Escritos
B. Piropo
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28/09/1994

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Parte 4: QIC 6000 >


O padrão QIC começou pelos cartuchos DC6000, os maiores e mais antigos. E não foi muito feliz, já que o resultado prático não foi lá grande coisa. Pois acontece que, além do comprimento de fita, formato e dimensões do invólucro, que já eram padrões de fato impostos pelos fabricantes dos cartuchos, os padrões QIC para os cartuchos DC6000 englobam apenas a interface do drive com o micro, número de trilhas, densidade de dados e formatação física da fita (e, consequentemente, a capacidade do cartucho, ou seja, a quantidade de dados armazenados). Mas deixam de fora a formatação lógica, ou seja, a disposição dos dados na fita em blocos e a forma de encontrar um determinado arquivo na fita. Por isso os cartuchos DC6000 gravados em drives de um fabricante continuam sem poder ser lidos nos drives de outro.

Cartuchos DC6000 podem usar três tipos de interface: uma que obedece ao padrão SCSI e duas padronizadas pelo comitê, a QIC-02 e a QIC-36. Não vale a pena entrar em detalhes, pois se o drive usa uma interface SCSI, pode ser interligado a qualquer placa controladora SCSI (ao menos em teoria; mas como sabemos, a teoria, na prática, é outra). E se não usa, a controladora é fornecida juntamente com o drive. A única coisa importante para se ter em mente é que, se o drive de fita não for SCSI, deve usar a interface correspondente, fornecida pelo fabricante (lembre-se que isso só vale para os drives que usam os cartuchos grandes DC6000; dos minicartuchos falaremos adiante, mas a maioria deles usa a mesma controladora dos drives de disquete).

Agora, vamos ver os diferentes padrões para leitura/gravação de dados. Mas, como deles depende a capacidade da fita, antes é imprescindível discutir um outro ponto importante: a compressão de dados. Que não depende da fita, do drive nem do padrão adotado para leitura/gravação, mas apenas do software usado para fazer o backup. Nesta altura da vida, acho que todo micreiro já tem uma idéia do que seja "compressão de dados". Afinal, o Stacker e o DoubleSpace são compressores em tempo real bastante conhecidos e aqui mesmo na Trilha Zero dedicamos toda uma série de colunas ao tema. Porém, para quem não sabe, segue uma explicação sumaríssima.

Discos rígidos armazenam dados sob a forma de uma sucessão de bytes ordenados em arquivos. Em qualquer arquivo é comum aparecer séries inteiras de bytes que se repetem. A compressão de dados consiste, basicamente, em substituir essas séries por códigos que "apontam" para a primeira instância da série. Para reconstituir o arquivo, basta substituir novamente o código pela série correspondente. Com isso, os arquivos diminuem sensivelmente de tamanho. Uma forma ideal para se fazer backup: comprime-se os dados e, ao restaurar o backup, reconstituem-se os arquivos originais.

Nem todo programa de backup é capaz de comprimir dados. Os que o são, em geral utilizam o mesmo algorítmo de compressão usado pelo Stacker, licenciado pela Stac Eletronics (algorítmo de compressão é um nome complicado para significar a forma pela qual se obtém a compressão). Nunca se pode garantir a priori quanto um arquivo vai "encolher" com a compressão: alguns, como os arquivos gráficos, se prestam mais a isso que outros. Mas pode-se admitir que, em média, a compressão reduz os arquivos a pouco menos da metade de seu tamanho original. Isso significa que um programa de backup com compressão pode armazenar um total aproximado de 250Mb de dados em um cartucho de 120Mb. O que é ótimo, mas traz um complicador para quem precisa escolher um drive de fita para backup: alguns fabricantes fornecem o drive com um programa de backup capaz de comprimir os dados e anunciam a capacidade do sistema baseada no armazenamento com compressão. Por isso é comum encontrar anúncios de drives com capacidade de 250Mb que usam cartuchos de 120Mb. Portanto, daqui para frente vamos combinar o seguinte: sempre que mencionarmos a capacidade dos cartuchos, estaremos nos referindo à capacidade sem compressão. Se seu software de backup comprime os dados, dobre a capacidade do cartucho.

Agora, ao trabalho: os padrões QIC para cartuchos DC6000:

QIC-24: armazena 60Mb de dados em uma fita de 620' com nove trilhas. Com capacidade muito pequena para esse tipo de drive, caiu praticamente em desuso.

QIC-120: armazena 125Mb de dados em uma fita de 620'. Também pouco usado.

QIC-150: armazena 150Mb de dados em uma fita de 620' com dezoito trilhas ou 250Mb em uma fita de 1020', também com dezoito trilhas. Usam os cartuchos DC6150 (620' de fita, para 150Mb) e DC6250 (1020' de fita, para 250Mb). Ainda são bastante usados, embora estejam aos poucos sendo substituídos pelos de maior capacidade. Um drive destes, interno, custa cerca de US$ 350 nos EUA.

QIC-525: armazena 320Mb de dados em uma fita de 620' e 525 Mb em uma fita de 1020". Usam os cartuchos DC6320 (620' de fita para 320Mb) e DC6525 (1020' de fita para 525Mb). São os mais usados para cartuchos DC6000. Um drive interno QIC-525 custa cerca de US$ 500 nos EUA.

QIC-1350: armazena 1,35Gb em uma fita de 1020'. São caros: um bicho destes, interno, custa a bagatela de US$ 900 nos EUA. Para chegar a essa capacidade, foram usadas trinta trilhas, com densidade de dados de 51Kbits por polegada. Por isso, nem pensar em usar um cartucho DC6525 em um drive QIC-1350: o comprimento de fita é o mesmo, mas como a densidade de dados usada pelo padrão QIC-525 é menor, a coercitividade do meio magnético é diferente. Seria a mesma coisa que usar disquetes de 720K furados e formatados para 1,44Mb. Funciona, mas não por muito tempo. E fazer isso para armazenar o backup pode ser um sintoma de esperteza, mas seguramente não é um indício de inteligência.

Os preços dos cartuchos DC6000 variam com a capacidade do cartucho, mas, nos EUA, em geral se situam próximo dos US$ 30.

Os drives para cartuchos DC6000 são rápidos, atingem uma taxa de transferência da ordem de seis a oito Mb por minuto (o que significa cerca de meia hora para fazer o backup de um HD de 250Mb), mas são bastante mais caros que seus irmãos menores que usam os cartuchos DC2000. Por isso são empregados principalmente para aplicações profissionais, como servidores de rede. Mas nada impede que você tenha um em seu micro, principalmente se os seus dados são tão preciosos quanto os meus.

Semana que vem, afinal, vamos discutir os padrões QIC para minicartuchos, o tipo de cartucho que equipa a imensa maioria dos micros pessoais. Se você tem ou pretende ter um drive de fita em sua máquina, é quase certo que seja deste tipo. Não perca.

B. Piropo