Sítio do Piropo

B. Piropo

Jornal o Estado de Minas:
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29/04/2010

< Telefone esperto >


Há anos uso agendas eletrônicas da Palm. Sempre resolveram todos os meus problemas. Eram maquinetas que, de tão boas, eu diria sem medo de errar que “só faltavam falar”.
Infelizmente a Palm parou de fabricá-las. Agora só fabricam das que já não faltam falar: falam, porque vêm integradas a telefones celulares. O que, penso eu, é lamentável. Parodiando Mark Twain: agenda é agenda, telefone é telefone e os dois não deveriam se misturar.
O problema é que, como eu disse, a Palm – e todas as suas concorrente de bom nível, tanto quanto eu saiba – já não mais as fabrica. Ou, pelo menos, o comércio já não mais as vende. E a minha, uma T|X que me acompanha já há alguns anos, começa a dar sinais de envelhecimento precoce por excesso de uso. O que me obrigou a substitui-la. E como, no dizer da ex-ministra, quando é inevitável há que relaxar e aproveitar (não foi isso que disse a ministra, mas este é um jornal de família e não fica bem repetir o que dizem certos ministros), decidi comprar um telefone esperto (“smart phone” quer dizer telefone esperto, pois não?).
Fui à luta. Procurei umas tantas lojas especializadas em busca de um aparelho que, além de falar, fizesse ao menos o que minha velha agendinha faz (para ser franco, falar mesmo nem era importante). E, depois de muita procura, fui aconselhado a comprar um Motorola Milestone. Que, segundo diziam, era a última palavra em telefone esperto. Acreditei. Comprei um, devidamente desbloqueado como manda a lei, removi o “chip” de meu velho telefone burro e o introduzi no esperto. Falou. Demonstrando que, sem sombra de dúvida, era um telefone. O problema, como descobri, é que não era esperto. Ou, pelo menos, tão esperto quanto se dizia.
Não me entendam mal: o telefone é uma excelente peça de hardware. E o teclado deve ser muito bom. Certamente o problema há de ser de meus dedos, demasiadamente grossos, que teimam em acertar duas teclas por vez. Mas assim que eu submeter meus dedos a um processo de afinamento, tudo ficará bem. Quer dizer, tudo, tudo mesmo, também não.
Porque há o problema dos aplicativos para o sistema operacional desenvolvido pela Google, a queridinha do mercado e, muito apropriadamente, batizado de “Android”. Ou “andróide” em português que, segundo o Houaiss, significa “semelhante ao homem”. Presumo que o nome foi escolhido porque, ao que parece, o Android está para um sistema operacional decente assim como um andróide está para um humano. Chega perto, mas não é a mesma coisa.
É verdade que, caso se pague em separado o acesso à Internet, o bicho acessa o You Tube, baixa músicas e passa filmes. Tem uma câmara de cinco MPx que tira fotos e filma. Para adolescentes, é uma maravilha. Já para um adulto, que precisa do aparelho para tarefas mais sérias como manejar agenda de compromissos e endereços, a coisa complica.
Para que se tenha uma idéia: aquilo que eu costumo chamar de agenda de endereços e telefones e que, no velho Palm T|X armazena, para cada pessoa, o nome, sobrenome, dados diversos, como data de aniversário, comentários e, finalmente, um monte de telefones (porque, hoje em dia, todo o mundo tem um monte de telefones – ou pelo menos três, o de casa, o do trabalho e o celular), o Android chama de “Contatos”. Tudo bem, não me incomodo que chamem meus amigos de “contatos”, mas o problema é que, na lista de contatos do telefone-que-se-diz-esperto Motorola Milestone, só se pode armazenar um telefone por contato. E quando eu me comuniquei com o suporte (via bate-papo, ou “chat”; em caso de dúvida tenho a “conversa” registrada) a resposta, textualmente, foi: “infelizmente é uma característica do aparelho, é possível colocar mais de um número na agenda, porém para cada número será salvo um contato”. Quer dizer: se seus amigos tiverem mais de um telefone, prepare-se para encher rapidamente sua lista de “contatos” com os mesmos nomes.
Se fosse só isso, tudo bem. O problema é que, ainda segundo o suporte, não há como exportar minha lista de compromissos do Palm para o novo telefone-que-se-diz-esperto. Acho que vou ter que trabalhar um bocado fazendo isso “na munheca”. Porque, depois de comprar esse treco, tenho que admitir: nem eu nem meu telefone novo somos muito espertos...

B. Piropo