Escritos
B. Piropo
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31/01/94

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Como vocês sabem, há coisas em que todos nós pensamos com freqüência mas raramente falamos a respeito por vergonha da maneira que estamos agindo. Fique tranqüilo: não me refiro às que lhe vieram a mente agora. Nessas, nem pensar. Refiro-me especificamente (e de novo) a backups, que a maioria de nós sabe que devem ser feitos com regularidade mas que tão raramente fazemos. E volto ao assunto menos por falta de outro que pela repercussão da coluna anterior sobre backup. Comentários de amigos, mensagens em BBS e cartas. Que mostram não apenas que há maneiras distintas de manter os dados seguros como também que o assunto pode ser encarado de formas radicalmente diferentes. Mas, todas - sem exceção - partindo do princípio que o backup é imprescindível. Agora mesmo tenho em mãos um artigo do Peter Lewis publicado no The Science Times e uma carta do leitor Décio Garcia. Ambos acham o backup essencial. Ambos concordam que fazê-lo em disquetes é o equivalente eletrônico da tortura chinesa. Discordam apenas quanto à melhor e menos dolorosa maneira de salvaguardar os dados. Peter Lewis, como eu, é partidário do backup em fita. Ele, particularmente, das novas fitas DAT (Digital Audio Tape), capazes de armazenar quantidades brutais de dados em um espaço incrivelmente pequeno. Em um brinquedo desses, pouco maior que um cartão de crédito, pode-se espremer 4Gb (isso mesmo: quatro gigabytes, mais de quatro bilhões de bytes). E faz uma comparação curiosa: diz que em uma dessas fitas cabem vinte mil planilhas eletrônicas. Que, ainda segundo Lewis, corresponderiam a oitocentas mil horas dispendidas em seu desenvolvimento e depuração. Portanto, a um custo médio de vinte dólares por hora de trabalho, os dados da fita valeriam dezesseis milhões de dólares. Diz ele que essa é uma das poucas maneiras de levar tanta grana no bolso. Exageros a parte, o ponto crucial continua válido: exceto nos discos rígidos de alguns micros domésticos, que quase nada contêm além de joguinhos e programas que podem ser reinstalados, o grande prejuízo em caso de falha total está nos dados, não no hardware. Um HD de 250Mb custa algo próximo de trezentos dólares. Mas quanto valem os dados nele contidos? Os meus, por exemplo, acumulam o resultado de anos de trabalho. Que talvez não valham os milhões de dólares da fita do Peter Lewis. Mas asseguro que, ao menos para mim, valem muitas vezes o custo dos HD que os contêm. Peter acha backup tão importante e fazê-lo em disquetes tão insuportável que pensa que os micros deveriam trazer de fábrica uma unidade de fita. Tanto que perguntou a Bill Frank, presidente da August Visions, uma firma especializada em pesquisas sobre informática, porque não é assim. E recebeu uma resposta curiosa: as razões não são técnicas ou econômicas, como poderiam parecer, mas têm a ver com a psicologia de vendas. Segundo Mr. Frank, a unidade de fita, por servir apenas para recuperar falhas, lembra ao freguês que a máquina não é tão segura quanto parece. E a hora de vender um micro é o pior momento para lembrá-lo disso. Daí... Já o nosso amigo Décio pensa de forma diferente. Na verdade, ele é muito mais radical: acha que backup é tão importante que deve ser feito de tudo. Inclusive da máquina. Isso mesmo: da máquina. Ele se baseia em um artigo de Winn Rosch na PC Magazine americana. Rosch é uma das figuras mais respeitáveis da informática e autor do que penso ser - disparado - o melhor livro sobre computadores, de modo que corri para a xerox do artigo. Onde li uma interessante opinião sobre backup em fita. Rosch acha que é mais ou menos como carregar uma bicicleta no porta-malas para prevenir defeitos do carro: se o carro pifar, com ela não se vai muito longe nem muito depressa. Diz que o mais seguro é usar a mesma técnica do programa espacial da NASA: duplicar tudo, inclusive a máquina. E continua dizendo que, em seu XT... Como é mesmo? XT? Que diabo estaria fazendo Rosch com um XT? Algo tinha de estar errado: seria o mesmo Rosch? Dei uma olhada no retrato no topo da página: era. Mas parecia um pouco diferente. O que seria? Ah, cabelos! A foto era do tempo em que Mr. Rosch os tinha. Só então olhei para a data no pé da página: maio de 85. Voltei à carta: o Décio é um veterano. Tem micro desde 81. E, parece, não confia muito na tecnologia moderna. É verdade que tem um 486. Ou melhor: tem dois. Tudo em duplicata. Mas não leva muita fé nas unidades de fita. Tanto que usa uma curiosíssima técnica para garantir a integridade de seus dados: ligou as máquinas via cabo e, diariamente, com o programa Laplink, copia todos os arquivos novos ou modificados do HD de uma para o da outra. Além disso, "de ano em ano ou pouco mais" (creio mais no "pouco mais"), faz um backup completo em discos de 3,5". O Décio tem justificado horror a backups em disquetes e diz que sua técnica, "excluída a ocorrência de um incêndio, do que a maioria das pessoas que conheço não se protege corretamente, é a forma mais indolor de backup". Pode ser. Mas certamente não é a mais barata: afinal, duplicar um 486 não é para quem quer, mas para quem pode. E, desde 85, as coisas mudaram um bocado. Tanto que hoje, se dinheiro não é problema, há uma forma mais simples, tão segura e quase tão rápida de fazer backup que transferir dados de uma máquina para outra via Laplink: fitas DAT em acionadores SCSI. Uma interface SCSI alcança taxas de transferência altíssimas, e combinada com um bom e rápido acionador de fitas e um bom programa de backup pode tornar a tarefa muito mais indolor do que parece. E os dados ficam tão seguros quanto em outro HD. Mas não sei se o Décio há de concordar. Afinal, ele é um bocado radical quando se trata de backup. Tanto, que me mandou duas cópias idênticas da mesma carta. E não por engano ou culpa do editor de textos que as imprimiu em duplicata, já que ambas vieram assinadas. Com certeza foi minha primeira carta com backup. Mesmo sendo a segurança um tanto dúbia, pois vindo no mesmo envelope, em caso de extravio perder-se-iam ambas, o fato mostra como o amigo Décio leva a sério esse negócio de backup. O que faz com que me ocorra uma outra indagação. Que faço com o devido respeito: não me leve a mal, meu caro Décio, mas por acaso você é pai de gêmeos?

B. Piropo