Micro Cosmo
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25/03/96

< Uma Bateria >


O sucesso do PC foi tão grande que menos de dois anos depois que surgiu no mercado a IBM foi obrigada a lançar seu primeiro sucessor, o XT (de eXtended Technology). Mas as mudanças, se bem que significativas, não foram propriamente revolucionárias: as principais diferenças do XT em relação ao PC é que o primeiro já trazia na placa-mãe 64K de memória RAM (que poderia ser expandida até 512K) e aceitava discos rígidos - se bem que ainda como opcionais. A grande evolução realmente só ocorreu em 1984, com o lançamento de um novo modelo de computador pessoal que usava uma tecnologia tão avançada para a época que a IBM resolveu batizá-lo justamente de AT, acrônimo de Advanced Technology.

O AT usava um microprocessador que era o estado da arte de então: o 80286 da Intel, a primeira CPU para micros pessoais capaz de operar no chamado “modo protegido” (o mesmo que permite aos sistemas operacionais modernos executarem mais de um programa ao mesmo tempo). E foi o primeiro micro pessoal a incorporar um disco rígido fora da categoria dos “opcionais”: o AT já saía da fábrica com o seu. Tudo isto era muito interessante. Mas para o assunto que discutimos hoje, o que realmente importa é uma outra vantagem que o AT apresentava em relação ao XT. Na verdade, uma vantagem aparentemente insignificante se comparada os demais avanços tecnológicos: no AT, não era necessário “acertar” o relógio interno a cada boot.

Explico: o PC foi concebido para carregar o sistema operacional a partir de disquetes. E cada vez que era ligado, como o velho senhor que sempre acorda perguntando ao mordomo que horas são e que dia é hoje, tinha que receber via teclado as informações sobre data e hora correntes para atualizar seu relógio interno. Ora, isto era muito inconveniente. Na verdade, era tão desagradável (a palavra correta é “chato”, mas não cairia bem em uma coluna fina como esta) que raramente algum usuário cumpria o maçante ritual de entrar com dia e hora correntes durante o boot. E teclar ENTER seguidamente em resposta aos prompts para atualização de data e hora, evitando o trabalho de entrar com os dados corretos, já havia se tornado um hábito para a maioria dos usuários. O problema é que, a longo prazo, isto acabava por ser ainda mais inconveniente, já que a data e hora de criação dos arquivos armazenadas nas entradas de diretório raramente mantinham alguma correspondência com a realidade. Em virtude disto alguns fornecedores de acessórios para PC passaram a oferecer placas controladoras que incorporavam um pequeno relógio eletrônico e um programinha gravado em ROM que, sempre que a máquina era ligada, consultava o reloginho da placa controladora e atualizava automaticamente o relógio interno do micro. Uma idéia tão incrivelmente prática que foi aproveitada no projeto do AT, que incluíu em seu ROM BIOS o programeto para acertar o relógio interno. Além, é claro, de incorporar à placa mãe o relógio eletrônico para fornecer os dados atualizados.

Note que, a bem da verdade, aí não havia nada de extraordinário. O que eu chamo pomposamente de “relógio eletrônico” de fato não passava de um simples chip, um circuitozinho integrado dos mais vagabundos, destes usados nos relógios de pulso digitais baratos. E não ter que acertar o relógio do micro a cada boot pode ser muito conveniente, mas nada tem de revolucionário. A importância da coisa não está no relógio em si mesmo, mas sim em um fato que talvez tenha lhe passado despercebido: relógios eletrônicos, por mais simples e vagabundos que sejam, necessitam de uma fonte de energia externa. No caso do AT, esta energia provinha de uma pequena bateria recarregável, em geral do tipo niquel-cádmio, incorporada à placa mãe. Bateria que existe até hoje na placa mãe de seu micro, que muito provavelmente não é mais um AT 286. Mas ainda que seja um reluzente e avançadíssimo Pentium Pro, e por menos que você se dê conta disto - já que as baterias recarregáveis modernas raramente precisam ser trocadas pois costumam durar muito mais que o tempo que uma placa mãe leva para se tornar irremediavelmente ultrapassada - a bateria está lá. Pois o AT foi o primeiro micro pessoal a incorporar uma destas baterias na placa mãe.

Neste ponto muito provavelmente vossência deve estar a se perguntar: Sim, mas e daí? Que importância transcendental teria esta bateriazinha?

Muita. Duvida? Pois espere só até semana que vem.

B. Piropo