedor e contra sua vontade e interesse, aproveitando-se de um "furo" deixado inadvertidamente no sistema que permitiria usufruir os serviços sem a necessária contrapartida, seja ela qual fosse. Admito que a coisa é tão estranha que pode, efetivamente, dar margem a este tipo de interpretação. Mas, repito: é uma interpretação equivocada. Para esclarecer a questão, transcrevo abaixo integralmente a mensagem do leitor seguida da resposta que enviei ao Globo para publicação.

Aqui vai a mensagem:

"Lendo a coluna "Trilha Zero" do caderninho de 31/01/00 fiquei embasbacado com a falta de sensibilidade e de tato do B.Piropo quando mostra ao leitor o caminho para criar uma conexão dial-up e livrar-se dos discadores fornecidos pelas empresas que estão provendo internet grátis. Ao meu ver, ao divulgar a coisa da maneira como ele divulgou, o Piropo deu (mais) um tiro no pé. Ora, passa pela cabeça de alguém que qualquer um que seja vai investir milhões de dólares em equipamentos e pessoal pra dar serviço de graça ? Quando o Piropo refere-se aos anúncios que nos são mostrados como "incomodo" ou "publicidade não solicitada" ele está detonando justamente aquilo que financia e viabiliza toda essa caríssima estrutura e está cooperando para que ela deixe de existir. Quanto tempo será que o emprego do Piropo, neste jornal, duraria se todos os anunciantes resolvessem deixar de anunciar por falta de alcance? Se o Piropo não sabe (tenho certeza que sabe!) os provedores gratuitos têm metas a cumprir junto aos anunciantes e lhes fornecem relatórios sobre quantos cliques seus banners recebem. O grande "achado" do Piropo, ensinando o usuário a acessar a rede sem olhar os Banners é tudo o que a Abranet quer. Vai ver ele é sócio... Acredito que o custo de um clique em um ou outro anúncio interessante é baixíssimo para se ter um acesso de qualidade à internet e por isso continuo sim usando os discadores fornecidos pelos provedores gratuitos. Estou fazendo a minha parte e sugiro que todos façam a mesma coisa. Esse "jeitinho brasileiro" é o que há de pior na nossa sociedade.

Fernando R. Inácio

E aqui segue a resposta:

"Desculpe, Inácio, mas acho que você está enganado. "Ensinar o usuário a acessar a rede sem olhar os banners" não é um "achado" do Piropo. É uma sugestão do próprio provedor. O Piropo não fez mais que divulgar o que consta da própria página do IG. Verifique você mesmo acessando <http://www.ig.com.br/conexaopc.html> onde encontrará, descrito passo a passo, exatamente o roteiro que publiquei e que lhe deixou embasbacado. Se houve "falta de sensibilidade e tato", não foi minha, mas do próprio provedor que, de acordo com o que você diz em sua mensagem, seria responsável pelo tiro no próprio pé. Quanto a mim, considero, sim, um incômodo a publicidade quando não solicitada - embora evidentemente entenda sua importância como fonte de recurso para os veículos de comunicação. Aliás, não foi outra a razão de meu espanto e estranheza, manifestados na coluna. Mas, é claro, respeito seu direito de usar os discadores fornecidos pelos provedores gratuitos, que alteram a configuração de sua máquina à sua revelia e fora de seu controle. E de clicar em um ou outro anúncio que ache interessante. Afinal, cada um se diverte como gosta.

B.Piropo