Micro Cosmo
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17/06/96

< O AT e o OS/2 >


Além de “enxergar” um campo de memória mais extenso, o 80286 tinha outras enormes vantagens sobre seu predecessor, o 8088. A maior das quais talvez fosse a possibilidade de funcionar no chamado “modo protegido”, que permitia rodar diversos programas simultaneamente. O problema era o DOS. Que, tendo sido desenvolvido para a velha 8088, não somente desconhecia qualquer endereço de memória acima do primeiro mega como também ignorava solenemente o novo modo protegido. O OS/2, naturalmente, sabia usar todos os recursos da nova CPU do AT. E tanto a MS quanto a IBM imaginavam que ele rapidamente açambarcaria o mercado. Mesmo porque, como sistema operacional, era infinitamente superior ao DOS. Mas havia um detalhe: sendo um sistema novo em folha, quase não havia programas para ele. E ninguém compra um sistema operacional para rodar um sistema operacional. As pessoas compram sistemas operacionais porque pretendem utilizá-los para rodar programas.

Quando o OS/2 foi lançado, já havia milhares de programas para DOS. Sabendo disto, a MS e IBM trataram de fazer com que ele também fosse capaz de rodá-los. Só que, nas versões iniciais, esta capacidade limitava-se a um programa de cada vez. A multitarefa se restringia aos programas OS/2. Destes, que quase não havia, podia-se rodar um monte ao mesmo tempo. Mas programas DOS, que havia de dar com o pé, só um de cada vez. O resultado foi previsível (menos, é claro, para a IBM e MS). Para rodar programas DOS um de cada vez, pra que comprar o OS/2? Melhor ficar com o DOS mesmo. Ainda que rodando nos novos AT equipados com a reluzente CPU 286.

Mas isto era possível? A nova CPU tão mais incrementada que a antecessora aceitaria o DOS, um sistema operacional desenvolvido sob medida para o velho chip 8088? Em princípio, não deveria aceitar. Mas se não aceitasse, teria sido um retumbante fracasso de vendas. Quem haveria de comprar um micro que não rodava o sistema operacional que dominava o mercado? Por isto a Intel, fabricante das CPU das máquinas da linha PC, quando desenvolveu o 80286 fez com que ele pudesse funcionar tanto no modo protegido quanto em um certo “modo real”. No primeiro, era capaz de fazer todas as gracinhas esperadas do chip mais incrementado do mercado de então: enxergava um campo de memória de 16Mb e aceitava multitarefa. No último, emulava um 8088. Ou seja: só rodava um programa de cada vez e, não importa quanta memória existisse na placa-mãe, somente “enxergava” 1Mb. Mas era totalmente compatível com o DOS.

Se você acha que eu perdi o rumo desta série, tenha um pouco de paciência. Porque, embora não pareça, o que estamos discutindo tem tudo a ver com o tal Gate A20 que começou toda esta história. Como você logo irá perceber.

B. Piropo