Sítio do Piropo

B. Piropo

< Trilha Zero >
Volte de onde veio
23/08/2004

< Imprimindo órgãos >


Proteínas, o principal constituinte das células, são moléculas de aminoácidos ligadas em uma certa ordem. Uma imagem é um conjunto de pontos dispostos em uma certa ordem. Notou alguma semelhança? O professor Thomas Boland da Universidade de Clemson, notou. E experimentou “imprimir” uma proteína com uma impressora jato de tinta. Encheu os cartuchos com suspensões de aminoácidos, alterou os ajustes que controlam as características da “tinta” e, usando programas gráficos comuns, desenhou a estrutura da proteína e a imprimiu sobre um meio de cultura. Funcionou. Acha impossível? Visite o sítio do Prof. Boland, em <www.ces.clemson.edu/bio/people/boland.htm> e confira.
Os seres vivos podem ser divididos em protistas, como bactérias e protozoários, e seres superiores, como nós, cujos organismos são formados por sistemas compostos por órgãos feitos de “tecidos” constituídos por células. Sendo as proteínas seu principal componente, se é possível imprimir proteínas, por que não imprimir tecidos? Porque não havia um suporte no qual fosse possível imprimir estruturas tridimensionais.
É aí que entra Anna Gutowska, pesquisadora do Pacific Northwest National Laboratory em Richland, Washington. Ela desenvolveu uma substância biodegradável termo-reversível que passa de líquido a gel quando estimulada por um aumento de temperatura de 20º C a 32º C. Entre outros usos o gel da Dra. Gutowska é empregado para liberação lenta de medicamentos no interior de tumores cancerosos, onde é injetado e se solidifica (ver artigo em
<www.eurekalert.org/pub_releases/2001-03/PNNL-Pghp-2803101.php>).
Ora, esse suporte era exatamente o que o Prof. Boland precisava. Usando o gel da Dra. Gutowska como “andaime” biológico, imprimiu nele com sua impressora jato de tinta camadas sucessivas de uma suspensão de células. E conseguiu gerar tecidos.
O Dr. Vladimir Mironov, da Faculdade de Medicina da Carolina do Sul, declarou ao NewScientist.com (<www.newscientist.com/news/news.jsp?id=ns99993292>) que esta técnica “pode ter o mesmo impacto que a impressora de Gutemberg”. Ela ainda está em estágio experimental mas já permitiu “imprimir” tecido idêntico ao do músculo cardíaco. Seu objetivo é gerar órgãos vivos e funcionais, imprimindo-os camada a camada, obedecendo à estrutura, tamanho e composição obtidos de uma amostra de células colhidas no órgão original. Assim, seria possível “imprimir” corações, rins ou fígados. Quem o diz não sou eu, é o Dr. Vladimir Mironov em <http://www.wfs.org/prmj03-cells.htm>.
Eu sei que isso parece o “sintetizador” do seriado Jornada nas Estrelas, como bem lembrou mestre Wagner Ribeiro, mas garanto que não é ficção científica. Se duvida, vá até <http://ieeexplore.ieee.org/xpl/abs_free.jsp?arNumber=1256277> e consulte o artigo dos Profs. Boland e Burg descrevendo a técnica. Foi publicado originalmente na edição de setembro/outubro de 2003 da “Engineering in Medicine and Biology Magazine, IEEE”, uma séria revista científica, e uma cópia em HTML pode ser encontrada via Google. Se o Prof. Boland e sua equipe forem bem sucedidos, terão consubstanciado o sonho maior da biotecnologia: sintetizar órgãos humanos para reposição. O coração está batendo pino? Vá ao médico, retire uma amostra de células cardíacas, espere um pouco enquanto um novo exemplar é “impresso” e implante-o no lugar do velho. Assim como quem troca uma peça do carro.
Desde que li o artigo, torço para que esse negócio dê certo. Sexagenário, sedentário, ex-fumante, se eu fosse um carro, estava na hora de uma reforma. Quem sabe trocando uma peça aqui, outra ali, ainda dá para rodar mais um bocado...

PS1: Semana passada foi lançado o livro “La Fascinante historia de las palabras”, de Mestre Ricardo Soca, uma muito bem fundamentada compilação das origens de algumas palavras do idioma espanhol (quase todas comuns ao português). Recomendo com entusiasmo. O livro pode ser encontrado nas livrarias Argumento, Leonardo da Vinci e Letras & Expressões ou encomendado em <www.elcastellano.org>.

PS2: O 8º Encontro de Usuários MSX vai rolar nos dias 27 e 28 de agosto, sexta e sábado desta semana, no SESC Engenho de Dentro, R. Amaro Cavalcanti 1661. Detalhes em <www.msxrio.com.br>. O problema é que a valorosa tribo pretendia estender o evento até o domingo, 29, quando o SESC não estará disponível. Precisam de um local. Nenhum luxo: uma sala com 30 cadeiras, um quadro negro e duas tomadas. Alguém se habilita a oferecer um espaço? Caso positivo, mensagens para Ricardo, <[email protected]>.

B. Piropo