Escritos
B. Piropo
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20/01/1997

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Hoje enfim chegamos à última coluna desta longuíssima série sobre memórias. Na qual, finalmente, será dada a explicação que tantos esperavam: o que é, afinal, esta famosa EDO RAM. Se este é seu caso, lamento. Acontece que a diferença entre as memórias EDO RAM e as convencionais FPM só é grande nos anúncios dos fabricantes. Na vida real ela é tão pequena, baseada em detalhes técnicos tão sutis e de compreensão tão difícil que esta coluna inevitavelmente terá um certo sabor de anticlímax.

Como sabemos, as posições da memória RAM de nossas máquinas são vistas pelo circuito controlador como um conjunto de dados dispostos em linhas e colunas. Para acessar um dado, o circuito de controle desmembra o endereço de memória nos números da "linha" e da "coluna" onde ele se encontra. Quando discutimos o assunto, mencionamos que nas máquinas modernas cada "linha" contém quatro "palavras" (conjuntos de dois bytes) e cada acesso lê (ou escreve) uma "palavra". Pois bem: o tipo de memória mais usado em nossas máquinas, o FPM (acrônimo de Fast Page Mode, ou "modo de acesso rápido por página"), acelera os acessos lendo sucessivamente as quatro palavras contidas em uma linha (que chama de "página"). Como o número da linha é igual para as quatro palavras, ele somente precisa ser fornecido uma vez por página, acelerando o processo (se achou esta explicação complicada, volte à Trilha Zero de 21/10/96 onde o assunto foi destrinchado).

Pois bem: a memória EDO, de Extended Data Out, é um pequeno aperfeiçoamento da memória FPM comum que acelera cerca de dez a quinze porcento as leituras (sem afetar a escrita - por isto o "Data Out"). Isto é conseguido fazendo com que o controlador da memória inicie a leitura do dado em cada coluna alguns nanossegundos antes do que o faria em um chip FPM comum e o mantenha acessível por um tempo ligeiramente mais longo (para os puristas: nas memórias FPM uma transição da tensão do sinal CAS de baixa para alta bloqueia o fluxo dos dados, o que não ocorre nas memórias EDO). No mais, FPM e EDO são idênticas: usam o mesmo encapsulamento e os mesmos sinais de controle nos mesmos pinos. Achou a diferença meio besta? Pois é besta mesmo. Mas ela não é importante. O importante é como ela afetará na prática sua vida de micreiro. E para isto é preciso responder a duas perguntas: é possível substituir seus SIMMs de memória FPM por EDO e usufruir acessos mais rápidos? E pentes de memória FPM e EDO são compatíveis, podendo substituir uns aos outros?

Bem, para usufruir da maior rapidez da memória EDO é preciso que o sistema tenha sido especificamente projetado para este fim. Portanto, não basta comprar chips EDO e espetá-los no micro: é preciso ainda que o micro saiba usá-los. O que leva a uma nova pergunta: como saber se sua placa-mãe suporta os chips EDO?

A resposta é simples: procure no manual da placa-mãe. Se você não tem o manual, inspecione cuidadosamente as opções do setup e veja se encontra alguma referência a memória EDO. E, finalmente, preste atenção no "banner" (aquelas informações que aparecem na tela durante a inicialização do micro pouco antes da carga do sistema operacional) e veja se percebe alguma referência à presença ou ausência de memória EDO em tal ou qual banco de memória (alguns chipsets que suportam memória EDO são capazes de reconhecer sua presença e informar no banner). Em princípio, quanto mais nova a placa-mãe, maior a probabilidade que venha a suportar memória EDO.

Muito bem, agora que você já sabe se sua placa suporta ou não EDO, resta saber o que acontece quando se usa memória EDO em uma placa concebida para FPM e vice-versa. Então vamos por partes. Primeiro: o que acontece se você acabou de fazer um upgrade para uma placa-mãe com suporte para EDO mas espetou nela seus velhos chips SIMM de memória FPM em perfeito estado? A resposta é: nada. Ou seja: com memórias FPM comuns a máquina deve funcionar normalmente. Na verdade, nos bons sistemas, é até possível usar parte dos chips EDO, parte FPM (o único cuidado é não misturá-los no mesmo banco de memória): alguns sistemas reconhecem os bancos com EDO e com FPM e se ajustam de acordo. Evidentemente, onde se instalou chips FPM não se usufruirá da maior rapidez da memória EDO. Mas a máquina funciona sem problemas. Portanto, você não precisa trocar suas memórias a não ser que faça questão de reduzir em 10% o tempo de leitura. O que nem sempre vale a pena.

Agora a questão oposta: o que acontece quando se espetam chips EDO em placas-mãe que não foram concebidas para eles? Bem, nesse caso a coisa varia. Pode ser que a máquina simplesmente trave, recusando-se teimosamente a dar o boot. Ou pode ser que nada aconteça e tudo funcione numa boa. Como saber? Ora, tentando. Porque com certeza tentar não causa nenhum dano seja à placa, seja às memórias. Tente. Se não funcionar, simplesmente remova as memórias EDO e recoloque as velhas FPM.

E finalmente a questão crucial: como saber se um pente SIMM é ou não EDO? Bem, pelo aspecto, é impossível distinguir. Alguns fabricantes colam um adesivo no chip, mas nada impede que um revendedor inescrupuloso faça o mesmo em um chip FPM comum. A única maneira segura que conheço é conseguir uma placa-mãe que garantidamente suporte EDO, instalar o chip nela e verificar no setup ou no banner se, naquele banco, a placa reconheceu o chip como EDO. O resto é conversa.

B. Piropo