Escritos
B. Piropo
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21/11/1994

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Conta-se que em 1897 a Associated Press divulgou o falecimento de Mark Twain. Com necrológio e tudo o mais a que o mestre tinha direito. Tudo nos conformes, exceto por um detalhe pequeno porém relevante: o genial criador de Tom Sawyer e Huckleberry Finn estava em Londres, muito vivo. E de lá, com o fino humor que era sua marca, enviou um sucinto telegrama à agência de notícias. Onde dizia: "The reports of my death have been grossly exaggerated." ("Os relatos de minha morte foram enormemente exagerados").

Quando li essa historia, há muitos anos, imaginei como teriam se sentido os autores do rebate falso ao receber o telegrama. Hoje, já não mais preciso exercitar minha imaginação por tão pouco: sei exatamente o tamanho de seu embaraço e frustração. Não devem ter sido maiores que os meus quando descobri haver anunciado prematuramente a morte do XTree. E logo do XTree, meu programa preferido...

O primeiro sinal da pisada na bola veio em um aflito fax do leitor Paulo Pastor-Braga estranhando a notícia, já que havia lido um anúncio recente sobre o lançamento da versão 4.0 do XTreeGold for Windows. Seguido de um telefonema não menos aflito do Pedro Cadina, assessor de imprensa da Symantec, jurando que o bom e velho XTree continuava vivo e saudável, confirmando o lançamento da nova versão e prometendo mandar informações sobre a política oficial da Symantec em relação aos produtos da Central Point, por ela recentemente adquirida. Mandou. E mandou junto uma cópia do recém lançado XTreeGold for Windows 4.0, do qual falaremos adiante. Antes, porém, devo a vocês uma explicação sobre a origem da mancada. Que, sei bem, embora talvez a explique, certamente não a justifica. E pela qual desde já me desculpo.

Acontece que a PC Computing de setembro passado mencionava duas vezes o passamento de meu querido amigo. Uma, um tanto elíptica, na página 31: "XTree: Everyone's favorite DOS file manager bites the dust". Outra, mais incisiva, na 226: "Down because XTree is dead?". Se a primeira, "bites the dust" (morde a poeira), poderia ser interpretada como uma queda nas vendas ou algo parecido, a segunda não deixava margem a dúvidas: "dead" indubitavelmente quer dizer "morto" e não havia dupla interpretação possível. A PC Computing não costuma dar mancada, portanto tudo indicava que a tragédia havia mesmo ocorrido. Mas como eu não encontrei nenhuma outra menção à tamanha catástrofe, por desencargo de consciência resolvi apurar a coisa ligando para o distribuidor do programa que eu conhecia.

Liguei e as notícias, se não conclusivas, foram pouco animadoras. A firma já não distribuía o produto desde que a Executive Systems, que desenvolvia o XTree, fora comprada pela Central Point em novembro do ano passado. Sabiam que o programa continuou sendo comercializado pela Central Point, pelo menos até junho deste ano, quando ela própria foi comprada pela Symantec. Porém não sabiam o que teria ocorrido desde então. Mas a informação da PC Computing fazia sentido, sim, já que a versão para Windows não fora propriamente um sucesso. Tá certo: eu deveria ter ligado para a Symantec do Brasil. Mas a coisa me parecia tão clara que acabei afobando e divulgando uma informação falsa. Ou quase falsa.

"Quase" porque, segundo Eliane Carvalho da Soft Solutions - que agora distribui o Xtree - a versão em português morreu mesmo. Foi descontinuada há alguns meses. E já foi tarde: quando lançada, eu comentei a enorme tolice que fizeram ao trocar as teclas de acionamento dos comandos. Se a memória madrasta não me trai (a versão em português era tão ruim que é a única que falta em minha coleção), o comando para remover arquivos do disco era "Eliminar", acionado com a letra "E". Que, em todas as versões em inglês, acionava o comando "Edit". Não precisa ser um gênio para imaginar a frustração de um antigo usuário da versão em inglês que pretendia editar um arquivo e usava o velho comando na versão patrícia.

Quanto à última versão em inglês para DOS, o XTreeGold 3.0, segundo Vicente Valloci Lima, Gerente de Vendas da Symantec do Brasil, continua à venda. E (isso ele não diz, mas não é difícil deduzir) deve ser a última mesmo. E por diversas razões. A primeira é genérica: nos tempos dos sistemas de 32 bits dificilmente faria sentido desenvolver novas versões de programas para DOS; as que existem vão continuar rolando por aí até morrer de morte natural, mas ninguém de bom senso irá investir tempo e dinheiro desenvolvendo algo novo para um sistema operacional moribundo. A segunda é mais específica: a recém lançada versão para Windows, finalmente, é compatível com os comandos da versão para DOS, facilitando a migração dos velhos usuários. Mas há pistas ainda mais esclarecedoras: o comunicado à imprensa da Central Point (agora uma divisão da Symantec) sobre a nova versão para Windows somente menciona a versão para DOS ao enfatizar a compatibilidade dos comandos, nada afirmando sobre sua continuidade. E mais: a versão para Windows adotou pela primeira vez o nome XTreeGold. Como as anteriores eram "XTree 2.0", para Windows e "XTreeGold 3.0", para DOS, a compatibilidade de comandos e a designação "XTreeGold for Windows 4.0" parece indicar a fusão dos produtos. Talvez essa seja a razão das estranhas notas na PC Computing. Portanto, a morte anunciada da versão para DOS era falsa, mas não muito. Na verdade, morrer o XTreeGold para DOS não morreu. Mas, digamos, subiu no telhado.

Isto posto, vamos à nova versão. Ela é, de fato, compatível com os comandos de teclado do velho XTreeGold. Usa um recurso interessantíssimo, as "SmartTabs", que reconfigura inteiramente o programa, fazendo-o adotar "caras" diferentes. Algumas delas já vêm com o programa, como a "Folder View", que mostra arquivos e diretórios através de seus ícones, ou a "Outline by Type", que grupa os arquivos de acordo com o tipo e permite expandir cada grupo com um único clique de mouse. E a "Deleted Files", que exibe apenas os arquivos removidos em cada diretório, informando a possibilidade de recuperar cada um deles. Mas você pode criar "vistas" personalizadas, conforme suas predileções. Os novos "viewers" permitem visualizar imediatamente quase qualquer tipo de arquivo, inclusive gráficos no formato JPEG. E todos os fantásticos recursos do XTreeGold estão presentes, enriquecidos com algumas gracinhas que somente podem ser feitas dentro de uma interface gráfica. Usei e gostei. Parece um excelente programa, à altura das tradições de um XTree.

Mas no dia a dia vou continuar com a boa e velha versão para DOS, que se comporta muito bem sob OS/2. Porque a nova roda redondinha em Windows sob DOS, mas exibe um comportamento curioso quando em Windows sob OS/2: fica lenta, por vezes trava a sessão Windows e mais de uma vez entrou em loop infinito, fazendo crescer o arquivo de troca até ocupar todo o espaço livre do disco. E o novo XTreeGold 4.0 é um bom programa, mas não o suficiente para me fazer trocar de sistema operacional.

B. Piropo