Sítio do Piropo

B. Piropo

< Ele E Ela >
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10/1993

< Joguinhos... >


Tem gente que adora e acha que micro foi inventado para isso. Tem gente que detesta e acha que usar uma máquina que custa mais de mil dólares para joguinhos é uma insensatez. Mas aquele micreiro que jamais usou o micro para jogar que atire a primeira pedra. Não é a toa que alguns jogos trazem uma função denominada "chefe chegando": duas teclas acionadas rapidamente fazem saltar uma tela que simula uma inocente planilha de cálculo. Por essas e outras que os jogos de computador são o terror dos chefes ranzinzas.

Mas será que estes joguinhos não servem para mais nada além de desperdiçar tempo durante o expediente? Se é assim, porque Windows, uma respeitável interface gráfica desenvolvida justamente para aumentar a produtividade, traz um grupo de jogos? E porque algo tão sério quanto o OS/2, o novo sistema operacional da sisuda IBM, também já vem com seus próprios jogos? Seriam eles assim tão inúteis? Que razões teriam levado as vetustas equipes de programadores e engenheiros de software que desenvolveram estes produtos a incluir jogos de computador entre os utilitários que fazem parte do sistema operacional?

Vamos raciocinar juntos: tanto Windows quanto o OS/2 seguem a tendência moderna de usar as chamadas interfaces gráficas. Que nada mais são que uma forma diferente do usuário interagir com a máquina. Mais simples, mais intuitiva, porém radicalmente diferente daquilo a que os usuários estavam acostumados. Que irão, portanto, exigir destes usuários algum esforço para se adaptarem à nova realidade. Eles somente se sentirão realmente à vontade manejando suas máquinas depois de alguma prática.

E é aí que entram os joguinhos. Pois não há maneira mais agradável de praticar uma nova habilidade que se divertindo. Uma série de sessões de Solitaire ou Minesweeper são muito mais eficazes para familiarizar o novo usuário com o mouse e os menus de Windows que um curso de uma semana. E são muitíssimo mais agradáveis.

A idéia é essa mesmo. Os jogos de computador podem ser o instrumento ideal para romper a barreira inicial que se interpõe entre o usuário e uma ferramenta nova. Que pode ser uma interface diferente daquela a que já se está acostumado ou, até mesmo, o próprio micro. Pense no principiante, diante de uma máquina que ele imagina incrivelmente complexa e difícil de manejar. Pense no receio natural do usuário que se vê diante do micro pela primeira vez: será que vai ser capaz de manejar aquela coisa misteriosa? Como se entender com ela?

Então, ao invés de assustá-lo ainda mais com tecnicismos, comandos, sistemas operacionais e aquela terminologia críptica que os veteranos adoram usar para impressionar os novatos, ensine-o a jogar um destes joguinhos simples. E deixe-o lá travando conhecimento com o micro, familiarizando-se com sua nova máquina. Depois de algum tempo ele vai perceber que as coisas são muito mais fáceis do que parecem e você vai ver como, rompida a barreira inicial, fica mais fácil ensiná-lo a usar o micro como uma ferramenta de trabalho.

E não é só para isso que servem os jogos. Eu mesmo, quando estou diante de um problema que parece insolúvel e me percebo dando voltas em torno de um mesmo ponto sem conseguir seguir adiante, páro o que estou fazendo e carrego um jogo. Geralmente o Minesweeper. Passo dez ou quinze minutos me distraindo com ele e, depois, volto para o trabalho. Quase sempre dá certo: vejo o problema sob um novo ângulo e a solução aparece como por encanto.

Pois é isso. Jogos de computador não são meros brinquedos. Podem ser ferramentas extremamente úteis para treinamento. E, paradoxalmente, podem aumentar a produtividade ao invés de contribuírem apenas para desperdiçar tempo durante o expediente. Desde, é claro, que sejam usados com parcimônia.

E esse é o problema. Pois a verdade é que, se você não tomar cuidado, acabará se transformando em um jogador compulsivo.

Porque esses malditos joguinhos viciam...

B. Piropo