Sítio do Piropo

B. Piropo

< Jornal Estado de Minas >
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02/10/2003

< A Casa Digital >


O Intel Developers Fórum (IDF) é um evento organizado pela Intel, que reúne em torno de si os principais atores da indústria do hardware e software para discutir a tecnologia de ponta da informática e telecomunicações. E onde ela aproveita não somente para prestar contas dos progressos da tecnologia apresentada nos eventos passados como também para revelar alguns de seus planos para o futuro. O IDF é realizado duas vezes por ano e corre mundo. A edição “Fall” deste ano ocorreu de 16 a 18 de setembro (há duas semanas, portanto) em San Jose, Califórnia, junto à sede da empresa, e será repetida em Formosa, Índia, Rússia e China durante este mês de outubro.
A programação do IDF consiste em diversos fóruns paralelos onde desenvolvedores se reúnem para discutir detalhes de determinadas tecnologias, uma grande exposição de produtos desenvolvidos pela Intel e seus parceiros (este ano com quase duzentos exibidores) e uma série de palestras de abertura (“keynotes”) sobre temas diversos, uma ou duas por dia, realizadas na parte da manhã e sempre apresentadas por altos executivos da Intel.
As seções técnicas dos fóruns são tecnologia em estado bruto. Não é coisa para quem bebe mel, é para quem come abelha. Até dá para assistir, mas fica difícil escrever aqui sobre temas tão avançados. Já as keynotes são mais leves. Nelas, um executivo da empresa escolhe um assunto e discute seus rumos e o papel nele desempenhado pela Intel. E esse ano uma das mais interessantes foi a apresentada por Louis Burns, Vice-Presidente e gerente geral do Desktop Platforms Group da Intel. O tema era “A casa digital”.
No início de sua palestra, Burns apresentou uma intrigante pergunta: ele, cinqüentão, desde a infância acompanhava a concepção de “casa do futuro” nos desenhos da Disney e, mais tarde, nos Jetsons. Muito daquilo que era sonho naquela época já se havia tornado realidade. Então porque a casa do futuro automatizada dos desenhos animados ainda não havia se materializado? E porque ele achava que agora era a hora?
Por duas razões, respondeu o próprio Burns. A primeira é que os dispositivos domésticos e seu conteúdo estão, afinal, se digitalizando. E a segunda é que, enfim, a rede doméstica está se tornando uma realidade.
Segundo Burns, chegamos ao limiar em que a maior parte dos dispositivos domésticos, dos “toca-discos” às câmaras fotográficas, passando pelos telefones celulares, DVDs, câmaras de vídeo e, muito em breve, televisões, abandonaram a tecnologia analógica e abraçaram definitivamente a digital. E quase todos são capazes de se comunicarem entre si – e com os computadores domésticos – por um sem número de tecnologias sem fio, desde o simples e limitado infra-vermelho até a rede Wi-Fi, passando pelo bluetooth. A combinação desses acontecimentos cria as três condições básicas para que um dispositivo possa ser bem sucedido para uso doméstico: ser simples (de preferência sem exigir nada além de conectar-se à rede elétrica e “ligar” para começar a ser usado), ser conectado (nenhum dispositivo poderá ser uma “ilha”, encasulando seus dados; todos deverão se comunicar e compartilhar informações, de preferência automaticamente) e, finalmente, oferecer um conteúdo de primeira categoria (permitindo, por exemplo, que você assista o último lançamento cinematográfico em sua casa, no aparelho que desejar e quando tiver vontade). E essas três condições estão maduras.
Mas não basta que uma tecnologia esteja madura para “acontecer”. É preciso que o mercado a solicite. E, no que toca a mercado, Burns apresentou números impressionantes. Segundo ele, apenas no ano passado e nos EUA, foram gastos 214 bilhões de dólares no setor de “home improvement” (reformas e melhorias em residências). Dinheiro gasto em melhorar as condições de conforto do lugar onde pretendemos passar cada vez mais tempo. E o fenômeno é mundial: no Reino Unido foram gastos em média três mil e seiscentos dólares no setor e na China, quarenta milhões de proprietários gastaram em média mil dólares cada na reforma de suas residências o que, considerando a renda média do país, é um número extremamente expressivo. Portanto, ao que tudo indica, estamos próximos, afinal, de desfrutar a “casa do futuro”.
O problema é que tanta interatividade e conectividade não pode vingar sem que sejam estabelecidos rígidos padrões, do contrário dispositivos fornecidos por diferentes fabricantes jamais conseguirão “falar” a mesma língua. E é aí que entra o Digital Home Working Group (<www.dhwg.org>), um grupo de dezessete empresas do ramo de eletrônica doméstica (Consumer Electronics), informática e provedores de conteúdo concebido para desenvolver um conjunto de padrões voltado principalmente para a interoperabilidade. O DHWG foi fundado em junho passado e conta com a participação de gigantes do porte da Intel, Microsoft, IBM, Sony, Sharp, Samsung e Panasonic, apenas para citar alguns.
Ao que parece, chegamos, afinal, à era da “casa do futuro”. Mas o que poderemos esperar dela? Alguns protótipos de dispositivos foram mostrados durante a palestra de Louis Burns. Como o LCD Media Center (a ser lançado nos próximos meses pela Gateway) que funciona como um “dispositivo de entretenimento integrado”, capaz de tocar música e gravar um programa de TV em segundo plano enquanto você disputa um jogo com um adversário remoto. Tudo isso ao mesmo tempo. Ou a nova “set-top box” da Intel, capaz de fornecer “vídeo on-demand” através de uma conexão banda-larga comum. Além de um conjunto de “DMAs” (Digital Media Adapters), dispositivos que permitem transferir dados, como música, vídeo ou fotos digitais, entre aparelhos como TVs, PCs e conjuntos estereofônicos. E você pode até mesmo programá-los para fazer isso automaticamente: depois de usar sua câmara digital para filmar uma tarde no jardim zoológico com a família, basta entrar em casa para que a câmara automaticamente seja detectada pela rede doméstica, informe sua condição de “carregada” e transfira o filme para o disco rígido de um dispositivo de armazenamento, pronto para exibi-lo na TV digital.
Parece sonho? Talvez. Mas a tecnologia para realizar tudo isso já existe, foi testada e aprovada. Falta agora quem invista na fabricação dos dispositivos e seu lançamento no mercado.
E,de nossa parte, grana para comprá-los, naturalmente.
Que não há de ser pouca, diga-se de passagem.

B. Piropo