Sítio do Piropo

B. Piropo

< Trilha Zero >
Volte de onde veio
12/12/2005

< Refrescâncias >


Há um par de semanas publiquei uma coluna no Fórum PCs intitulada “O que é uma UCP” descrevendo de maneira relativamente simples o funcionamento de uma Unidade Central de Processamento. No Fórum PCs as colunas são abertas a comentários. Logo o primeiro foi um muitíssimo bem-humorado de Mestre Carlos Alberto Teixeira, que também assina uma coluna no mesmo Fórum, dando seguimento à nossa velha provocação mútua sobre o uso de anglicismos. Colunas no Fórum PCs costumam receber comentários técnicos sobre o conteúdo das mesmas, um debate sadio e animado sempre prazeroso de ler. Pois bem: embora o tema fosse bem típico do interesse dos freqüentadores do Fórum, todos os 25 comentários recebidos por aquela coluna foram sobre a conveniência ou não do uso de anglicismos. Os comentários (e a coluna), todos amistosos e bem fundamentados, permanecem disponíveis em < www.forumpcs.com.br - ATIVIDADES ENCERRADAS EM 2012 >, seção Colunas / B. Piropo, e vale a pena lê-los. Provam que ainda há um bocado de gente interessada em nosso idioma.
Eu mesmo, já há muito tempo, desisti desta cruzada. Acho que o Português é um patrimônio cultural de inestimável valor e procuro preservá-lo evitando usar anglicismos, estrangeirismos em geral, gerundismos e outras tantas barbaridades. Mas tenho feito isso em silêncio, respeitando o sagrado direito de quem pensa diferente. Faço a parte que creio que me compete e deixo os demais entregues à própria consciência. Afinal, o idioma é uma coisa viva e não faz sentido se opor à sua evolução.
Vejam, por exemplo, o caso do verbo “blindar”, ele mesmo um galicismo. Deriva de “blinde” instalação militar que esconde ou protege seus ocupantes. Tem diversas acepções em português, das quais a mais usada é “cobrir ou revestir com material resistente ou impermeável para abrigar ou proteger”, como em “blindar um veículo”, o uso mais comum até recentemente. Pois a blindagem de veículos se tornou tão corriqueira que o verbo entrou em moda e hoje é usado principalmente com o sentido de “tornar resistente ou imune à ação ou influências danosas”, também dicionarizado. Atualmente blinda-se tudo, de ministros à economia. A continuar assim esta será a acepção mais comum e, quem sabe um dia, a violência urbana diminua e a outra caia em desuso. É assim que o idioma evolui.
Mas há modismos contra os quais é impossível permanecer calado. A começar pelo gerundismo: dia desses, para me dizer que não teria um determinado produto, a atendente de uma loja me informou que infelizmente “nós não vamos poder estar tendo” o produto. Doeu um pouco no ouvido, mas parece que não tem mais jeito, melhor deixar pra lá.
Mas que dizer do “crescimento negativo” (do PIB, tão comentado ultimamente)? Que o índice de crescimento seja negativo, vá lá. Afinal um índice pode ser positivo, negativo ou nulo. Mas o crescimento? Se o índice é negativo, crescimento não há. No caso do PIB pode-se dizer que houve decréscimo, decrescimento, declínio, redução, diminuição, retração, encolhimento, queda ou decremento, entre dezenas de outros termos apropriados. Mas, pelamordedeus, “crescimento negativo”? Ou o negócio cresce ou não cresce, sabemos todos, especialmente os mais velhos, com sua maior experiência de vida e que sabem mais coisas. Mas crescer negativamente, francamente, não pode...
Outra que vem me incomodando ultimamente é “refrescância”, muito usada em anúncios de pasta de dente e refrigerantes, cujos autores provavelmente crêem que “pega mal” empregar o termo exigido pelas circunstâncias Ao que parece, segundo eles, “refrescância” é a qualidade daquilo que refresca. Acontece que “refrescância” não existe e não adianta querer criá-la na base do anúncio na TV, que dificilmente vai “pegar”. Porque, minha senhora, perdoe-me a franqueza, mas “refrescância” é frescura mesmo. No sentido lato e no estrito...
E agora, para não dizer que não falei de flores, vamos ao que realmente interessa: Laércio Vasconcelos, o Grande Mestre de todos nós, acaba de lançar seu novo livro, o primeiro da nova série, “Hardware na Prática: Construindo e Configurando Micros de 32 e 64 Bits”, dirigido a usuários, técnicos e estudantes. Um alentado volume de mais de setecentas páginas onde Mestre Laércio destrincha um PC de cabo a rabo, dos componentes à montagem, da instalação do sistema operacional à configuração. O livro aborda os temas mais atuais, como memórias DDR2, discos SATA, processadores de núcleos duplos, o diabo. O capítulo 10, “CMOS Setup”, é primoroso. Recomendo enfaticamente.

B. Piropo