Micro Cosmo
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11/03/96

< Setup >


Há alguns meses, ao discutirmos formatação física de discos rígidos, mencionamos um procedimento denominado “setup” e dissemos que um dia ainda iríamos discuti-lo.

Pois este dia chegou: “setup” significa “ajuste”. Trata-se de um procedimento através do qual se pode “ajustar” a máquina às condições de operação desejadas, informando tipo e características dos discos rígidos instalados e “acertando” os valores de certos parâmetros operacionais (como data e hora do relógio interno, por exemplo).

Antes de prosseguirmos, porém, impõe-se um comentário. Acontece que na medida que os micros foram se tornando mais poderosos, aumentou proporcionalmente não somente o número de ajustes possíveis no setup mas também sua complexidade. As placas mãe modernas, particularmente as que incorporam funções antes executadas por placas controladoras independentes (como portas paralelas, seriais e controle de discos rígidos e drives de disquetes), permitem ajustar um enorme número de parâmetros, muitos dos quais são específicos daquela marca ou modelo de placa-mãe. Além disto, alguns ajustes correspondem a funções cuja complexidade está muito além do nível de conhecimento de simples micreiros como nós. Portanto, fica aqui estabelecido que neste MicroCosmo discutiremos apenas os aspectos do setup que forem de interesse geral e que estiverem ao alcance de nosso modesto cabedal de conhecimento.

Agora, ao trabalho. Começando pelo começo. E, quando se trata de micros da linha PC, o começo é o próprio, ou seja, o velho PC lançado há quinze anos pela IBM. Que não tinha setup. Parece estranho começar a discutir o setup justamente por um micro que não o usava, mas logo você verá que a coisa faz sentido.

O PC, como sabemos, era uma máquina de uma simplicidade franciscana. Quando foi lançado, ninguém sonhava que um dia um micro pessoal pudesse vir a dispor de discos rígidos. Portanto, não havia necessidade de informá-lo sobre este tipo de periférico. Em contrapartida, os próprios drives de disquetes eram opcionais. E o PC aceitava até dois drives para disquetes nos quais poder-se-ia armazenar até 160K de dados em sua única face (desculpem, mas para falar de disquetes de face simples e 160K, só mesmo com mesóclise...)

Além disto, um PC poderia ou não dispor de um coprocessador matemático - um microprocessador auxiliar especializado na execução de operações matemáticas complexas que hoje vem incorporado à CPU dos micros modernos, mas que era opcional até o advento do 486. E poderia ainda usar um dentre diversos tipos de monitores de vídeo (os tipos possíveis naquelas priscas eras eram: mono, CGA de 40 colunas, CGA de 80 colunas, EGA e os indefectíveis “outros”; e se você não sabe o que é “CGA de 40 colunas”, aceite um conselho: melhor não saber mesmo).

O valente micrinho suportava uma quantidade de memória espantosamente grande para a época, quatro vezes o disponível nos demais micros pessoais de então: imensos 64K (portanto, pare de reclamar que só com 8Mb sua máquina não consegue rodar Windows 95 decentemente: a culpa, evidentemente, não é da máquina). Mas nem todo o mundo precisava de tanta memória. Para a maioria dos usuários bastavam 16K, o suficiente para a maior parte das aplicações daqueles tempos heróicos. Por isso o PC suportava 16K, 32K, 48K ou, para os mais exagerados, 64K de RAM.

E isto era tudo. É claro que diversos periféricos poderiam ser conectados à placa mãe diretamente ou via portas paralelas e seriais. Mas eram controlados pelas placas espetadas nos slots e seriam detectados pela inspeção realizada durante o POST ou pelas informações contidas nos arquivos de configuração (Config.Sys e Autoexec.Bat, que um dia discutiremos). Portanto, era dispensável informar à máquina de sua existência.

Mas os itens listados lá em cima, não. Aqueles eram os recursos básicos do micro e a máquina precisava conhecê-los antes mesmo do boot. Pois não sabendo se dispunha ou não de drive de disquetes, como proceder após o POST? (como vimos, máquinas com drives de disquete tentavam carregar o sistema operacional do disquete assim que terminava o POST, enquanto máquinas sem drive passavam o controle diretamente para o interpretador BASIC gravado em ROM). E desconhecendo o tipo de monitor de vídeo, como exibir as mensagens geradas durante o POST?

O problema que os idealizadores do PC enfrentaram, então, era como fazer para que a máquina, imediatamente ao ser ligada, tomasse conhecimento dos recursos básicos de que dispunha. E, sendo o PC um micro de grande flexibilidade, como proceder quando algum destes recursos fosse alterado.

A solução, simples e singela como tudo no PC, será examinada semana que vem.

B. Piropo