Sítio do Piropo

B. Piropo

< Jornal Estado de Minas >
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30/09/2004

< Babylon 5.0 >


Lá pelos idos de abril de 1999 assisti o lançamento de um produto bastante original. Em princípio, era um programa tradutor. Mas apresentava duas características que o diferenciavam de seus concorrentes. A primeira era o modo pelo qual identificava a palavra ou expressão a ser traduzida, um método proprietário de OCR (Optical Character Recognition, ou reconhecimento ótico de caracteres) que “lia” o texto diretamente na tela, o que o tornava compatível com qualquer programa: bastava pousar o cursor do mouse sobre a palavra e acionar uma tecla de atalho para traduzir a palavra. A segunda era o fato de ser grátis, bastando baixar da Internet (de <www.babylon.com>) e instalar. Era o Babylon.
Semana passada entrevistei Alex Azulay, Presidente e CEO da Babylon Ltd e perguntei como era possível oferecer um bom programa por tantos anos sem cobrar nada dos usuários (o programa permaneceu gratuito de 1997, data do lançamento da primeira versão que não incluía o português, até 2001). E ele me contou uma história interessante.
O Babylon foi desenvolvido e lançado em Israel, onde fica a sede internacional da empresa. A versão inicial fazia apenas a tradução do inglês para hebraico e vice-versa. Mas a grande sacada do programa é seu método de entrada, o dispositivo OCR que “pega” o texto da tela, evitando incompatibilidades com formatos de arquivos. Com ele nas mãos, bastou incluir novos dicionários para ampliar a base de idiomas. Hoje ele abrange 25 dicionários e glossários em 13 idiomas, incluindo chinês, holandês, francês, alemão, italiano, japonês, russo, espanhol e sueco, além do inglês, hebraico e português, cada um deles com mais de três milhões de palavras.
Não obstante isso o produto era oferecido de graça. Como pode? Bem, segundo Alex a idéia inicial era sustentar a empresa com a receita obtida da publicidade que seria incluída nas janelas do programa. Ilusão que perdurou até 2000, quando eclodiu a crise das “pontocom” e a bolha estourou.
Nessa altura dos acontecimentos, já com mais de doze milhões de usuários cadastrados, a empresa se deu conta que precisava mudar sua estratégia de fazer dinheiro. Como tinha nas mãos um bom produto, acreditou que os usuários estariam dispostos a pagar por ele desde que o custo fosse razoável. E em 2001 começou a comercializá-lo sob duas formas diferentes: licença de uso permanente, que hoje (no Brasil) custa R$ 143, e uma assinatura anual a R$ 71 (quem prefere a assinatura anual tem direito a atualização gratuita caso seja lançada nova versão, quem compra a licença não). E seguiram adiante.
A experiência mostra que a base de usuários de produtos originalmente gratuitos costuma encolher quando passam a ser cobrados. A do Babylon cresceu. Na verdade, dobrou. Hoje são 24 milhões, dos quais quase dois milhões e meio estão no Brasil, seu segundo maior mercado (o primeiro é a Alemanha), o que fez com que fosse criada uma representação local que pode ser visitada em <www.babylon.com.br>.
Mas, segundo Azulay, a mudança de estratégia não se resumiu a isso. Ela incluiu também o lançamento de novos produtos (todos baseados no mesmo “OCR engine”) e a incorporação do chamado “conteúdo premium”, criado mediante parcerias com os principais editores de dicionários e provedores de conteúdo, como Larousse e Michaelis. Com ele, mediante um valor adicional (da ordem de R$ 30), o usuário tem acesso ao conteúdo completo das publicações oferecidas (no caso da versão em português, os dicionários Michaelis de português e espanhol). Sem falar nas soluções corporativas, que permitem a adição de glossários especificamente ligados às atividades da empresa e o uso do método de acesso do Babylon para consultar os bancos de dados da empresa (ou seja: clique sobre o nome de um cliente na tela de qualquer aplicativo e obtenha imediatamente sua ficha cadastral, por exemplo).
A versão corporativa foi adotada por empresas internacionais do porte Lufthansa, Cisco Systems, Motorola, Philips, Sony, Bayer, Ford e até mesmo, quem diria, Oracle e Microsoft. Além da Petrobrás, aqui na terra. E o Babylon Pro, para uso individual, continuou sua carreira bem sucedida.
Com isso a Babylon cresceu. E o programa continuou evoluindo. Prova disso é o lançamento da versão Babylon 5.0, cujo desempenho motivou a visita de Alex Azulay ao Brasil.
Babylon 5.0
A idéia básica do Babylon continua a mesma: é carregado na inicialização do micro e, enquanto ninguém mexe com ele, se reduz a um pequeno ícone na área de notificação (trecho da extremidade direita da barra de tarefa onde se aninham os ícones dos programas que rodam em segundo plano). Mas se alguém o provoca, vira bicho. Digamos que, no documento que você está consultando (seja em um editor de textos, seja em qualquer outro programa ou na Internet; como o programa obtém a entrada diretamente na tela, é compatível com todos os navegadores), surja uma palavra desconhecida em inglês. Por exemplo, “overflow”. Para obter seu significado, estacione o cursor do mouse sobre ela e acione o Babylon (você pode ajustar a forma de fazê-lo; como eu uso um mouse de três botões, escolhi um clique com o botão central do mouse). O programa captura a palavra diretamente da tela, analisa-a e abre uma janela com todos os significados possíveis (dois, no caso). Como um deles é um verbo, um clique sobre a o pequeno triângulo que aparece ao lado da acepção mostra sua conjugação e principais flexões. Se quiser transpor um dos tempos do verbo para o texto que está consultando, execute um clique sobre o termo para abrir um menu que permite copiá-lo para a área de transferência e depois colá-lo no local que melhor lhe aprouver ou, já que (no nosso caso) a origem da consulta foi o Word, colá-lo diretamente no próprio Word. E, se você não sabe pronunciar a palavra em inglês, basta clicar sobre o ícone em formato de alto-falante que aparece no canto superior direito da barra de dados do programa para acionar a função “say-it”, que usa um sintetizador de voz para emitir a pronúncia correta através das caixas de som.
Mas isso não é tudo. Imagine, agora, que você encontrou uma palavra em português cujo significado desconhece. Digamos, “acepção”. Mova o cursor para ela e acione o Babylon. Ele abre uma janela que lhe oferece as seis, hum... acepções, do termo em inglês, com a descrição de seu significado. Além da definição em português, obtida no Michaelis (caso você o tenha instalado). Se desejar, você pode invocar a “tradução reversa”, um novo recurso da versão 5.0, clicando sobre seu ícone no canto superior direito da janela principal para alternar entre a tradução do inglês para o português e a versão do português para o inglês. E para consultar detalhes sobre uma das, ahn... acepções exibidas (digamos: “meaning”), basta mover o cursor para ela no interior da própria janela do Babylon e acionar o programa (ou seja, solicitar que mostre a tradução de um termo exibido por ele mesmo). A janela muda e oferece o significado de “meaning”.
O Babylon oferece ainda funções adicionais às quais se tem acesso recorrendo a uma barra lateral que pode ou não permanecer aberta (a escolha é feita clicando sobre seu ícone na extremidade esquerda da barra de dados). Ela exibe os dicionários de onde foram obtidos os resultados correntes e mais quatro possíveis “Ações”. A primeira, “Opções de glossários”, permite verificar quais são os glossários instalados, além de adicionar, remover e obter informações detalhadas sobre cada um deles. A segunda, “Configurações”, efetua diversos ajustes, como tamanho, posição e comportamento da janela do programa, além de permitir escolher a forma de acioná-lo. A terceira, “Busca na Web”, abre uma instância do navegador instalado em sua máquina já com um dispositivo de busca carregado (o padrão é o Google, mas é possível escolher qualquer outro) e inicia uma busca na Internet com o termo selecionado na janela do Babylon. E, finalmente, “Conversões” permite efetuar diretamente conversões de praticamente quaisquer grandezas físicas e moedas (cuja cotação é obtida via Internet caso se esteja conectado). Aliás, todo o programa está fortemente integrado à Internet. Tanto assim que muitas das inovações apresentadas pela versão 5.0 tornaram-se viáveis porque agora a janela do programa é inteiramente desenvolvida no padrão HTML o que permite, entre outras coisas, a exibição de tabelas, o uso de folhas de estilo em cascata (CSS) e a interpretação de código em XHTML.
Em suma: o Babylon, que já era bom (a versão 4 estava instalada nessa máquina que vos fala desde o lançamento), ficou ainda melhor na nova versão. Para quem lida muito com textos em inglês ou qualquer dos outros idiomas abrangidos pelos dicionários disponíveis, é uma ajuda e tanto.

B. Piropo