Micro Cosmo
Volte
15/04/96

< Gravando o Setup em ROM >


O método adotado pela IBM para ajustar a configuração interna do AT funcionava, mas tinha lá seus inconvenientes. O mais óbvio é que para configurar o micro era preciso dar um boot pelo drive A:. E como dentre os dados de configuração figurava justamente o tipo do drive A:, esta situação aparentemente criava um problema da categoria do “se ficar o bicho come, se correr o bicho pega”, variante “cachorro tentando morder seu rabo” (com todo o respeito: seu dele, naturalmente): para dar o boot a máquina precisava conhecer o tipo do drive, para configurar o tipo do drive era preciso dar um boot. E esta situação apenas não ocorria porque no AT original o drive A: era sempre de 1,2Mb. E na improvável eventualidade de que não fosse, seria obrigatoriamente de 360K, pois na época não existiam outros tipos de drives de disquete. Como ambos aceitavam sem problemas o disquete de diagnóstico que dava o boot e continha o programa de setup, era só enfiá-lo no drive A: e ligar o micro. Com a profusão de tipos de disquetes de hoje em dia, um esquema como este é impraticável.

Mas este não era o único inconveniente. Havia a questão do disquete propriamente dito. Como qualquer micreiro que se preze está cansado de saber, a principal característica destes objetos é um curioso mimetismo que faz com que desapareçam completamente sempre que se precisa deles, confundindo-se com os demais objetos que estão sobre a mesa ou escondendo-se por detrás ou debaixo deles. E nunca se precisou tanto e tão desesperadamente de um disquete como quando se desajustava a configuração de um micro cujo setup era feito via disquete e a máquina teimava em não dar boot enquanto o bicho não aparecia. Evidentemente sempre se podia apelar para a cópia de segurança, aquela que o manual recomendava fazer e guardar em lugar seguro. Mas manuais, ora bolas, quem ligava para eles?

Evidentemente havia uma solução mais fácil: gravar o programa em um chip de memória ROM. Em geral o mesmo chip que contém o nosso velho conhecido POST e o não menos conhecido BIOS. Um chip que, por isso mesmo, é conhecido por “ROM- BIOS”, embora contenha muito mais que um trecho do BIOS gravado em ROM.

Assim, semelhantemente ao POST, o programa Setup vem gravado em ROM. Mas a semelhança pára aí. Porque ao contrário do POST que executa sempre a mesma série de testes na mesma ordem sem interferência externa, o Setup é necessariamente interativo, ou seja, deve permitir ao usuário entrar com os dados corretos de configuração. Além disto o Setup deve rodar antes do POST, já que este último precisa ler os dados de configuração corretos na memória CMOS para poder testar a máquina. E finalmente, ainda diferentemente do POST que roda sempre que a máquina é ligada, basta rodar o Setup quando for preciso alterar os dados de configuração armazenados na memória CMOS.

Isto é necessário essencialmente em três situações. A primeira ocorre quando é preciso modificar uma informação que nada tem a ver com os componentes instalados (como por exemplo alterar a hora para ajustá-la ao horário de verão). A segunda, quando um dos componentes do micro foi modificado ou substituído enquanto ele estava desligado e a máquina não pode “perceber” que isto foi feito (por exemplo, um drive de disquete foi trocado por outro de tipo diferente). E finalmente a terceira ocorre quando a máquina pode “perceber” que a alteração foi feita (por exemplo, um disco rígido ou uma certa quantidade de memória RAM foram acrescentados ou removidos).

Neste último caso, a máquina detecta a alteração durante o POST, ao comparar as características dos componentes efetivamente instalados com aquelas gravadas na memória CMOS. E caso um dado não confira, o POST é imediatamente interrompido e aparece uma mensagem no vídeo informando do ocorrido e sugerindo teclar uma determinada tecla para rodar o programa Setup. Já nos dois primeiros casos a máquina depende do usuário para “chamar” o programa. O que é feito premindo uma certa tecla - ou combinação de teclas - logo após a máquina ser ligada e imediatamente antes de iniciar o POST. Como o usuário dispõe apenas de uns poucos segundos para isto, em geral aparece uma mensagem no vídeo informando a tecla ou combinação de teclas que deve ser acionada (em geral as máquinas modernas usam a tecla “Del” para este fim).

Pois é isto. Semana que vem veremos, afinal, de que consta este famoso setup.

B. Piropo