Escritos
B. Piropo
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21/04/1997

< Uma Imensa Confusão >


Como vimos, ao centralizar os dados referentes às configurações da máquina, programas e usuários no Registro do Windows 95, a Microsoft pretendia não apenas liquidar com os malfadados arquivos Ini como também com os Config.Sys e Autoexec.Bat do DOS. Uma pretensão das mais louváveis, diga-se de passagem. Infelizmente, um obstáculo interpôs-se em seu caminho. Um inamovível, inarredável e intransponível obstáculo chamado "compatibilidade retroativa" (backward compatibility), muito sensato do ponto de vista comercial porém nem sempre apropriado do ponto de vista técnico, que consiste em fazer com que cada novo produto da MS seja tanto quanto possível compatível com tudo o que foi produzido antes. E que exigiu não somente que Windows 95 rodasse os programas de Windows 3.x e DOS como também que aceitasse seus gerenciadores de dispositivos (drivers).

As razões da primeira exigência são evidentes por si mesmas: nada mais desagradável que trocar de sistema operacional só para descobrir que o novo é a última palavra da tecnologia mas não roda os programas com os quais estamos acostumados. O problema é que a imensa maioria dos aplicativos desenvolvidos para Windows 3.x ignoravam o Registro e somente se entendiam com os arquivos Ini. Portanto, para manter a compatibilidade com eles foi preciso fazer com que Windows 95 aceitasse os arquivos Ini como meio alternativo de armazenar informações sobre configuração.

A segunda exigência tinha o sábio objetivo de evitar uma enxurrada de queixas de usuários cujos periféricos funcionavam perfeitamente sob Windows 3.x e que poderiam deixar de fazê-lo sob Windows 95 por falta de drivers. Uma decisão particularmente dolorosa, já que uma das maiores vantagens do Windows 95 é a operação de seus gerenciadores de dispositivos (drivers) no modo protegido dos chamados "sistemas de 32 bits". E permitir o uso dos drivers "de 16 bits" desenvolvidos para Windows 3.x implicava o funcionamento da CPU no pouco seguro modo real usado pelo DOS, um evidente retrocesso. Mas se a compatibilidade assim o exigia, que assim fosse. E Windows 95 acabou por aceitar também os arquivos Config.Sys e Autoexec.Bat do velho DOS para permitir que os antigos drivers fossem carregados.

O resultado é que o Registro, que deveria guardar todos os dados de configuração, acabou por ser, em vez do único, apenas mais um dos muitos repositórios destes dados. Pois ao invés de substituir, acabou por se agregar aos Autoexec.Bat, Config.Sys, Win.Ini, System.Ini e à multidão de arquivos Ini dos programas Windows 3.x.

Em princípio esta condição seria transitória e aos poucos os demais arquivos desapareceriam, sobrando apenas o Registro. De fato, se Windows 95 reconhece todos os periféricos de sua máquina e instala seus drivers em modo protegido, seus arquivos Autoexec.Bat e Config.Sys podem ser eliminados. Sem eles, Windows 95 não somente continuará funcionando como o fará bem melhor, livrando-se da maior parte dos componentes "de 16 bits" que forçam a CPU a operar no modo real (nada o impede de tentar: se você usa Windows 95, renomeie os arquivos Autoexec.Bat e Config.Sys do diretório raiz do drive C e dê novo boot; se tudo correr bem, todos os dispositivos funcionarem nos conformes e todos os programas rodarem sem problemas, deixe assim; se algo der errado, basta batizar novamente os arquivos com os nomes originais).

Mas os Config.sys e Autoexec.Bat não são os únicos a sumir: se você não usa programas Windows 3.x, seu disco rígido está livre de seus arquivos Ini - com uma única e lamentável exceção absolutamente inexplicável: por razões que somente a equipe de desenvolvimento da MS conhece mas que nem ela justifica, a interface TAPI (usada para integrar Windows 95 ao sistema de telefones), desenvolvida especificamente para Windows 95, ainda armazena suas informações de configuração no arquivo Telephon.Ini, um típico arquivo Ini em formato texto. Porém por razões igualmente difíceis de entender, os arquivos System.Ini e Win.Ini continuam imprescindíveis: durante a carga de Windows 95, a seção [386Enh] do primeiro ainda é consultada, assim como a seção [FontSubstitutes] do segundo.

Ao fim e ao cabo, como muitas vezes acontece nas empreitadas desenvolvidas em equipe, a tentativa de simplificar acabou por complicar ainda mais (por isso mesmo há quem jure que o camelo é um cavalo desenvolvido por uma equipe). O resultado é que os arquivos Autoexec.Bat e Config.Sys, em tese, podem ser eliminados. Mas, na prática, sobrevivem na maioria de nossas máquinas. Juntamente com um mundo de arquivos Ini teoricamente desnecessários. Que se somam aos Telephon.Ini, System.Ini e Win.Ini, ainda obrigatórios. Em suma: uma mixórdia. Uma imensa confusão.

Mas, como nosso mister aqui é justamente lançar luz sobre a confusão, semana que vem vamos começar a examinar a estrutura do Registro de Windows 95.

B. Piropo