Escritos
B. Piropo
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25/04/94

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Se você lê a Trilha Zero, há uma boa probabilidade que tenha um micro. Afinal, os assuntos aqui tratados são um bocado específicos e tenho um senso crítico suficientemente aguçado para perceber que meu estilo não é assim tão saboroso a ponto de atrair para este canto de página uma multidão de leitores fascinados apenas com a facilidade com que trato as palavras. Então vamos partir do princípio que você tem um micro. E onde mora o bichinho? Em casa ou no escritório? A pergunta é pertinente, já que o PC, embora batizado de "computador pessoal", começou a se difundir nas empresas. Naqueles dias a expressão "micro doméstico" não fazia o menor sentido - mesmo porque ninguém tinha a menor idéia do que fazer com um trambolho daqueles dentro de casa. Mas as coisas mudaram: os preços caíram, as máquinas se tornaram mais populares, surgiram os joguinhos, programas para gerenciamento de finanças pessoais e, finalmente, a multimídia. E os micros invadiram nossas casas: hoje em dia é cada vez mais comum tropeçar em um bicho desses mesmo nas casas das famílias do mais fino trato.

Sendo assim, há uma boa probabilidade que você e seu micro durmam sob o mesmo teto. Talvez até tenha um no escritório e outro em casa. E, nesse caso, já reparou que o do escritório ninguém estranha? Já o de casa é diferente: volta e meia aparece alguém que não é do ramo, olha o bicho com um certo espanto e pergunta: "Vem cá, por que cargas d'água você tem um troço desses em casa?"

Mas vejam só, quanta ignorância! Como é que se pergunta uma bobagem dessas? Afinal, trata-se de um computador pessoal! Então o cara não sabe quanto ele é útil? Como desconhecer as coisas fantásticas que se faz com um micro? Uma ferramenta destas, de tamanha utilidade, com a qual você se acostumou de tal forma que já nem concebe viver sem ele! Mas me aparece cada uma...

Pois é. Mas, passada a indignação face a uma pergunta assim tão cretina, e só aqui entre nós dois, que manjamos um bocado de informática, diga-me lá, sem rodeios:

Por que cargas d'água você tem um troço desses em casa?

Bem, eu sei que, assim de chofre, a resposta não é fácil. Eu mesmo, dia desses, andei matutando sobre o assunto. E, a bem da verdade, não cheguei a uma conclusão satisfatória. Afinal, o que é que nós, usuários domésticos, tanto fazemos com nossos computadores? Para que, de fato, servem essas máquinas? Não, por favor, não me entendam mal: afinal também tenho um. Aliás, só em casa, tenho três. E não são meros brinquedos: é neles que testo os programas sobre os quais escrevo, é em um deles que digito essa coluna e, sem eles, como escrever sobre informática? Mas é obvio que não preciso descer a detalhes para ficar claro que, ao menos no meu caso particular, trata-se de um círculo vicioso: tenho computador porque escrevo sobre informática, escrevo sobre informática porque tenho computador...

Pois se eu não sabia, por que não perguntar? E corri para meu micro e perguntei: nos dois BBS que freqüento, CentroIn e HotLine, disparei uma mensagem pública a todos os usuários. Que indagava, resumidamente, o que faziam com seus micros domésticos. As respostas foram curiosas, mas a pesquisa, prejudicada. E por duas razões: não somente o universo da pesquisa era bastante viciado (no sentido estatístico, evidentemente: os usuários de BBS que me perdoem, mas a porcentagem de micromaníacos nessas plagas é um bocado alta) como a pergunta foi genérica demais. E a maioria das respostas foi do tipo "edição de textos" ou "planilhas". Que não informava o fim, mas o meio: a planilha era usada para que? Controle de despesas domésticas ou orçamento da reforma da cozinha?

Como disse, as respostas foram interessantes mas trouxeram ainda mais dúvidas. Então, peço a ajuda de vocês para dirimi-las: contem-me para que usam seus micros. Mas, antes, vamos traçar alguns limites para que nossa pesquisa informal tenha algum valor.

Primeiro: só vale o que é feito no micro doméstico, aquele que se tem em casa, seu computador pessoal (seja ou não da linha PC). E não vale o trabalho que não deu tempo de fazer no escritório e teve que ser acabado em casa. Queremos saber das tarefas domésticas. Tudo bem: se você usa seu micro caseiro para defender uma grana digitando textos e coisas que tais, vale. Mas se faz serão em casa para terminar o serviço do escritório, não vale.

Depois: contem o fim, não os meios. Que quase todo usuário de micro pessoal usa um editor de textos já sabemos. Mas o editor de textos é usado para que? Editar receitas de cozinha? Escrever cartas? (se for, não interessa para quem são as cartas: eu quero saber para que servem os micros, não me meter em sua vida).

Mais uma coisa: vamos procurar traçar nosso perfil. Nada de muito detalhado: basta incluir na resposta o sexo, a idade e a profissão. Seu e de quem mais usar o micro. Isso chega para nos dar uma idéia razoável de quem somos. E sejam sucintos. Não tomem isso como indelicadeza, já que, honestamente, é um enorme prazer ler as cartas de vocês. O problema é que, para tabular os dados, torna-se muito mais fácil ir direto à informação que encontrá-la no meio de um texto longo - por mais agradável que me seja lê-lo. Se vocês têm algo a dizer, uma pergunta para fazer ou simplesmente um "olá Piropo" e querem aproveitar a carta, tudo bem: venham de lá, que isso só me dará prazer. Mas, nesse caso, usem duas folhas: uma para os usos do micro, outra para o que mais desejarem. E por último mas não menos importante: se a carta for para a pesquisa, escrevam no envelope: "B.Piropo - Usos do Micro". Talvez os correios não entendam, mas vai facilitar um bocado a vida da Luiza, nosso anjo da guarda, na hora de separar o joio do trigo.

Isto posto, vamos dar um tempo. Digamos, um mês. Depois, tabulo as respostas, analiso os dados e publico os resultados aqui mesmo na Trilha Zero. Provavelmente não terão nenhum valor científico: além de conhecer pouco de estatística, faltam-me pendores para essa mistura de matemática e adivinhação que quase me reprovou nos bons tempos de estudante de engenharia. Mas pelo menos teremos alguma idéia da serventia dessas máquinas infernais.

E vamos nos divertir um bocado. Porque, a julgar pelas respostas que recebi via BBS, tem gente fazendo cada coisa com um micro...

B. Piropo