Micro Cosmo
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04/12/95

< Partida Quente >


Há alguns meses descrevemos resumidamente o procedimento de partida de nossa máquina e esclarecemos as razões de seu nome aparentemente sem sentido, já que “boot” quer dizer bota ou botina e em princípio o micro não usa tais adereços. Mas refresquemos nossa memória: ela provém de um ditado empregado quando se quer fazer sozinho algo impossível sem ajuda externa, como levantar-se do solo sem apoio puxando-se para cima pelos cordões das próprias botas. O ditado é “pull oneself up by his own bootstraps”. E se você prestar atenção descobrirá que é mais ou menos isso que a máquina faz ao ser ligada. O termo “bootstrap” quer dizer justamente “cordões das botas” e o notável amor pela síntese dos americanos acabou por batizar todo o procedimento de partida do micro de “bootstrap”, ou mais simplesmente de “boot”.

Se você quer ser mais criterioso pode subdividir o procedimento da partida à frio (“cold boot”, aquele que ocorre assim que se liga a máquina) em duas etapas: o autoteste de partida, ou POST, descrito aqui semana passada, e a carga do sistema operacional, a ser descrita adiante. Há quem chame de bootstrap apenas ao segundo procedimento, dividindo assim a partida à frio em duas etapas, o POST e o bootstrap. Mas como isso é meramente uma questão de usos e costumes e jamais foi padronizado, também há quem chame o processo de partida a frio indiferentemente de boot ou bootstrap. Na verdade, tanto faz. Mas apenas com o fito de dar nome aos bois e usar uma linguagem comum que todos entendam, vamos combinar o seguinte: aqui neste MicroCosmo chamaremos de bootstrap à carga do sistema, ou seja, a transferência dos arquivos que compõem o sistema operacional do disco para a memória, que será descrita mais tarde. E de “boot” a todo o procedimento de partida da máquina, seja à frio ou à quente.

Neste ponto alguns de vocês já devem estar intrigados. Que negócio é esse de “partida à frio” e “partida à quente”? Bem, a partida à frio, como sabemos, é aquela que ocorre ao se ligar o micro. E os mais experientes e sofridos de vocês já devem ter deduzido que a partida à quente, que em inglês chama-se “warm boot”, nada mais é que a tristemente famosa “saudação dos três dedos” à qual somos forçados a recorrer premindo ao mesmo tempo as teclas Ctrl, Alt e Del quando nada mais consegue destravar uma máquina inerte após alguma estrepolia perpetrada por um programa malcomportado. Que existe justamente para permitir restabelecer a ordem depois que a arrumadíssima estrutura interna de nossos micros foi tão desmantelada que ele empaca, se recusando teimosamente a prosseguir com receio de não mais fornecer resultados confiáveis.

A partida à quente tem efeitos tão destrutivos (pois deita a perder todo o fruto do trabalho penosamente armazenado na volátil memória RAM e ainda não gravado em disco) que para provocá-la é preciso usar as duas mãos e acionar três teclas tão distantes que seria impossível alguém fazê-lo inadvertidamente. Ou seja: quem aperta ao mesmo tempo as teclas Ctrl, Alt e Del positivamente sabe o que está fazendo e deseja deflagrar uma partida a frio (se não sabe e faz isso no meio de um trabalho importante só para experimentar e ver o que acontece, então merece perder os dados).

E qual a diferença entre as partidas à frio e à quente? Bem, a partida à quente é dada sem desligar o micro. E se o micro não foi desligado, nenhum periférico foi removido, acrescentado ou teve sua configuração física alterada (lembre-se que o warm boot foi concebido nos tempos do primeiro PC, quando expressão “plug and play” provavelmente evocava apenas o ato de ligar na tomada um brinquedo elétrico). Portanto, ao receber o comando para executar uma partida à quente, todo o procedimento de POST pode ser tranqüilamente posto de lado, pois não há razão para testar tudo de novo. E essa é, de fato, a diferença essencial entre as partidas à frio e à quente. Quer ver? Ligue o micro e repare nas luzes piscantes e mensagens na tela durante os procedimentos de POST e bootstrap. Depois, execute um warm boot premindo simultaneamente Ctrl, Alt e Del e repare a diferença: tudo aquilo que dizia respeito apenas ao POST desapareceu: não há mais luzes piscantes nem teste de memória, pois na partida à quente a máquina “pula” o POST e vai direto ao bootstrap. Cuja discussão, por falta espaço ou excesso de prolixidade (você decide) fica adiada para semana que vem.

Antes, porém, uma informação importante: se por um motivo qualquer você estiver com a máquina ligada e quiser forçar uma partida à frio ao invés da partida à quente via Ctrl+Alt+Del, não deve desligar a máquina e ligá-la novamente. Evite sempre fazer isso, pois os componentes eletrônicos são submetidos ao esforço máximo justamente ao serem energizados (por isso há pessoas que jamais desligam o micro; um dia discutiremos as vantagens e desvantagens dessa atitude extremada, mas por enquanto apenas fique ciente que após desligar o micro deve esperar pelo menos quinze segundos para religá-lo). Pois justamente por isso seu micro é dotado de um dispositivo que ao ser acionado provoca uma partida à frio, com POST e tudo o mais a que tem direito: o botão de reinicialização, ou botão “reset”. Aperte-o (convém mantê- lo apertado por pelo menos três segundos) e sua máquina se comportará exatamente como se houvesse sido desligada e religada. Com a vantagem de não sobrecarregar os circuitos internos.

B. Piropo