Escritos
B. Piropo
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27/06/94

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Decretou-se a trégua universal. Ou pelo menos assim parece. Comprove nos noticiários da televisão: o mundo está em paz. Acabou-se a violência urbana. Inflação, não há mais. Todos os problemas econômicos, políticos e sociais foram resolvidos. Ou, se não foram, pelo menos não se fala mais neles: só há espaço para a copa. O país, em transe, tantalizado pela virilha de Romário (francamente! Inda se fosse a da Bruna...), exibe as cores de guerra da nação que se alevanta. Inda hoje (esta coluna foi escrita na véspera do primeiro embate) um apresentador de televisão chamava os russos de "nossos inimigos". Eu, que os tinha meramente na conta de adversários, achei que o moço exagerava ou estava possuído de um fervor anti-soviético decididamente fora de moda. Mas, afinal, se é isso que o povo quer, assim seja: vamos aderir ao espírito trêfego da pátria e nos restringir às futilidades. Aqui só se voltará a falar de IRQs, DMAs e CPUs depois da copa.

Enquanto este evento magno não acaba, aproveitemos o tempo para por os assuntos em dia. Começando por dar uma satisfação sobre o estágio de nossa pesquisa informal, aquela que visa descobrir o que fazemos com nossos micros. O suave puxão de orelha do mês passado resultou: chegaram mais cartas. Aliás, continuam chegando. Em número já suficiente para formar o que os estatísticos chamariam de amostra representativa do universo pesquisado. O que me falta agora é tempo para compilar os resultados: a lei da chateação máxima manifestou-se como de hábito e as coisas se acumularam durante as férias em uma quantidade totalmente desproporcional à duração das ditas. Ainda estou labutando para por tudo em dia. Objetivo que, tenho certeza absoluta, não será atingido nas próximas três semanas. Portanto, dois recados. Aos que escreveram: não se preocupem, que seu esforço não foi em vão. Peço, apenas, mais um pouco de paciência com esse vosso humilde criado cujo dia tem apenas vinte e quatro horas, quando nunca menos de trinta seriam necessárias. Aos que não escreveram: se quiserem, mandem suas cartas que dá tempo de sobra para inclui-las.

Ler essas cartas é sempre um prazer. Quase todas listam mui comportadamente os usos do micro em folha separada. Mas a maioria vem acompanhada de uma simpaticíssima missiva. Algumas com uma ou outra pergunta que o espaço impede de responder. Mas a maior parte só para dar um olá, uma mensagem de carinho e amizade. Que tem enchido esse velho coração de orgulho pela conquista de tantos amigos, a única que faz a vida valer a pena. Obrigado a todos.

Pois dentre elas, pintou a do Marcelo Ribeiro. Que me chama de oráculo e se diz seduzido por meu estilo. Como o homem é formado em Lingua Portuguêsa e Literatura, é um elogio de peso. Mas não foi por isso que menciono a carta do Marcelo (ou seria?). O caso é que o moço tem um problema. Como outros podem ter igual dúvida, vamos dirimi-la. Para os que não compartilham o problema do Marcelo, a resposta servirá para ilustrar como são tortuosos os caminhos da informática, especialmente em um país tão peculiar como o nosso. Pois acontece que ele comprou o OS/2 em português. E sua máquina usa, como a maioria das nossas, o teclado padrão americano. E o Marcelo não consegue acentuar. Disse-me ele que deu um boot pelo DOS para acentuar sua carta usando o Word for Windows.

Bem, como diria o esquartejador do Brooklin, vamos por partes. Primeiro, para acentuar com o Word for Windows não é preciso retornar ao DOS. Basta carregar uma sessão WinOS2 em tela cheia dentro do próprio OS/2 e efetuar a configuração: abrir o Painel de Controle, executar um clique duplo no ícone Internacional e ajustar o idioma para português, o país para Brasil e o teclado para US Internacional que acentua-se sem sair do OS/2, desde que se use apenas programas Windows. Já para acentuar com teclado americano nos programas OS/2, a coisa é um pouco mais complicada.

Ocorre que as versões internacionais do OS/2 são desenvolvidas pela IBM nos EUA sob a coordenação da equipe de desenvolvimento do sistema operacional. Tudo correu muito bem até a hora do driver de teclado. O que, para os demais países, é muito simples: basta fazer as devidas adaptações para o padrão de teclado local. Para o Brasil, complicou um pouco, pois tínhamos dois padrões, ABICOMP e ABNT. Não foi fácil explicar as razões deste fenômeno, mas tudo bem: a coisa acabou por ser resolvida. A grande dificuldade surgiu adiante, quando discutiu-se a necessidade de desenvolver mais um driver para o padrão "US International", um eufemismo para designar o teclado americano que equipa a maioria de nossas máquinas. Os americanos não conseguiram entender de jeito nenhum porque, em um país onde havia dois padrões de teclado, todo o mundo usava um terceiro, que nada tem a ver com nenhum dos dois. Uma coisa tão simples. Americano é meio limitado mesmo...

Por isso o OS/2 em português não traz driver para o teclado americano. Mas a IBM Brasil, versada nas peculiaridades locais, desenvolveu um driver para resolver o problema e colocou-o à disposição dos usuários. Chama-se OS2BNLS (de Brazilian National Language Support) e pode ser encontrado nos bons BBS. Caso você não tenha acesso a BBS, ligue para o pessoal de suporte da IBM e explique sua dificuldade que, garanto, o problema será resolvido.

Já as últimas dúvidas do Marcelo são mais específicas. Quer saber que placas de vídeo suportam programas Windows em janelas na tela do OS/2 em SVGA. Há diversas. Por exemplo: todas as que usam o microprocessador S3, como a Orchid Farenheit. Depois, pergunta pelos CD-ROM suportados pelo OS/2. Uma porção, especialmente os SCSI. Já testei o Toshiba e o Panasonic. Mas há outros, mais baratos e não SCSI, como por exemplo o Mitsumi.

Já sua última pergunta, Marcelo, é mais difícil: onde encontrar programas OS/2. Existem, mas enquanto o OS/2 rodar os programas Windows tão suavemente, as softhouses não vão se mexer. Ainda assim, há alguns bons. O Fax Works, um excelente programa Fax, e bons programas de comunicação, como o Hyper Access (comunicação em multitarefa preemptiva é outra coisa). O Parts, uma ótima ferramenta de programação orientada para objetos. O Notes, da Lotus. E mais um mundo de utilitários que podem ser encontrados no CDROM da Hobbes - quase 700 Mb apenas de programas e informações sobre o OS/2. Isso para citar apenas os instalados nessa máquina que vos fala. Consta que a Lotus, além de sua planilha, tem também um bom editor de textos e um programa para apresentações, mas sobre esses não posso opinar, já que ainda não os rodei.

E para não dizer que não falei da Copa, espero que a pátria de chuteiras cumpra seu dever cívico e dê uma exemplar lição em quem se interponha entre a nação e o caneco. Que, quem sabe, depois disso aproveitará o embalo para resolver seus problemas de educação, saúde, déficit habitacional, alimentação.

B. Piropo