Escritos
B. Piropo
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21/07/1997

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Semana passada eu discuti as vantagens do GetRight, um programinha realmente sensacional (e, aos que me escreveram à respeito: sim, eu sei que o Cute FTP também recupera transferências interrompidas, mas é, mais caro, só funciona em sítios FTP e se você não o registrar ele cessa de fazê-lo após 30 dias). Mas quem foi até o sítio da HeadLight Software (em http://www.headlightsw.com/) e baixou o programa depois de ter lido a coluna, deve ter estranhado um bocado. Porque, definitivamente, uma coisa não tinha muito a ver com a outra. O que teria acontecido?

Muito simples: entre o dia em que a coluna foi enviada e o dia em que foi publicada a HeadLight atualizou o programa e lançou a versão 2.0. Que, diferentemente do que foi descrito, já não funciona apenas na base do "arraste e solte": além disto, monitora o clipboard e, assim que identifica o nome de uma URL, inicia imediatamente a transferência do arquivo. E copiar a URL no clipboard é moleza: basta clicar com o botão direito sobre o nome do arquivo desejado no seu browser predileto e acionar a opção correspondente no menu de contexto (a bem da verdade, a versão 1.3 já fazia isto: o "arraste e solte" era da 1.2 que eu analisei; mas a 2.0 trouxe ainda outras vantagens, como a possibilidade de ser configurada para, no caso de uma interrupção, rediscar automaticamente o telefone, refazer a conexão, terminar a transferência e desligar ao final; dá para iniciar a transferência e ir dormir com a certeza que na manhã seguinte o arquivo está no micro). Aos que se guiaram pela coluna e se perderam no programa, desculpem a desatualização - um risco permanente quando se fala de algo fluido como o conteúdo da rede.

Ainda sobre a coluna do GetRight: recebi, esta semana, do SysOp de um BBS de Brasília, uma sentida reclamação dando conta de que "num momento em que os BBSs (sérios) desenvolvem uma campanha em busca de uma identidade para recuperação do espaço perdido face a Internet, seu artigo foi uma verdadeira pá de cal em nossos objetivos". Bem, se isto aconteceu, sinto muito. A intenção, definitivamente, não foi esta. Mesmo porque, desde meu ponto de vista pessoal, a função de um BBS não é servir como repositório de programas, mas sim dar a seus membros a oportunidade de trocar idéias livremente sobre assuntos de interesse comum. Em suma: criar oportunidades de congraçamento, gerar amizades (algumas das que mais me orgulho fiz em BBS) coisa que nenhum sítio FTP pode fazer. Por outro lado, confesso que ao escrever a coluna jamais me ocorreu que ela pudesse ser assim interpretada. Mas, mesmo que ocorresse, eu a escreveria. Pois o objetivo foi prestar um serviço aos leitores, inclusive aos que não se associam a BBS, informando-os que, além do ZModem, há um meio de recuperar transferências interrompidas - algo essencial para quem quer que já tenha sofrido a frustração de ver cair uma ligação depois de transferir 90% de um arquivo de 4Mb. Ou será que, por amor aos BBS e para colaborar com sua campanha para reconquista do espaço perdido, eu deveria me calar e esconder dos demais leitores a existência do programa?

Finalmente, algo que nada tem a ver com transferências de arquivos: eu não agüento mais ver gente que não tem a menor idéia de como funciona a internet fazer barulho por causa dos sítios de conteúdo pornográfico. Eu sei que a maioria é do tipo carola, gente reprimida que acha que sexo é "porcaria", mas há alguns bem intencionados. Pois o recado vai para estes últimos: sejam mais espertos e parem de fazer propaganda de pornografia trazendo o assunto para as manchetes dos jornais e fazendo o jogo dos menos bem intencionados, cujo objetivo é justamente ir para as manchetes juntamente com o assunto. Sacanagem, cavalheiros, fiquem certos: sempre houve desde a aurora dos tempos, ainda há e haverá por toda a eternidade na internet ou em qualquer outro meio que permita divulgar imagens, textos ou sons. Nunca, jamais, em tempo algum, por mais que os falsos baluartes da moral e dos bons costumes tenham tentado, se conseguiu acabar com ela. Nos meus tempos de adolescente, apesar de terminantemente proibida, ela trafegava nos "catecismos" do Carlos Zéfiro, algo teoricamente mais fácil de coibir. Não obstante, ninguém conseguiu e hoje Carlos Zéfiro virou "cult". Portanto não será na internet, que permite acessar de Cabrobó um sítio de mulher pelada da Tailândia, que se conseguirá. Então, senhores e senhoras esteios da moralidade pública, sejam mais astutos e parem de badalar o assunto. Tratem a pornografia na internet como as sábias senhoras do interior tratam a zona de sua (delas) cidade: todas sabem onde é, mas se comportam como se não existisse. Ou seja: evitam falar nela para não fazer propaganda.

Porque, aposto, tem muito palerma que por si mesmo jamais pensaria em comprar micro para acessar a internet, que passou a cogitar do assunto pela publicidade que os alicerces da moral e bons costumes estão fazendo dos sítios com conteúdo pornográfico. Cujos donos devem estar exultantes com o aumento do movimento...

B. Piropo