Escritos
B. Piropo
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25/08/1997

< Correntes e ICQ >


Dia destes recebi uma mensagem mais ou menos assim: "Suponho que você, como todos que eu conheço, deve odiar correntes. Mas sei que conhece o ICQ, que era de graça e agora estão querendo cobrar pelo seu uso. Por isto lhe envio esta corrente para tentar mantê-lo de graça e peço que você a repasse".

Bem, de fato eu odeio correntes. E da mesma forma que não me agrada ser perturbado por elas, recuso-me a incomodar meus amigos repassando-lhes mensagens sobre as quais eles podem não ter nenhum interesse. Por isto decidi, como faço com todas as demais correntes, abster-me de repassar também esta. Mas, por entender que ao contrário do chorrilho de asneiras que recebo de quando em vez informando que se eu não repassar aquela parvoíce, incontornáveis desgraças se abaterão sobre minha cabeça mas se eu for suficientemente estúpido a ponto de encaminhar aquela imbecilidade a alguns indefesos amigos serei eternamente recompensado pela minha estultice, achei que o pleito era justo e o assunto merecia ser divulgado.

ICQ é mais uma daquelas siglas que só existem em inglês e que não é um acrônimo (ou seja, não é formada pelas iniciais das palavras) mas sim um negócio meio onomatopaico, cujo significado deriva do som das letras que o integram (mais ou menos no estilo da jovem mãe que insistia em batizar a filha de T.U.V. alegando que a vizinha se chamava A.I.D.). Porque, em inglês, as letras I, C e Q soam "ai", "si" e "kiu", e lidas seqüencialmente formam a frase "I seek you", ou "eu procuro você". E o ICQ é justamente um programa que serve para que pessoas se procurem (e, eventualmente, se achem) enquanto conectadas à Internet. Usando as próprias palavras da corrente, "o ICQ é um programa muito útil que lhe permite saber quem está conectado ou não, enviar arquivos e mensagens mesmo quando o usuário não está conectado, usar uma WWWPager (uma página pessoal para a qual arquivos e mensagens podem lhe ser enviados) e muitas outras coisas úteis".

Esta é a visão deles. A minha é um pouco diferente. Porque, instado por alguns amigos que me diziam maravilhas sobre o ICQ, decidi aderir (é fácil: basta acessar o sítio da Mirabilis, em <http://www.mirabilis.com>, clicar no link "Download ICQ", baixar o programa, instalá-lo e registrar-se; por enquanto, é de graça). Tornei-me então mais um dentre os dois e meio milhões de usuários ICQ. Ao fazê-lo, ganhei um número de identificação e o direito de agregar nomes de amigos à minha lista pessoal e, caso eu autorize, integrar a sua (deles) lista. Depois disto, cada vez que fecho uma conexão com meu provedor, silencioso e branco como a bruma o ICQ é carregado e exibe a lista dos meus amigos, destacando os que estão conectados naquele momento. Basta um clique do botão direito sobre um nome para permitir que eu importune a vítima das mais diferentes formas: posso lhe mandar um arquivo não solicitado que poderia ser anexado a uma mensagem de e-mail comum, enviar-lhe uma mensagem que poderia ser enviada por e-mail comum e lida quando lhe fosse mais conveniente, desafiá-lo para uma seção de um dos muitos jogos que o ICQ permite jogar on-line e, suprema aporrinhação, convidá-lo para uma seção de chat (ou seja, "conversar" através da linha telefônica usando o teclado, algo que quando se trata de uma ligação local minha limitada compreensão jamais conseguiu deslindar a utilidade, posto que por mais rapidamente que se digite, sempre se consegue falar ainda mais depressa e cometendo menos erros). Em suma: para quem, como eu, usa a Internet como fonte de informações e se conecta sempre com um objetivo específico, o ICQ é um aborrecimento (sim, eu sei que posso permanecer "invisível" ao conectar ou, simplesmente, recusar a solicitação de chat; mas recusar é uma descortesia, e se é para permanecer sempre invisível, então por que aderir?). Mas entendo que para muita gente o ICQ pode ser de grande utilidade e respeito sua posição (portanto rogo encarecidamente que respeitem a minha e me poupem das habituais diatribes). Tanto respeito que considero o pleito razoável e me dispus a divulgá-lo aqui.

Pois ocorre que os mantenedores do serviço até agora gratuito pretendem cobrar pelo seu uso. Uma intenção, admitamos, perfeitamente razoável, já que segundo um velho adágio da malandragem carioca, quem trabalha de graça é relógio. Mas embora razoável, é pouco inteligente: afinal, o grande número de usuários do ICQ deve-se justamente ao fato de ser grátis. Se começarem a cobrar, mesmo pouco, este número deve cair drasticamente. Portanto, por mais justo que seja o desejo de receber alguma remuneração pelos serviços prestados, seria mais inteligente encontrar uma forma alternativa de gerar receita, Por exemplo com publicidade, já que um universo de dois e meio milhões de usuários não é nada desprezível.

Por esta razão alguns usuários do ICQ tiveram a idéia de iniciar a corrente, pedindo que você solicite a seus amigos que enviem uma mensagem aos administradores do ICQ, em <[email protected]>, informando ser contra a pretendida cobrança. Então tá: como considero todos vocês meus amigos, o pedido está feito. Se acharem que a pretensão é justa, enviem a tal mensagem.

Mas corrente, pelamordedeus não...

B. Piropo