Escritos
B. Piropo
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23/12/1991

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Vamos continuar só mais um pouco com nossa pausa nos arquivos de configuração neste final de década (é sim: faça as contas e veja que a década está acabando agora e não no ano passado). É que Papai Noel vem ai e é hora de fazer pedidos. Depois retomaremos o assunto na ordem devida.

É verdade que não tenho mesmo muito o que pedir: este ano acabei por me tornar um homem muito, muito rico. E me orgulho de conhecer poucos mais ricos que eu. Dinheiro? Não, meu caro, como diria Caetano, dinheiro não. No que toca a dinheiro, continuo na mesma situação: se seu problema é falta de dinheiro, fale comigo que eu tenho. E tenho falta de dinheiro tanta e há tanto tempo que já me acostumei e posso lhe ensinar uns macetes para conviver com ela. Não é esta a minha riqueza: é a que verdadeiramente conta. A que de fato, parodiando o velho Machado, eleva, honra e consola. Meu grande cabedal é de amigos. Grande parte adquiridos aqui, nestas páginas ou por via delas, que me perdoem o cacófato. E quem já tem tanto não deve mais pedir, mas agradecer. Então, obrigado. A todos vocês, a quem devo muito mais que tenho dado.

Mas ainda assim natal é natal, e há que aproveitar a data para renovar esperanças. Então, aos pedidos. Já me dispunha a escrever a ritual cartinha diretamente para Papai Noel. Depois, pensei melhor e achei uma via mais eficaz. Pois neste final de ano o velho deve andar mais atribulado com a correspondência que a gente aqui na redação. Lembrei das cartas que respondi há mais de mês e estão na fila para publicação. Sem contar que a minha poderia cair na mão de um assessor qualquer. Por outro lado, com cinco bilhões de fregueses, certamente a coisa lá por cima deve estar informatizada, senão como atender a tantos pedidos em uma só noite? E quem está informatizado, não perde este Caderno. Portanto, a via mais rápida há de ser esta mesmo. Então lá vai a lista.

Eu queria começar, meu bom velhinho, pedindo que a queda da reserva de informática não se transforme em uma mera mudança de cartel. Deixa eu explicar: a idéia é poder ter aqui em minha mesa de trabalho uma máquina digna do nome sem precisar de recorrer a executivos de fronteira, sem infringir a lei e pagando menos que três vezes o que a dita custa em terras civilizadas. Não precisa trazê-la no seu saco não: eu mesmo junto uma graninha e compro mais tarde. Pois do jeito que a coisa anda, parece que vamos ter apenas uma mudança de privilegiados: os que podiam fabricar aquelas carroças eletrônicas da era do byte lascado darão lugar aos que podem importar máquinas decentes por um preço justo e vendê-las por um preço injusto. Já deu uma olhada nas redes de venda por reembolso postal nos EUA? Onde se pode comprar qualquer coisa que se possa pendurar do lado de dentro ou de fora de um micro, inclusive o próprio, por um precinho que nem te conto? Que tal implementar algo semelhante em terras tupiniquins?

Acha difícil? Talvez a gente ainda tenha que passar um bom tempo recorrendo aos importabandistas? Bom, então já que estamos falando neles, que tal ilustrá-los um pouco? Seguinte: já que são profissionais, respeitados e aceitos pela sociedade tanto ou mais que os corretores zoológicos, que tal ajudá-los a fornecer informações técnicas mais apuradas? Há dias recebi uma carta de um leitor que ao reclamar com seu "fornecedor" que o DOS não acessava mais que 640K para programas foi informado que isto se devia à falta dos chips de paridade na placa mãe. Que foram devidamente comprados, instalados e não curaram a miopia do DOS. Será que dá?

Talvez para este natal ainda não? Bem, vamos tentar outra: convencer às softhouses patrícias que proteger seus programas contra cópia é penalizar justamente a quem merece delas as maiores deferências, os incautos que os compraram? Pois pirata que se preza não tem a menor dificuldade em desbloqueá-los e sair distribuindo cópias fajutas, enquanto o usuário que gastou sua suada graninha para ter um programa desprotegido tende a devolver o respeito que mereceu da softhouse e procura não distribuir cópias de um bem que comprou as vezes com sacrifício? É verdade que para isto é preciso mudar também a mentalidade do usuário médio e revogar a Lei de Gerson. Mas como se trata de uma questão de respeito mútuo, pode dar certo. Basta o usuário pensar: programa protegido não compro, mas se não for procuro, em contrapartida, preservar o direito de quem confiou em mim e me comprometo a não distribuir com os amigos algo que adquiri para meu uso. Pode dar certo. Vamos tentar? Para este ano acha difícil?

Bom, então um mais simples. Pelo menos parece, já que há sinais de evolução neste sentido: convencer as softhouses patrícias a documentar decentemente os programas e fornecer uma assistência digna ao usuário? Não, da embalagem bonita não faço questão. Só de um número de telefone atendido por alguém que realmente conheça o programa e possa dar informações confiáveis - discagem direta gratuita seria desejável, mas é pedir demais, eu sei - e um manual que explique o que quero saber, de preferência ilustrado com uma telinha aqui, outra ali, sem muito luxo, mas contendo informações em uma linguagem clara e inteligível. E levar à execração pública os "manuais" de quatro ou cinco folhas grampeadas em xerox ilegível. Talvez? Essa eu acho que dá, quem sabe...

E assistência técnica? Nada de muito sofisticado: uma lojinha com um atendimento decente e um cara lá dentro que conheça a máquina e seja suficientemente honesto para devolvê-la no dia seguinte com um sorriso e a frase "- Não é nada não: o micro estava bom. Você só havia esquecido de ligá-lo na tomada..." ao invés de cobrar uma nota preta pelo conserto alegando que o BIOS estava entupido. Ou do "técnico" que atende à domicílio, abre sua máquina, enfia um ferro de soldar na CPU e depois descobre que o único defeito era uma placa mal encaixada, mas infelizmente nunca mais vai funcionar com aquela crosta de solda na placa mãe...

Ainda não dá? Mas o que posso fazer? Vida de micreiro por estas plagas é assim mesmo. E sonhar não é proibido. O bom velho preferia um pedido mais, digamos, material? Então lá vai um. Fácil. É um dos poucos itens que faltam para coroar meus sonhos de micreiro: um notebook 386SX de 20Mhz com 4Mb de memória, disco rígido de 40Mb. Baratinho. E nacional...

Agora falando sério: um natal precioso para vocês todos. Especialmente para a presidenta e membros do meu fã clube, pela ordem: Dona Eulina, Luiz Cláudio, Regina, Aninha e Joãozinho.

B. Piropo