Escritos
B. Piropo
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08/08/1994

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Na última Fenasoft assisti ao que deveria ser um debate entre IBM e Microsoft sobre seus sistemas operacionais. Já vi eventos semelhantes: cada um apresenta seu sistema, ressalta suas vantagens e as desvantagens do outro e depois responde a perguntas do auditório. Mas este foi mais ou menos como um debate entre Maluf e Brizola, cada um usando a palavra para o que quis. Que pode ter algo a ver com o objetivo do debate ou não. No caso, nem sempre teve.

A impressão que ficou é que IBM e MS resolveram ressaltar os pontos onde cada uma é mais forte. A IBM trouxe um americano, Mario Porrata, que demonstrou o OS/2, enfatizando seus pontos fortes. Só que isso foi feito depois da apresentação de Oswaldo Barbosa de Oliveira sobre a estratégia da Microsoft para seus sistemas operacionais, uma reedição da keynote do Bill Gates na última COMDEX: até os slides eram os mesmos. As duas apresentações foram muito interessantes. Só que uma nada teve a ver com a outra.

Parece que a Microsoft evitou a comparação. Sua palestra enfatizou o sucesso de mercado de Windows. E pouco adiantam comentários como os do jornalista americano James Fallows, convidado (provavelmente pela IBM) para comentar o debate, insinuando que muitas das cópias de Windows vieram pré-instaladas e nunca foram usadas (Fallows disse que seus nove micros foram fornecidos com cópias de Windows que ele nunca usou): Windows é um indiscutível sucesso: é cada vez maior o número de empresas que a adotaram como padrão e utilizam somente aplicativos Windows, geralmente pacotes tipo "office". Evidentemente, muito disto se deve à inegável eficiência do pessoal de marketting da Microsoft, mas nenhum produto é tão bem sucedido sem méritos. Windows 3.x é uma excelente interface gráfica. Quem diz o contrário se nega a admitir o óbvio.

O OS/2, por outro lado, é um sistema operacional extremamente bem concebido que explora as potencialidades das CPU modernas até o último byte. A versão 2.x já roda há quase três anos e atingiu um nível de estabilidade mais que satisfatório (é bom lembrar que Windows levou cinco anos para se afirmar com a versão 3.0). Hoje, os argumentos levantados contra o OS/2 enfatizam quase que somente dois pontos: dificuldade de instalação e escassez de aplicativos. A instalação é mesmo complicada, mas não é nenhum bicho de sete cabeças. E depois de passar por ela, desfruta-se de um sistema riquíssimo, flexível, estável e capaz de rodar sem sobressaltos tanto seus próprios programas quanto os de Windows e DOS. Já a escassez de aplicativos é uma realidade. Ao que parece ela é fruto não de uma deficiência, mas de uma qualidade do sistema: ele roda tão bem os aplicativos DOS e Windows que as softhouses não se sentem motivadas a duplicar esforços e desenvolver versões OS/2. A coisa acabou por virar uma espécie de "catch 22" (tradução livre: "se ficar o bicho come, se correr o bicho pega"): não se desenvolvem programas OS/2 porque ele roda bem os programas Windows e DOS e não se compra OS/2 porque para rodar programas Windows e DOS bastam Windows e DOS. Mas, seja lá como for, o OS/2 é indiscutivelmente um excelente sistema operacional de 32 bits. Quem disser o contrário também se nega a admitir o óbvio.

Neste ponto, certamente vocês notaram a diferença: enquanto OS/2 2.x é um sistema operacional, Windows 3.x é uma interface. Seu sistema operacional ainda é o DOS, no qual se apóia. É verdade que cada vez menos: com seu acesso a disco e a arquivos (duas coisas diferentes) em 32 bits, Windows 3.11 já não precisa recorrer ao modo real da CPU sempre que lê ou grava algo no disco rígido, o calcanhar de Aquiles de Windows 3.0 e fonte da maioria das "general protection faults". Mas, embora a MS afirme o contrário, Windows 3.x não passa de uma interface. Talvez por isso a MS tenha evitado compará-la com o OS/2. Mas então, porque não comparar Windows NT? Afinal, Windows NT é um sistema operacional de 32 bits. Completo, disponível, rodando há mais de um ano.

Bem, acontece que a MS tem usado as vendas para argumentar a favor de Windows contra o OS/2, que só vendeu cinco milhões de cópias contra as cinqüenta milhões de Windows. Tanto que, ao ser questionado porque a MS não desenvolvia versões OS/2 de seus aplicativos (após afirmar que seus grupos de desenvolvimento de sistemas operacionais e aplicativos são independentes), Oswaldo Barbosa alegou razões de mercado: o número de cópias vendidas do OS/2 era pequeno demais para justificar o investimento. E, dentro dessa ordem de idéias, ficaria difícil argumentar a favor de Windows NT, que somente vendeu trezentas mil do milhão de cópias esperadas para os primeiros doze meses. Uma situação pouco confortável para quem insinua que o sucesso de vendas espelha a qualidade do produto. É verdade que agora a MS está lançando a nova versão de Windows NT, codinome Daytona. Que, além de eliminar alguns bugs, usa menos memória e é mais rápida que a versão anterior. Mas mesmo assim não será propriamente um brutal sucesso de vendas: os analistas predizem que Daytona não venderá mais de quinhentas mil cópias este ano. Mas, ainda que NT houvesse vendido feito bolinho quente, não faria sentido compará-lo com OS/2. É verdade que tanto um quanto outro são sistemas de 32 bits, mas enquanto o OS//2 é um sistema operacional para micros isolados, Windows NT é um sistema operacional de redes cliente-servidor.

Então, comparar o OS/2 com que? Com Chicago, é o que deixa entrever a Microsoft. Que, garante, será o maior sucesso de vendas da história da informática. E será mesmo: se apenas um quinto dos usuários de Windows se decidir a fazer o upgrade, dez milhões de cópias serão vendidas em poucos meses. Mas a comparação só fará sentido se Chicago for, de fato, um sistema operacional de 32 bits. E não sei se será, já que, segundo afirmou o próprio Bill Gates em entrevista à imprensa latino-americana em Miami há dois meses, Chicago continuará usando o DOS. Que, já na versão 7.0, será usado "apenas na carga" de Windows 4.0, o nome comercial do Chicago. Mas se Chicago é, de fato, um sistema operacional completo e não apenas mais uma interface gráfica, porque precisaria do DOS para ser carregado? Não sei e a MS não explica. Mas, seja como for, o Chicago ainda não existe. E não dá para comparar um produto que existe com outro que ainda está em desenvolvimento.

Então, comparar o que? Sei lá. O que sei é que, pelo sim pelo não, ao estilo dos políticos mineiros, eu continuo com os dois. Uso o OS//2 for Windows, que me garante a estabilidade de um sistema operacional decente de 32 bits e o acesso aos melhores programas. Que, querendo ou não, ainda são os programas Windows...

PS: E por falar em OS/2, amanhã, dia nove, às 19hs - como em toda a segunda terça-feira de cada mês - nova reunião do grupo de usuários do OS/2 no Auditório do RDC da PUC, na Gávea.

B. Piropo