Escritos
B. Piropo
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09/03/1998

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Quem acompanha esta coluna sabe que aqui o papo é de micreiro. Gente que, como eu, usa o computador principalmente em casa, seja para joguinhos, seja para escrever, controlar despesas ou dar conta do trabalho que levou para casa. Não poderia ser diferente: afinal, como minha atividade profissional não é exercida nesta área, meu interesse sobre informática corporativa é escasso.

Não obstante, ano passado, no Infovia 97, um agradabilíssimo evento organizado pela SUCESU/RN na não menos agradabilíssima Natal dos mestres Salu e Cassiano, entrei por engano na sala onde se iniciava a palestra do Edson Fontes, um especialista em Segurança da Informação que até então eu não conhecia. Tratava-se de um tema decididamente corporativo e que, portanto, pouco havia de me interessar. Mas como tinha acabado de entrar e os olhares da platéia ainda se cravavam em minha humílima pessoa, seria uma indelicadeza virar as costas e sair. Decidi permanecer pelo menos até começar a projeção, quando aproveitaria a penumbra para acobertar meus passos, esgueirando-me covardemente para fora da sala. O Edson começou a falar, as luzes se apagaram e preparei-me para escafeder-me. Mas só consegui sair no final da palestra, não sem antes cumprimentá-lo pela excelente apresentação. Porque, por menor que fosse meu interesse pela informática corporativa, segurança de dados revelou-se um tema fascinante.

O tempo passou, cada um foi cuidar de suas obrigações e nunca mais soube do Edson. Até duas semanas atrás, quando aportou em minha caixa postal uma mensagem do próprio sobre o incêndio do Aeroporto Santos Dumont. Dando conta, com justa razão, de que tudo no infausto acontecimento indicava uma evidente falta de profissionalismo para lidar com assuntos relacionados a desastres e erros. Pois bastava uma simulação simples e barata para apontar a maioria das vulnerabilidades existentes e sugerir providências que poderiam evitar grande parte das perdas. Diz o Edson: "Encarar situações de contingência de forma profissional pode não evitar o desastre, porem faz o desastre menos desastroso. Evita, alem da queda, o coice!!"

Estaria ele exagerando? Sei não... Hoje mesmo li no Globo: "DAC não sabe dizer onde estão os aviões de Naya... Segundo os funcionários do DAC, as dificuldades na localização dos aparelhos estão ocorrendo porquê o arquivo com os registros da movimentação das aeronaves em território brasileiro queimou junto com o Aeroporto Santos Dumont". E não se iluda: de quando em vez, ainda por anos a fio, tropeçaremos em notícias semelhantes.

A mensagem do Edson prossegue: "Tomara que os executivos, clientes assíduos da ponte aérea, parem e pensem um pouco. E se tivesse sido com a sua empresa? Com seu CPD? Com seu Servidor de Rede? E se o único funcionário que sabe executar aquele sistema que não tem documentação morresse no incêndio? Como ficaria a empresa?". E, já que estão pensando no assunto, melhor reavaliar suas decisões quando não aprovaram o aluguel de uma sala em outro prédio para armazenar as copias de segurança, adiaram a compra dos cartuchos e fitas que a produção solicitou para gerar copias de segurança, mandaram dispensar os bombeiros e vigilantes que faziam ronda de madrugada e cortaram os gastos com um projeto de segurança da informação porque "estas coisas só acontecem com os outros".

Mas afinal, há de pensar você, trata-se de um incêndio. E é natural que incêndios causem prejuízos. O que é verdade. Mas a questão é que, mesmo em caso de incêndio, há prejuízos inevitáveis e prejuízos evitáveis. E o curioso é que os inevitáveis, como a queima de móveis e utensílios, salvo no caso de antiguidades e obras de arte, não costumam ser irreparáveis e podem ser sanados com dinheiro. Já os irreparáveis, como a perda de dados e vidas humanas, que dinheiro algum pode repor, na maioria das vezes podem ser evitados mediante elementares medidas de segurança. Não me atreverei a descrevê-las: afinal há especialistas no assunto e eu não costumo dar palpite sobre o que não entendo. Mas existem, e vão desde a compra de equipamentos especiais, como cofres à prova de fogo e desmoronamento para armazenamento de cópias de backup, até medidas simples como a adoção de uma política inflexível de cópias de segurança e treinamento do pessoal para enfrentar situações de contingência.

Eu, de minha parte, começo a questionar a política de preservação dos dados aninhados nos discos rígidos desta máquina que vos fala. Que até agora me parecia adequada: todo domingo, regular e religiosamente, faço uma cópia integral de cada HD em cartuchos Jaz. Tem gente que acha que isto já é paranóia demais. Mas agora mesmo estou olhando para a pilha de cartuchos na estante aqui ao lado. E matutando...

Sei lá... Depois do incêndio do Santos Dumont e do criminoso desabamento do Edifício Pálace II, estou pensando seriamente em, pelo menos uma vez por mês, levar uma cópia completa para passar uns tempos na casa de D. Eulina.

Afinal, mãe é pra essas coisas...

B. Piropo