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B. Piropo

Jornal o Estado de Minas:
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29/11/2012

< Um novo ARM da Intel? >


Há cerca de dez dias Paul Otellini, principal executivo da Intel, anunciou sua aposentadoria para maio próximo após sete anos no cargo e quarenta na empresa. E nós com isso?

Muita coisa. Porque a Intel é a líder inconteste do mercado de processadores, coração dos computadores que são nosso assunto principal. Ealgumas pessoas exercem forte influência nas empresas que lideram. Otellini, com quase meio século de Intel, desenvolveu fortes laços afetivos com a empresa e seus produtos. O que pode ser bom ou pode ser mau. No caso da relação Otellini/Intel, o ponto crucial foi sua obstinação em manter a empresa fiel à arquitetura x86, uma criação da Intel desenvolvida na segunda metade do século passado e seu carro-chefe. E, literalmente, abandonar a arquitetura ARM em seus processadores.

Qual a diferença? Bem, os chips ARM se caracterizam pelo baixíssimo consumo de energia e por sua arquitetura tipo RISC (ARM é o acrônimo de "Advanced RISC Machine"), além de menor capacidade de processamento. São, portanto, ideais para máquinas portáteis. A ARM Holdings, que detém a patente e é responsável pelo desenvolvimento dos processadores ARM, não os fabrica, apenas licencia. Quem os fabrica são as indústrias como Nvidia, Qualcomm, Texas Instrument, LG, Toshiba, NEC e diversas outras. Dentre as quais, há alguns anos, incluía-se a própria Intel, que fabricava os processadores de baixo consumo XScale para dispositivos portáteis usando a arquitetura ARM. Em 2006, já com Otellini no comando, toda a linha XScale foi vendida para a Marvell com a decisão da Intel – ou seja, de Otellini – de fabricar seu próprio chip de baixo consumo para dispositivos portáteis, o Atom. Que adotava a arquitetura x86.

Infelizmente para a Intel a estratégia não foi bem sucedida. Você dificilmente encontrará por aí um dispositivo com processador Atom, enquanto aposto que terá no próprio bolso ou sobre a mesa de trabalho um telefone esperto, tablete ou "netbook" com um chip licenciado pela ARM. Que se aboleta e nove dentre cada dez telefones espertos e em dez porcento dos demais dispositivos móveis, sejam tabletes, "netbooks" ou mesmo "notebooks".

E mais: do jeito que as coisas andam, logo a arquitetura x86 será relegada ao nicho das máquinas de mesa e servidores, cujo número tende a diminuir a médio e longo prazo. Não é à toa que o novo Surface, o tablete da MS com tela sensível ao toque, vem equipado com um chip ARM (o que a obrigou a desenvolver uma versão de Windows 8 especialmente para ARM, o Windows RT). E, pior: agora que a ARM anunciou o lançamento para breve de seus processadores de 64 bits, correm boatos que a poderosa Apple vai abandonar de vez os processadores x86 que usa em seus "notebooks" e máquinas de mesa em favor do novo chip.

Em suma: com a mudança da direção dos ventos do mercado, que já há algum tempo sopram a favor dos dispositivos portáteis de menor capacidade de processamento e baixíssimo consumo de energia (característica essencial para quem depende de alimentação por bateria), o futuro da arquitetura x86 se mostra no mínimo sombrio. E isto, para os otimistas. Que o diga a AMD que se agarrou nesta linha e agora enfrenta sérias dificuldades.

Quanto à Intel, até pouco tempo sua única concorrente era a AMD. Um contendor aguerrido, mas não muito difícil de bater. Agora, com o ARM prestes a dominar o mercado, ela terá que se haver com, literalmente, dezenas de concorrentes, todas elas licenciadas da ARM e fabricando seus próprios chips (a licença da ARM permite que os licenciados agreguem aos processadores funções desenvolvidas por eles mesmos). Vai ser difícil ganhar esta batalha armada apenas com seus chips x86, ainda que sejam de baixo consumo como o Atom.

Sei não, mas se as coisas acontecerem como eu imagino, nos próximos meses teremos mais chip ARM disputando o mercado e, muito provavelmente, equipando os computadores da Apple. Será um ARM fabricado pela Intel já sem Otellini. É esperar para ver...



B. Piropo