Escritos
B. Piropo
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15/11/1993

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Há algum tempo recebi um telefonema aflito de um amigo. Tudo bem: como vocês podem imaginar, essa não é propriamente uma ocorrência incomum. Amigos aflitos costumam me ligar com uma certa freqüência. Afinal, como já devo ter repetido aqui dezenas de vezes, todo mundo tem um amigo que "entende de computador", e meus amigos pensam que o deles sou eu. E quando se enrolam, apelam pra mim.

No caso desse amigo em particular, a aflição justificava-se: ele não conseguia acessar os arquivos de seu disco rígido. Reconduzi-lo à placidez foi fácil: uma mexida no seu Config.Sys fez seu falecido HD ressurgir das cinzas qual Fênix rediviva. O problema de sempre: usou o Stacker para comprimir o disco, alguém - provavelmente ele mesmo - removeu do Config.Sys a linha que carregava o driver do Stacker e o mundo pareceu desabar.

Não, fique tranqüilo, não vou repetir o conselho habitual sobre o Stacker: usá-lo - ou outro compressor de disco qualquer - para comprimir uma partição independente, deixando em paz o drive C. Nada disso. O assunto somente veio à baila por uma razão peculiar: a aflição do meu amigo devia-se à importância de alguns arquivos que ele considerava perdidos para sempre. Arquivos de planilha eletrônica que armazenavam dados essenciais. Sobre os quais, evidentemente, antes mesmo de tocar em uma mísera tecla de sua máquina para tentar recuperá-los, fiz a pergunta habitual: naturalmente havia cópias de segurança dos arquivos, pois não?

E recebi a resposta habitual: Não, não havia.

Eu acho, realmente, comovente a fé que algumas pessoas depositam em seus discos rígidos. Fascina-me a confiança que têm em um disco metálico que gira, durante todo o tempo em que a máquina está ligada, a mais de três mil rotações por minuto, a uma distância menor que a espessura de um fio de cabelo de uma cabeça magnética que, caso toque a superfície do disco, põe a perder os dados que lá estavam gravados. Impressiona-me vivamente a crença cega que sentem no fato de que jamais o eixo que sustenta essa maravilha da tecnologia irá se desgastar, que nunca a cabeça magnética irá se desalinhar, que nenhuma das dezenas de peças móveis que compõem seus HD jamais irá falhar e que, sobretudo, a superfície magnética onde as informações estão tenuamente gravadas jamais será exposta a um campo magnético suficientemente forte para alterar sequer um bit ali depositado. Eu, que não sou um homem dado a misticismos, fico maravilhado com tamanha demonstração de fé. E acho fantástica a tranqüilidade com que depositam em seus discos rígidos as informações mais valiosas como se elas ali estivessem tão seguras quanto no cofre forte do banco. Ou mais, dada a freqüência com que os bancos estão sendo assaltados ultimamente.

Confesso que não consigo ter essa mesma segurança. E recomendo que vocês também não tenham. Mais que isso: vou repetir o conselho já dado centenas de vezes por mim e milhares, talvez milhões de vezes, em todos os livros, revistas, cadernos, folhas e folhetins de informática: se seu disco rígido contém informações importantes, faça backup. Regularmente. Sempre. Habitualmente. Adote uma crença religiosa, uma fé cega, uma confiança absoluta não em seu disco rígido, mas no ritual de backup.

Se o disco recebe diariamente informações essenciais, faça um backup diário apenas dos arquivos criados ou modificados durante cada dia. Qualquer programa vagabundo de backup permite fazê-lo. E faça, com a freqüência que achar conveniente, um backup completo do HD. Se você acha que backup todo o dia ninguém agüenta, reduza a freqüência: faça backups semanais, ou mensais (menos que isso é bobagem). Mas faça-os regularmente. Evidentemente, quanto menor a freqüência, menor o trabalho. Em contrapartida, maior a quantidade de informações perdidas em caso de falha.

Há programas excelentes de Backup. Inclusive o da Central Point, fornecido com o excelente utilitário PC Tools e que agora foi licenciado tanto pela Microsoft quanto pela IBM e incluído na versão 6.x de seus respectivos DOS. Portanto você nem mais pode apelar para a desculpa que a dupla de comandos Backup e Restore do DOS é vergonhosamente inamistosa. Ela é, de fato. Mas você não mais depende dela para sua segurança.

E se acha que fazer backup de um disco rígido de mais de cem megas em disquetes é uma tarefa exaustiva demais, concordo. Mas nesse caso, compre um drive para fita streamer e faça backup em fita. Não conhece? Pois então procure conhecer. Trata-se de um periférico que só serve para backup e pode ser encontrado nos EUA por menos de duzentos dólares - dependendo da capacidade da fita. Usa uma fita magnética que pode armazenar até 120 Mb de dados. Como todo programa de backup que se preza é capaz de comprimir os dados enquanto faz o backup, uma fita de 120 Mb pode guardar em segurança todo o conteúdo de um disco rígido de 250 Mb. Demora uma barbaridade: o backup completo de um HD de 250 Mb leva quase duas horas. Mas, se a fita tiver capacidade suficiente, você não precisa ficar "tomando conta": carregue o programa de backup, enfie a fita no drive, selecione os diretórios desejados, observe o início do processo para ver se tudo corre bem e vá fazer outra coisa. Duas horas depois guarde a fita com a consciência em paz.

Como eu faço? Com streamer. Faço backups quinzenais de meus dois HD. Todo domingo, depois de escrever estas mal traçadas, carrego o bom e velho CPBackup, meto uma fita no drive e mando copiar um de meus HD . Uma semana o C, outra semana o D (uso quatro fitas: duas para o C, duas para o D, e as alterno - assim, se o último backup falhar, tenho o penúltimo, velho de um mês, mas inteiro). Depois, espero dois ou três minutos para ver se tudo está nos conformes e, em estando, vou almoçar na casa da D. Eulina.

Almoço muitíssimo bem, em excelente companhia e quando volto o backup está pronto. Se eu der sorte, enquanto ele é feito, como uma beringela recheada que vou te contar...

B. Piropo