Escritos
B. Piropo
Anteriores:
< Trilha Zero >
Volte de onde veio
28/02/94

<Escolhendo Micros - Parte III: Placa Mãe>


Já escolhemos entre micros portáteis ou de mesa e já selecionamos a CPU. Mas ainda não está na hora de pensar nos discos e demais periféricos: falta ainda um detalhe básico. A placa mãe.

Achou que, definida a CPU, não havia mais que se preocupar com a placa mãe? Foi-se o tempo em que as coisas eram simples assim. Hoje há diversos tipos cuja seleção merece um exame cuidadoso. Começando por uma novidade lançada há cerca de dois anos e que, felizmente, não "pegou": placa mãe "upgradable", ou expansível. Em uma destas placas, tudo o que se tem que fazer para transformar, por exemplo, um 386 em um 486 é trocar a CPU: remove-se o chip 386 e encaixa-se o 486 no mesmo soquete ou em um outro especialmente destinado a ele. Ou ainda, em alguns casos, remove-se toda a seção da placa mãe onde se engasta a CPU e troca-se por uma outra que contém o novo chip. Parece simples e interessante. Porém, penso eu, a coisa não é tão atraente como parece.

Vejamos o caso mais comum: o upgrade de 386 para 486. Ora, placas concebidas para 386 não são iguais às destinadas a receber 486. Há diferenças que tornam a placa mãe do 486 mais cara. Além disso, o fato de ser expansível implica a inclusão de dispositivos capazes de reconhecer a CPU e agir de acordo, o que faz o preço subir ainda mais. E só se compram estas placas com 386, já que não faz sentido comprar com 486 para depois retroagir para o 386. Logo, paga-se mais caro por uma placa mãe 386 só porque futuramente ela poderá ser expandida. Mas expandida como? Onde encontrar um 486 avulso? E quanto irá custar? E o que você fará com o chip 386, supostamente em perfeito estado, que removeu para fazer o upgrade? Sei não: talvez nos EUA seja mais fácil encontrar um 486 avulso a preço decente, mas no Brasil não creio que esse tipo de coisa valha a pena. Se acha que mais tarde irá precisar de um 486, compre agora. A exceção corre por conta de algumas placas mãe 486 DX2 com um soquete extra onde poderá ser encaixado um Pentium e são pouco mais caras que as comuns. Se a diferença de preço for, de fato, muito pequena, talvez valha a pena.

Depois, a arquitetura. Recentemente o assunto foi discutido aqui mesmo na Trilha Zero, de modo que hoje ficaremos no essencial. Há três tipos básicos: ISA, MCA e EISA. A primeira usa um barramento de dados de 16 bits mais lento que a CPU, o mesmo usado pela IBM nos antigos 286. Que, por não ser patenteado, se tornou padrão de fato e foi adotado pela indústria (daí o nome, Industry Standard Architecture). A imensa maioria das máquinas atuais é ISA. Funciona, mas usar uma CPU de 32 bits em um lento barramento de dados de 16 bits não é o ideal. Por isso a IBM decidiu desenvolver a arquitetura micro-canal (MCA) para suas CPU de 32 bits, com barramento de dados também de 32 bits operando na mesma freqüência da CPU. É excelente, mas a IBM decidiu patenteá-la (o que, no meu entender, foi um brutal erro de avaliação) e por isso não se popularizou. Dificilmente você encontrará uma placa mãe MCA avulsa. E, se encontrar, não recomendo: seus slots obedecem a um padrão próprio, e as placas controladoras feitas para eles são raras e caras. Finalmente, para evitar o pagamento de royalties à IBM, o restante da indústria uniu-se e definiu um novo padrão de arquitetura para CPUs de 32 bits com barramento de dados rápido de 32 bits, denominando-a EISA (de Extended ISA). Que também não recomendo: são boas, porém muito caras. E, pior: a coisa não se disseminou. Embora possa receber controladoras comuns (desenvolvidas para o slot ISA), somente se usufrui de suas vantagens usando placas controladoras especialmente desenvolvidas. Que, como o padrão não "pegou", também são raras e caras.

Então estamos condenados ao lento barramento de dados ISA de 16 bits? Bem, a maioria das placas controladoras se dá muito bem com ele. Somente algumas, como vídeo e certos discos rígidos e placas de rede, precisam de altas taxas de transferência de dados. Por isso, recentemente desenvolveram-se e padronizaram-se arquiteturas mistas, com slots de 16 bits ligados a um barramento ISA comum, porém com dois ou três slots adicionais de 32 bits operando em freqüência mais alta, ligados a um barramento local que só atende a eles. Daí o nome: Local Bus. O problema é que exageraram: ao invés de um padrão, criaram dois. O mais antigo (e mais comum) foi desenvolvido pela associação de padronização de vídeo-eletrônica e tomou seu nome: VESA. O mais recente, desenvolvido pela Intel, denominou-se PCI, de Peripheral Component Interconect. Ambos foram discutidos aqui mesmo no caderninho, na edição de 27 de dezembro do ano passado, de modo que não desceremos a detalhes. O importante é deixar claro que sua nova placa mãe deve conter um barramento local. O problema é saber qual. Por enquanto, o VESA (também conhecido por VL bus, ou VESA Local Bus) parece ser o melhor simplesmente porque já se disseminou, o que o torna mais barato. Além de ser mais fácil encontrar placas controladoras VESA. Mas talvez dentro em breve as coisas mudem: o padrão PCI parece ser mais eficiente e conta com o nada desprezível suporte da Intel. Seja como for, evite placas mãe sem local bus. Seja VESA ou PCI, mas necessariamente com barramento local.

Agora, de importante, só falta a memória cache. Que também já discutimos aqui, de modo que ficaremos no essencial: trata-se de um conjunto de chips de memória estática (SRAM), de baixíssimo tempo de acesso, nos quais são copiados trechos da memória RAM. Se a próxima leitura coincidir com o trecho contido no cache, é feita quase instantaneamente. Se não, a memória RAM é lida e novo trecho, adjacente ao endereço lido, é copiado para o cache (não confundir com o cache interno do 486, que cumpre basicamente a mesma função mas faz parte do chip: estamos discutindo o chamado cache externo, constituído por chips de memória SRAM encaixados em soquetes da placa mãe). Um bom cache faz uma grande diferença no desempenho, de modo que, embora não essencial, dê sempre preferência a placas mãe com cache. Quanto ao tamanho, quanto maior, melhor, mas o ganho se reduz a medida que o cache aumenta. Assim, um cache de 64K é muitíssimo melhor que um de 32K, mas a diferença entre um de 256K e um de 128K não é tão grande assim.

Finalmente, memória RAM. A maioria das placas mãe são vendidas com 2Mb, o que é, indubitavelmente, muito pouco. Para Windows, nunca menos de 4Mb. Para o OS/2, no mínimo 8Mb. E, tanto em um caso quanto em outro, trata-se de mínimo mesmo. Os novos sistemas operacionais e interfaces multitarefa devoram memória. Quando é pouca, eles continuam rodando, porém trocando trechos inteiros de dados da memória para disco e vice-versa. O que torna as coisas insuportavelmente leeeentas. No momento, não conheço investimento de melhor relação custo/benefício que aquele feito em memória. Nesse caso, sem dúvida, quando mais, melhor. Porém oito Mb para Windows e 16 Mb para OS/2 me parecem de bom tamanho.

 

B. Piropo