Sítio do Piropo

B. Piropo

< Mulher de Hoje >
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10/1992

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Eu sei: você de vez em quando passa os olhos por esta coluna. Talvez até ache interessante. Mas segue adiante sem dar muita atenção. Afinal, você não é micreira, pois não? Pois então está tudo muito bem, está tudo muito bom, mas, realmente, eu gostaria mesmo que você tivesse um micro.

Bobagem? Não percebe como um trambolho destes lhe seria útil? Ora, minha amiga, um micro tem mais utilidades que o velho BomBril. E serve para quase tudo, desde organizar livro de receitas até controlar conta bancária. Sem falar nos milhares de outros usos menos domésticos, que o tempo da mulher de forno e fogão, felizmente, já acabou.

Convenceu-se? Digamos que sim. Que minhas artes de mago da palavra bastaram para fazê-la ansiar por um micro somente com um mero parágrafo. Agora há que vencer mais um obstáculo: o medo do novo. Não, nem se preocupe: é normal. O receio do desconhecido é parte da natureza humana. No caso do micro, ele se manifesta sempre da mesma forma: será que, mesmo que compre um bicho destes, vou conseguir aprender a usá-lo?

Vai sim. Sem problemas. Admirada? Não sabe como posso ter tanta certeza sem nem ao menos conhecê-la? Ora, ainda não tive este prazer, é verdade. Mas, embora não a conheça, conheço bem os micros, seus novos programas e suas novas formas de se entender com o usuário. E sei que têm evoluído tremendamente, e justamente na direção certa. Pois já se foram os tempos em que um usuário de computador tinha que ser um mestre em informática, um iniciado nas artes mágicas dos sistemas operacionais, um dominador de secretos códigos. A coisa está mudando, e depressa.

Tudo começou há relativamente pouco tempo, impulsionado pela brutal redução dos preços que pôs o computador ao alcance da maioria das famílias de classe média. Sim, eu sei que, dada a conjuntura que vivemos no Brasil, gastar o equivalente a quase mil dólares para comprar um computador pessoal não é exatamente o mesmo que comprar um radinho de pilha no camelô. Mas, seja como for, o fato é que estes preços caíram a menos da metade em pouco mais de um ano. E continuam baixando.

Com isto o número de pessoas que podem comprar um micro aumentou tremendamente. Mas as vendas não subiram na mesma proporção. O que fez a indústria investigar as razões deste intrigante paradoxo. E as descobertas foram muito interessantes. Para eles e, principalmente, para nós.

A causa era simples: os computadores e seus programas, da forma como se apresentavam naquela época, eram decididamente inamistosos. Mais que isto: por vezes eram cruéis. Exigiam do pobre usuário que aprendesse um enorme número de "comandos", uma espécie de código através do qual ordenavam à máquina que executasse suas tarefas. Um pequeno engano, uma letra a mais, lá vinha uma críptica mensagem de erro que, em vez de ajudar, geralmente assustava ainda mais o pobre coitado. Um desastre.

Enquanto micros eram instrumentos de cientistas e técnicos, tudo bem. Eles se viravam e acabavam aprendendo a se entender com as máquinas. Mas em uma época em que o micro pretendia ser um eletrodoméstico como qualquer outro, o problema era grave. Pois eram justamente estas complexidades que acabavam por afastar das máquinas os mortais comuns, como nós.

Então foi lançada no mercado uma nova palavra de ordem: "user friendly". Que quer dizer, em uma tradução bastante liberal, que ou os micros aprendiam a tratar o usuário mais amistosamente e facilitavam seu uso, ou estavam fadados a permanecer em um nicho hermético e continuar a ser instrumento de trabalho apenas para cientistas e técnicos.

Os resultados foram formidáveis. E já se fazem sentir em todo o mundo. Minha namorada, que olhava enciumada para os micros como rivais que disputavam com ela meus momentos de lazer (se bem que ela ganhasse sempre), hoje se entende perfeitamente com eles. Agora sou eu quem reclamo quando ela mergulha nos jogo e se esquece de mim. Pois aprender a usar um micro não somente passou a ser simples, como chega a ser divertido.

Duvida? Pois é verdade. E tudo foi feito de forma tão indolor e interessante que vale a pena contar como se conseguiu este pequeno milagre.

Mês que vem, naturalmente.

B. Piropo