Escritos
B. Piropo
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16/12/1991

<Com Figura é mais Fácil...>


Uma GUI, ou interface gráfica com o usuário, se baseia em um princípio muito simples: com figura é mais fácil. O que vem ao encontro do velho aforisma chinês que afirma valer uma imagem por mil palavras. E para facilitar ainda mais a vida do usuário, usa o gesto mais elementar, aquele que se emprega primeiro, o ato de apontar. Segure uma criança que ainda não sabe falar em frente a seus brinquedos e aprenda com ela a escolher da forma mais simples: apontando.

Em uma GUI o usuário aponta com o mouse, um pequeno dispositivo ligado à porta serial do micro, dotado de botões, que cabe sob a palma de sua mão e que pode ser movimentado sobre a mesa de trabalho. Sua aparência levou ao nome e à lamentável tradução usada por alguns, mas que me recuso a adotar: rato ("mouse" em inglês coloquial é camundongo; rato é "rat"). Um cursor na tela se desloca acompanhando os movimentos do mouse e você pode usá-lo para apontar para uma dada região da tela.

Uma GUI usa a tela em modo gráfico para exibir pequenos desenhos chamados ícones que representam ações (como executar um programa, por exemplo). Para executar a ação correspondente a um dado ícone, aponte-o com o mouse e aperte um dos botões. Este simples gesto, que chamaremos aqui de "clicar o mouse", desencadeia a ação. Que pode ser desde executar um programa incrivelmente complexo até simplesmente apagar um arquivo. Em suma, a GUI substitui a linha de comando por operações intuitivas baseadas em uma forma elementar de comunicação: ações representadas por figuras e desencadeadas pelo gesto simples de apontar e clicar.

Aparentemente tudo é muito simples. Ideal para principiantes. E Windows foi criado para eles. Há alguns meses conversei com Terry Bourne, gerente internacional de marketing da Microsoft, a softhouse que desenvolveu Windows. Existem hoje sessenta milhões de usuários de PC em todo o mundo e estima-se que este número quadruplique ainda nesta década. Windows, dizia Terry, tem em mente as dezenas de milhões de novos usuários que não terão tempo ou interesse de se entender com as complexidades da linha de comando. Windows veio para simplificar. E não apenas pelo uso do mouse em uma tela gráfica: ele é na verdade uma nova e revolucionária maneira de interação entre o micro e o usuário.

Mas o que Windows "faz"? Sendo uma interface, e não um aplicativo, não "faz" nada. Apenas coordena os demais programas (por isto tantos o confundem com um sistema operacional). Mas exerce esta coordenação de forma brilhante. Começando pelo fato de que todos os programas desenvolvidos para Windows têm a mesma "cara": o mesmo tipo de menus que obedecem aos mesmos comandos. Exemplificando: a maior parte dos aplicativos lê e grava arquivos em disco. Os programas desenvolvidos para Windows o fazem usando os mesmos comandos a partir dos mesmos menus no mesmo local da tela. Com Windows acabou aquela história de decorar comandos diferentes para fazer a mesma coisa. E você pode colocar mais de um programa na tela ao mesmo tempo em janelas diferentes (dai o nome...) e copiar texto e figuras de um para o outro com extrema facilidade.

Mas a simplificação não pára ai. Os programas desenvolvidos para Windows não se entendem com os periféricos: quem faz isto é Windows. Um programa não imprime um arquivo: ele avisa a Windows, que então usa o sistema operacional para acessar a impressora e cumprir a tarefa. Qualquer usuário que tenha tentado sem sucesso fazer um C cedilha ser impresso por um editor de textos e por um banco de dados rodando sob DOS vai entender a maravilha que isto representa: se você configurar Windows para a sua impressora, seu modem, seu teclado e tudo correr bem com um programa, nunca mais vai ter que repetir o processo. Um exemplo? Há programas controladores de placa Fax que rodam sob Windows. Escreva um texto em qualquer editor Windows (inclusive, se for o caso, com gráficos). Use a opção de selecionar a impressora e escolha a correspondente à Fax. Entre com o número a ser discado e lá se vai seu fax: Windows trata a placa Fax como se fosse uma impressora e "imprime" o texto nela. Outro: nada mais irritante para o feliz possuidor de uma impressora laser que não poder usar seus recursos em um programa pobre. Pois basta configurá-la para Windows para poder usar uma profusão antes impensável de fontes.

Animado? Calma, que há o outro lado da moeda. Windows tem também seus percalços. A começar pelo fato óbvio de que, embora você possa chamar seu velho e fiel programa desenvolvido para o DOS de dentro de Windows, ele vai continuar sendo seu velho programa rodando sob DOS e não vai saber usar as facilidades que Windows oferece. Portanto, para usufruir de todas as benesses de Windows você vai ter que gastar uma grana preta em software. As más línguas dizem mesmo que esta é a idéia por traz de Windows...

Mas isto não é o mais grave: afinal o software está em constante evolução e mais cedo ou mais tarde você iria mesmo migrar para uma versão mais atualizada de seu programa. E seja ele qual for, provavelmente já haverá uma desenvolvida para Windows. Há coisas piores. Uma delas é que, ao contrário do Mac que já foi criado com uma GUI incorporada a seu sistema operacional, o PC não foi desenvolvido para Windows. E há que configurá-los mutuamente, ou seja, o micro para Windows e Windows para o micro. Na maioria das vezes isto é feito por meio de programas de instalação e configuração que em geral dão conta da missão sem interferência do usuário. Mas por vezes algo dá errado. E, quando der, prepare-se para sérias dores de cabeça: no afã de fazer Windows parecer simples, tudo que tivesse a menor complexidade foi retirado da documentação do programa. O resultado é que quando surgem problemas, mesmo um usuário experimentado tropeça em dificuldades terríveis para fazer a coisa funcionar. Quando consegue...

Finalmente o ponto que fará com que tão cedo não se deva esperar uma profusão de janelas no Brasil: Windows precisa de máquina. E estou falando de máquina mesmo: 386 para cima com vídeo VGA a cores. Nos EUA, onde a máquina do principiante é hoje um 386SX e monitores CGA já são difíceis de encontrar, isto não é problema. Mas por aqui, onde o dono de um 286 com monitor fósforo verde se considera "bem montado", a coisa é séria. Em uma máquina destas, Windows roda, mas dá pena. Para que vocês possam ter uma idéia: em um 486 33MHz sem placa aceleradora de vídeo, Windows é lento.

Minha opinião? Se você é um usuário sério e pretende se manter atualizado, equipe-se e passe para Windows. Dentro de pouco tempo nenhum programa decente vai rodar fora dele, e você sabe: quando é inevitável, relaxe e aproveite. Agora mesmo estas mal traçadas estão sendo digitadas sob Windows. A propósito: conhecem alguém que esteja vendendo baratinho uma boa placa aceleradora de vídeo?

B. Piropo